O vírus do racismo
Cesar
Vanucci
“O
racismo no Brasil é tão cruel, dói tanto, que tu te negas a falar dele.”
(Paulo Paim, Senador)
A
raça humana é uma só. Cor de pele é mero detalhe. Se negra, branca, amarela,
parda, rosada - em tons mais ou menos acentuados, consoante a diversidade
biológica natural – tudo isso, repita-se, não passa de detalhe. Assim como a
cor dos olhos, ou dos cabelos. Ou a estatura e o peso das pessoas.
A
raça humana é uma só. Em nada influem, para que essa verdade verdadeira deixe
de ser reconhecida, as circunstâncias de os indivíduos nascerem, ou viverem,
nessa ou naquela região específica deste planeta azul. Bem como as constatações
de que eles pratiquem cultos, cultivem hábitos e costumes, falem línguas e
enverguem trajes diferenciados, uns dos outros. A raça humana é única. A recusa
na aceitação plena desse preceito de vida universal, na efervescente convivência
social, gera uma aberração cruel e repulsiva chamada racismo. Um vírus que,
contaminando mundão de viventes por aí, produz enfermidades e mortes, escancara
instintos bestiais, alveja inclementemente a dignidade da vida. Faz, também,
com que humanistas da maior envergadura intelectual suscitem, por vezes,
dúvidas quanto à assertiva, sagrada para contingentes apreciáveis do mundo
civilizado, de que o homem é ser de luz moldado à imagem e semelhança de Deus.
O
racismo, com todo seu cortejo de horrores e injustiças, é antigo e universal.
Contribui significativamente para que se perpetue o dramático problema das
desigualdades. De visibilidade permanente nos atos cotidianos, a questão é
exposta com abundância de evidências em tudo quanto é pesquisa de comportamento,
seja aqui, seja alhures. Fixemo-nos na situação brasileira.
Cá
estão alguns indicadores sociais apontados em levantamento recente do IBGE.
Retratam com fidedignidade as cores da desigualdade, as notórias fragilidades
econômicas e sociais enfrentadas pela população negra.
1.Desemprego
e subocupação – pardos ou negros, 66 por cento; brancos, 33 por cento.
2.Rendimento médio mensal da mão de obra ocupada – R$2.796,00, brancos;
R$1.608,00, negros ou pardos. 3.Trabalho informal – 47%, pardos ou negros; 35%,
brancos. 4.Cargos gerenciais – 29,9%, pardos ou negros; 68,6%, brancos. 5.Hora
paga no mercado de trabalho para assalariados com diploma – R$33,00, brancos;
R$23,00, negros ou pardos. 6.Participação na vida política – negros e pardos
representam 24% dos quadros parlamentares formados nas eleições de 2018. É
oportuno lembrar que a população brasileira é composta, em mais de 55%, por
negros e pardos.
De
um trabalho jornalístico divulgado na “Folha de São Paulo”, edição de 19 de
julho, assinado por Érica Fraga, recolhemos informações que fluem no mesmo
sentido das revelações do IBGE. Mulheres brancas desfrutam de vantagens
salariais no confronto dos holerites com as trabalhadoras negras ou pardas. A
comparação, envolvendo profissionais da mesma faixa etária, mesmo grau de
escolaridade e mesmo lugar de residência, acusa diferença média mensal de
R$475,00. Mais um lance perturbador. A desigualdade, no tocante a rendimentos
femininos por conta da cor da pele, ao invés de cair, só vem fazendo crescer.
Em 2012, a diferença apurada era de 11,5% (ao contrário dos 14% de 2019),
equivalendo em valor a R$364,00, descontada a inflação do período. No caso
masculino, a diferença salarial é, na atualidade, de 13%, observadas as mesmas
circunstancias já pontuadas (faixa etária, escolaridade e mesma região
domiciliar). Esse percentual representa R$624,00 a menos na folha de pagamento
de negros ou pardos.
“O
racismo no Brasil é tão cruel, dói tanto, que tu te negas a falar dele”,
denuncia Paulo Paim, Senador gaúcho, uma rara presença negra na Casa,
acrescentando que o Congresso espelha a tremenda desigualdade racial, com
conotações sociais chocantes, existente no País.
Tudo
quanto aqui relatado, flagrantes de tormentosa questão que abarca facetas a
perderem de vista, deixa soltas no ar perguntas que colocam em desconforto a
consciência coletiva. Por quê pretos e pardos ganham menos que brancos? Por que
se lhes são destinados tão poucos cargos de chefia? Por quê, embora sejam 55,8%
da população brasileira, eles ocupam apenas 24,4% das cadeiras parlamentares?
Indagações embaraçosas, que nem essas, obviamente brotarão de quaisquer
análises a respeito das condições vivenciadas pela comunidade negra em matéria
de moradia, infraestrutura básica, educação, saúde etecetera e tal...
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