sábado, 12 de setembro de 2020


Hora da novela é sagrada

Cesar Vanucci

“Desde os áureos tempos da Rádio Nacional, da Rádio Tupi, da Mayrink Veiga, entre outras PREs, que as novelas mexem, pra valer, com a sensibilidade da gente do povo.”
(Antônio Luiz da Costa, educador)

· Conterrâneos, amigos desde os idos da meninice, Barcelos e Ascânio comunicam-se quase todos os dias, mode que manterem-se atualizados quanto aos assuntos cotidianos.
Nestes tempos de reclusão forçada, trocam sempre informações pelo telefone. Preenchem, assim, o hábito, de longos anos, do bate papo durante terapêuticas caminhadas matinais, por agora interrompidas. Barcelos estranhou bastante o recado do amigo, passado pela secretária, em resposta a uma chamada pelo celular. Ascânio, médico oftalmologista, mandou dizer que não poderia atendê-lo por estar “acompanhando no momento o parto da Filó”. Barcelos comentou: “Uai! Eu não fazia a mais leve ideia de que o Ascânio atuasse também na área da obstetrícia!”
Um dia depois, tudo acabou devidamente explicado. A “assistência ao parto da Filó” não foi de cunho profissional. Foi “assistência” na condição de telespectador. O companheiro médico havia se referido, na verdade, a lance “acontecido” numa novela, da Globo, de grande audiência, levada ao ar no final da tarde. Intitulada “Êta Mundo Bom!”, a novela foi relançada de forma condensada, cobrindo espaço na programação à vista da paralisação, por motivos conhecidos, das gravações no setor da teledramaturgia. Barcelos riu a bandeiras despregadas, passando adiante a amigos comuns, a “novidade” sobre a súbita conversão do amigo, nas lidas domésticas, ao papel de telenoveleiro.
Mas, como proclama a sabedoria das ruas, “nada como um dia após o outro”. Não é que, pouquíssimos dias transcorridos, a inesperada situação que suscitou gargalhadas se inverteu? Com os fraternais amigos jogando, como de costume, conversa fora via telefônica, chegou a vez de o médico surpreender-se com perguntas, fora do prosaico enredo do dia a dia, formuladas pelo colega Barcelos. Cá estão: “O que você acha que poderá acontecer com a Sandra e o Ernesto, no final da trama, a levar-se em conta as malvadezas praticadas contra a bondosa “tia” Anastácia e o ingênuo Candinho?” “Você acha que a Conegundes, vulgo “Boca de fogo”, permitirá que o Zé dos Porcos contraia matrimônio com a Mafalda, decifrando de vez, para a graciosa roceira, a charada do cegonho?”
Vamos reconhecer o óbvio. As fantasias que brotam das novelas mexem em cheio com a sensibilidade das pessoas. O confinamento provocado pela “gripezinha maligna” ajudou aumentar de forma impressionante o “ibope” da criativa dramaturgia televisiva. O que tem de cavalheiros, madames, mancebos e moçoilas a se refestelarem em poltronas, na “hora sagrada” da exibição do capítulo do dia, de olho grudado na telinha, acompanhando as peripécias do qualificado elenco de atores e atrizes “globais”, vou te contar!...
Cabe, a propósito, introduzir na conversa, aproveitando – isso mesmo! - um intervalo publicitário da divertida comédia em foco, uma sugestão endereçada aos encarregados da programação da emissora. Por que não se cogitar da volta, nos repetecos de “antigos sucessos”, de “Gabriela” e “O Bem Amado”. Os telespectadores de sempre, somados aos de agora agradecerão, penhorados, se isso acontecer. Podem crer.

Deu a doida (1). Deu a doida na telefonia móvel. Um monte de gente se queixando. Numerosas vezes por dia os celulares soam anunciando chamadas com os números de origem, naturalmente, registrados no visor. A pessoa chamada diz “alô”, repetidas vezes, encontrando silêncio como resposta. Resolve, então, retornar a ligação, para saber do que se trata. Uma voz metálica “explica”: “Este telefone não existe”. A agência reguladora dos serviços telefônicos precisa mandar averiguar que “diacho” de coisa é essa, dessas chamadas inoportunas, bastante numerosas, obviamente misteriosas, com números que ficam registrados, inclusive códigos de área, “mas não existem”...

· Deu a doida (2). Sinal desnorteante da confusão mental que grassa solta na praça: Na portaria de condomínio de luxo, a administração mandou afixar um aviso em letras garrafais. Diz o seguinte: “Parentes e conhecidos não são bem-vindos a este edifício”.

2 comentários:

Orlando de Almeida disse...

Bom dia amigo e mestre Cesar Vanucci

Escusado dizer que os chá russos não devem substituir jamais os nossos de hortelã, boldo e outros receitados desde os tempos de nossas bisavós e tomados até hoje.

Mais um brilhante texto.
Grande abraco

Orlando e Almeida

Mario Barros disse...

Caro Vanucci:
Onde falta a sensibilidade sobra a burrice e a insensatez. A infeliz recomendação de pretender impedir a entrada de parentes e amigos em um condominio, é de uma excrescência desmesurada. Conheço o imóvel e o mentor da malfadada orientação postada nos elevadores e quadros de aviso. Tirei foto para guardar como recordação de como não se deve proceder na vida social em comunidade.
Abraço,
Mário Barros

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