100 mil
Cesar
Vanucci
“O Brasil é um caso singular de fracasso no combate a
pandemia”.
(Esther
Dweck, Professora universitária)
Cem
mil. A esta altura, já bem mais que isso. Cifra atordoante. Machuca bastante
imaginar que muita coisa poderia ter sido feita, em termos de ação política e
administrativa, de modo a evitar que a questão assumisse feitio catastrófico.
O
negacionismo persistente, a ponto de causar forte irritação, por parte de
personagens institucionalmente investidos da indeclinável responsabilidade de
conduzir o processo de combate tenaz à pandemia, fez com que ela ganhasse
proporções calamitosas. É o que demonstra, irrefutavelmente, avaliações
comparativas entre o que está acontecendo por aqui e o que vem sucedendo
noutras paragens do mundo. Todas elas, igualmente, molestadas pelo vírus
impiedoso de origem misteriosa. Em matéria de vidas preciosas, aniquiladas em
curtíssimo espaço de tempo, o corona provocou “impacto Hiroshima” na história do
País.
Sem
que se possa enxergar ainda luz redentora no final do túnel, nessa avassaladora
progressão da enfermidade, as estatísticas continuam produzindo calafrios a
cada boletim noticioso. O contingente de vitimas fatais no território nacional
supera a população inteira de 95% dos municípios da Federação. Estamos
colocados em incômodo segundo lugar, com a “possibilidade” até de superar os
Estados Unidos, no macabro “ranking” de casos de contaminação e mortes. Naquele
país irmão são 4 milhões e 90 mil infectados e 162 mil óbitos. Aqui, 3 milhões,
15 mil pessoas contaminadas e, no momento em que estas linhas são digitadas,
quase 110 mil vítimas fatais. Índia (mais de um bilhão e duzentos milhões de habitantes), China (1,5
bi de habitantes), Rússia (população superior a do Brasil), México, Chile,
Peru, Inglaterra, Itália, França, Espanha, Irã, Japão, África do Sul, Canadá,
Argentina estão, citando exemplos, posicionados abaixo do Brasil na tétrica
marcha dos perturbadores algarismos.
Os
dados oficiais vindos a lume têm, volta e meia, suscitado de certo modo alguns
questionamentos. Analisando o quadro universal, há quem admita que Rússia e
China, por exemplo, camuflem a realidade, por conta usual de transparência
política. Estariam sonegando informações. O mesmo poderia estar ocorrendo
também com a China, com seu modelo fechado de governança.
Relativamente
ao próprio Brasil, aqui e ali espocam desconfianças quanto aos números
divulgados. Eles não expressariam a realidade nua e crua. Os jornalistas Fábio Dakabashi
e Flávia Faria, comentando os desnorteantes 100 mil, asseveram que o “marco alcançado
é relevante”. “Porém – acrescentam –, este marco é calcado em dados
imprecisos.” “Ele (marco) desperta a oportunidade de fazer um balanço da
extensão da doença, das ações de gestores e da população. Mas foi agora mesmo
que se chegou aos 100.000 mortos no Brasil? Categoricamente, não!”
Seja
como for, são fartas as evidências acumuladas, em observações aguçadas do
problema, das devastadoras consequências da pandemia no cenário nacional. As
circunstâncias de o número de habitantes em nosso país representar pouco mais
de 2,5% da população universal e de o número de mortos pela Covid-19 somar quase
15% dos casos fatídicos apontados nas estatísticas globais são revelações eloquentes
de que muita coisa vem funcionando de mal a pior no enfrentamento, nestes
nossos pagos, do flagelo que se abateu sobre a humanidade. As causas dessa colossal
encrenca político - administrativo têm “explicação”: inabilidade gerencial, autossuficiência
embriagante, negligência, despreparo gritante para exercício de liderança,
insensibilidade social. E por aí vai...
100.000
mortos. Já mais até do que isso. Não precisava ter sido assim! Teria bastado um
pouco de bom-senso, disposição para servir e sintonia verdadeira com o sentimento
nacional.
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