A palavra
dos Bispos
Cesar
Vanucci
“Todos
(...) seremos julgados pelas ações ou omissões.”
(Trecho de documento divulgado por quase duas
centenas de Bispos e Arcebispos da Igreja
Católica no Brasil)
Com
a clarividência que é de se esperar de uma liderança espiritual verdadeiramente
compromissada com sua nobre missão apostólica, centenas de Bispos, Arcebispos,
Cardeal entre eles, tornaram pública uma candente manifestação sobre a conjuntura
política e social brasileira. O documento, intitulado “Carta ao povo de Deus”,
começa por lembrar que nosso País atravessa um dos momentos mais difíceis de
sua história, vivendo “uma tempestade perfeita”.
A
tempestade, sustentam os Prelados, combina “uma crise sem precedentes na saúde”
e um “avassalador colapso na economia”, com tensões que pressionam “fundamentos
da República”, provocadas em grande medida pela equivocada atuação dos
governantes. Tudo isso – ressalta-se – conduz a uma profunda crise política e
de governança.
Sem
meias palavras, os signatários da Carta, quase duas centenas de dirigentes eclesiásticos
da Igreja Católica, asseveram que a avaliação do cenário político permite perceber,
sem paixões, com nitidez, “a incapacidade e a inabilidade do governo federal em
enfrentar essas crises.” “Assistimos sistematicamente – pontua-se no documento
– a discursos antidemocráticos, que tentam naturalizar ou normalizar o flagelo
dos milhares de mortos pela covid-19, tratando-o como fruto do acaso ou do
castigo divino.”
Os
dirigentes religiosos declaram-se sumamente preocupados, também, com “o caos
socioeconômico que se avizinha, trazendo desemprego e carestia, projetados para
os próximos meses, e os conchavos políticos que visam a manutenção do poder a
qualquer preço”. Afirmam, peremptoriamente, que os discurso e posicionamentos
adotados “não se baseiam nos princípios éticos e morais, tampouco suportam ser
confrontados com a tradição e a Doutrina Social da Igreja, no seguimento Àquele
que veio para que todos tenham vida e a tenham em abundância”.
Com
foco na necessidade urgente das reformas estruturais, os Bispos e Arcebispos
condenam as alterações promovidas na Previdência Social e legislação trabalhista.
Segundo alegam, ambas, “tidas como para melhorarem a vida dos mais pobres,
mostraram-se como armadilhas que precarizaram ainda mais a vida do povo.”
Enfatizando que o Brasil carece de reformas, explicam que as medidas almejadas
pela comunidade não poderão oferecer resultados que “piorem a vida dos pobres,
desprotejam vulneráveis”.
Criticam,
ainda, “a liberação do uso de agrotóxicos antes proibidos e o afrouxamento do
controle de desmatamentos”, atitudes que “não favorecem o bem comum e a paz
social”. O documento classifica de “insustentável uma economia que insiste no
neoliberalismo, que privilegia o monopólio de pequenos grupos poderosos em
detrimento da grande maioria da população”. O “sistema do atual governo” - diz
ainda o texto – não coloca no centro das cogitações a pessoa humana e o bem
geral, “mas a defesa intransigente da economia que mata, centrada no mercado e
no lucro a qualquer preço”.
O
pronunciamento menciona, também, que “o desprezo pela educação, cultura, saúde
e pela diplomacia” é de maneira a causar estarrecimento, ficando visíveis nas
demonstrações hostis à educação pública e no “apelo a ideias obscurantistas”.
Na
manifestação ganha destaque o que é classificado como “uso da religião para
manipular sentimentos e crenças, provocando tensões entre igrejas”.
“Ressalte-se o quanto é perniciosa toda associação entre religião e poder no
Estado laico, especialmente associação entre grupos religiosos fundamentalistas
e a manutenção do poder autoritário”, segue o documento.
Os
religiosos pedem serenidade, compreensão, disposição de luta a todos que detenham
influência nas decisões voltadas para a causa do desenvolvimento, no sentido de
contribuírem para a abertura de “um amplo diálogo nacional que envolva
humanistas, os comprometidos com a democracia, movimentos sociais, homens e
mulheres de boa vontade objetivando seja restabelecido o respeito à
Constituição Federal e ao Estado Democrático
de Direito.”
Sublinham,
por derradeiro, que “todos, pessoas e instituições, seremos julgados pelas
ações ou omissões neste momento tão grave e desafiador”.
Assim
falaram os Bispos. Com sabedoria traduziram, na “Carta ao Povo de Deus”, anseios
legítimos de segmentos majoritários da sociedade.
Um comentário:
Prezado César,
o triste é o outro lado da moeada, desse sestércio: a maioria dos nossos Bispos não assinou o documento, após cuja divulgação, verifiquei em páginas diocesanas do Estado de MG sem lograr encontrar uma única menção a esse mais que urgente e necessário clamor...
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