Manifestos,
Trump, Aldir Blanc
Cesar Vanucci
“Aldir nunca foi menos do que ótimo e muitas vezes genial.”
(Luis Fernando
Veríssimo)
· Contingente apreciável
de cidadãos considera os manifestos bem mais eficazes do que as manifestações.
Vem daí, com certeza, a inspiração para as proclamações que têm sido trazidas
ao conhecimento da sociedade, contendo milhares de assinaturas, a cada dia acrescidas
de adesões, em defesa dos ideais democráticos, do respeito às instituições e da
liberdade de expressão em sua forma genuína. Revelou-se significativo e
bastante sintomático, do ponto de vista da pujança democrática reinante no
coração e na mente da grande maioria da população brasileira, o registro de que
essas declarações, em tom resoluto e respeitoso aos valores da cidadania, vêm
sendo – oportuno pontuar - compartilhadas ecumenicamente. Noutras palavras: os
signatários pertencem a todas as classes sociais, níveis culturais, inclinações
ideológicas. Deixadas de lado ocasionais divergências políticas, antagonismos
circunstanciais, confessam-se firmemente decididos a promover uma conjugação de
vontades poderosa em torno do fortalecimento dos princípios democráticos e
republicanos e do aprimoramento do processo civilizatório. Contrapõem-se, com
vigor, às ameaças de visibilidade atordoante ora confrontadas na cena
brasileira. Os manifestos têm sido, nalguns redutos, alvo de críticas. Por
exemplo, a liderança petista, representada pelo ex-presidente Lula, rotulou-os
impropriamente de movimentos ineficientes do tipo “Maria vai com as outras”...
Cabe, entretanto, enfatizando sua relevância na conjuntura política, recorrer a
uma sugestiva ilustração sobre os fundamentos de pluralismo democrático que os
rege. Tomemos um, entre muitos casos de convergência de opiniões ditada por
interesses mais elevados neste momento difícil atravessado pela Nação. Dois
famosos artistas, Caetano Veloso e Lobão, costumeiramente posicionados em
trincheiras ideológica opostas, apuseram, lado a lado, seus chamegões numa das
proclamações transmitidas em defesa da democracia. Estão vendo só?
· Com atos
inconsequentes repetitivos, o Presidente Donald Trump agrega, continuamente,
indicações que robustecem a teoria formulada publicamente por renomados
psiquiatras de seu país a respeito de sua sanidade mental. Como destacada em
ampla divulgação, os especialistas médicos garantem que o supremo mandatário
executivo da mais poderosa nação do mundo é doido de jogar pedra em avião. A
única dúvida que ficou é se ele lança a pedra a mão livre, ou se utiliza uma
atiradeira para o arremesso. Recentemente, o mundo inteiro tomou conhecimento,
perplexo e indignado, que o cidadão mencionado, detentor, pelo cargo que ocupa,
de poderes capazes de alterar o curso da civilização, autorizou a deportação de
quase uma centena de menores de idade que se achavam recolhidos, em situações
deploráveis, em centros de detenção reservados a imigrantes ilegais. Nos
numerosos protestos acolhidos pela mídia, foi assinalado que a estarrecedora
decisão não acusava precedentes na crônica histórica, pelo menos no pós segunda
guerra mundial. Noutra manifestação amalucada, pela televisão, milhões de
pessoas ouviram o cara sugerir, em plena pandemia, não se sabe ao certo se em
tom de descabido gracejo ou não, a possibilidade da ingestão de detergente para
combater eficientemente o coronavírus. Não deu outra: mais de meia centena de
criaturas psicologicamente debilitadas levaram ao pé da letra a “recomendação
do líder”, indo parar em unidades de saúde de emergência com graves
intoxicações. As informações relativas ao inusitado incidente cessaram nesse
ponto, não se sabendo dizer se algo pior aconteceu com qualquer uma das
vítimas...
· O jornalista Luis
Fernando Veríssimo, numa de suas apreciadas crônicas, aponta os versos que
considera os mais sugestivos do repertório do saudoso Aldir Blanc. Assinala que
ele, Aldir, nunca foi menos do que ótimo e muitas vezes genial. Sua predileção
é pelo final da melodia “Dois pra lá, dois pra cá”. Veja se concorda com
Veríssimo: “A tua mão no pescoço / as tuas costas macias / por quantas noites
rondaram / as minhas noites vazias... / No dedo um falso brilhante / brincos
iguais ao colar /e a ponta de um torturante band-aid no calcanhar.”
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