Hora da
novela é sagrada
Cesar
Vanucci
“Desde os
áureos tempos da Rádio Nacional, da Rádio Tupi, da Mayrink Veiga, entre outras
PREs, que as novelas mexem, pra valer, com a sensibilidade da gente do povo.”
(Antônio Luiz da Costa, educador)
· Conterrâneos, amigos
desde os idos da meninice, Barcelos e Ascânio comunicam-se quase todos os dias,
mode que manterem-se atualizados quanto aos assuntos cotidianos.
Nestes
tempos de reclusão forçada, trocam sempre informações pelo telefone. Preenchem,
assim, o hábito, de longos anos, do bate papo durante terapêuticas caminhadas
matinais, por agora interrompidas. Barcelos estranhou bastante o recado do
amigo, passado pela secretária, em resposta a uma chamada pelo celular.
Ascânio, médico oftalmologista, mandou dizer que não poderia atendê-lo por
estar “acompanhando no momento o parto da Filó”. Barcelos comentou: “Uai! Eu não
fazia a mais leve ideia de que o Ascânio atuasse também na área da
obstetrícia!”
Um
dia depois, tudo acabou devidamente explicado. A “assistência ao parto da Filó”
não foi de cunho profissional. Foi “assistência” na condição de telespectador.
O companheiro médico havia se referido, na verdade, a lance “acontecido” numa
novela, da Globo, de grande audiência, levada ao ar no final da tarde.
Intitulada “Êta Mundo Bom!”, a novela foi relançada de forma condensada,
cobrindo espaço na programação à vista da paralisação, por motivos conhecidos,
das gravações no setor da teledramaturgia. Barcelos riu a bandeiras
despregadas, passando adiante a amigos comuns, a “novidade” sobre a súbita
conversão do amigo, nas lidas domésticas, ao papel de telenoveleiro.
Mas,
como proclama a sabedoria das ruas, “nada como um dia após o outro”. Não é que,
pouquíssimos dias transcorridos, a inesperada situação que suscitou gargalhadas
se inverteu? Com os fraternais amigos jogando, como de costume, conversa fora
via telefônica, chegou a vez de o médico surpreender-se com perguntas, fora do
prosaico enredo do dia a dia, formuladas pelo colega Barcelos. Cá estão: “O que
você acha que poderá acontecer com a Sandra e o Ernesto, no final da trama, a
levar-se em conta as malvadezas praticadas contra a bondosa “tia” Anastácia e o
ingênuo Candinho?” “Você acha que a Conegundes, vulgo “Boca de fogo”, permitirá
que o Zé dos Porcos contraia matrimônio com a Mafalda, decifrando de vez, para
a graciosa roceira, a charada do cegonho?”
Vamos
reconhecer o óbvio. As fantasias que brotam das novelas mexem em cheio com a
sensibilidade das pessoas. O confinamento provocado pela “gripezinha maligna” ajudou
aumentar de forma impressionante o “ibope” da criativa dramaturgia televisiva.
O que tem de cavalheiros, madames, mancebos e moçoilas a se refestelarem em
poltronas, na “hora sagrada” da exibição do capítulo do dia, de olho grudado na
telinha, acompanhando as peripécias do qualificado elenco de atores e atrizes
“globais”, vou te contar!...
Cabe,
a propósito, introduzir na conversa, aproveitando – isso mesmo! - um intervalo
publicitário da divertida comédia em foco, uma sugestão endereçada aos
encarregados da programação da emissora. Por que não se cogitar da volta, nos
repetecos de “antigos sucessos”, de “Gabriela” e “O Bem Amado”. Os
telespectadores de sempre, somados aos de agora agradecerão, penhorados, se
isso acontecer. Podem crer.
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Deu
a doida (1). Deu a doida na telefonia móvel. Um monte de gente se
queixando. Numerosas vezes por dia os celulares soam anunciando chamadas com os
números de origem, naturalmente, registrados no visor. A pessoa chamada diz “alô”,
repetidas vezes, encontrando silêncio como resposta. Resolve, então, retornar a
ligação, para saber do que se trata. Uma voz metálica “explica”: “Este telefone
não existe”. A agência reguladora dos serviços telefônicos precisa mandar
averiguar que “diacho” de coisa é essa, dessas chamadas inoportunas, bastante
numerosas, obviamente misteriosas, com números que ficam registrados, inclusive
códigos de área, “mas não existem”...
· Deu a doida (2). Sinal desnorteante
da confusão mental que grassa solta na praça: Na portaria de condomínio de
luxo, a administração mandou afixar um aviso em letras garrafais. Diz o
seguinte: “Parentes e conhecidos não são bem-vindos a este edifício”.
2 comentários:
Bom dia amigo e mestre Cesar Vanucci
Escusado dizer que os chá russos não devem substituir jamais os nossos de hortelã, boldo e outros receitados desde os tempos de nossas bisavós e tomados até hoje.
Mais um brilhante texto.
Grande abraco
Orlando e Almeida
Caro Vanucci:
Onde falta a sensibilidade sobra a burrice e a insensatez. A infeliz recomendação de pretender impedir a entrada de parentes e amigos em um condominio, é de uma excrescência desmesurada. Conheço o imóvel e o mentor da malfadada orientação postada nos elevadores e quadros de aviso. Tirei foto para guardar como recordação de como não se deve proceder na vida social em comunidade.
Abraço,
Mário Barros
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