Antes
da vacina chegar
Cesar Vanucci
“O ideal seria contar com um antivírus
especifico,
com alta eficácia, como as drogas para Aids.”
(Dráuzio
Varela, em entrevista a Mino Carta)
Dráuzio
Varela, aclamado cientista brasileiro, de renome internacional, inspira-se nos
bons resultados alcançados no combate à Aids para apostar na pesquisa com o
retrovírus no enfrentamento da Covid-19. Ele acredita que um coquetel de drogas
pode surtir efeitos positivos, enquanto a vacina não chega. Explica seu ponto
de vista em momentosa entrevista concedida a Mino Carta, um dos mais influentes
jornalistas do país, diretor da apreciada revista “CartaCapital”. Da
entrevista, estampada na edição de 23 de setembro último, tomo a liberdade de reproduzir,
na sequência, alguns trechos significativos.
O
entrevistador indaga: “A esperança do mundo concentra-se na vacina. É esta a
solução?” Dráuzio responde: “Não é uma solução milagrosa, primeiro a vacina vai
proteger 98 por cento dos infectados? Nenhum cientista diz isso. Quem tomar a
vacina vai ter uma resposta duradoura? A gente também não sabe. Sabemos, isto
sim, que a vacina ítalo-inglesa, que está sendo produzida em Oxford e
comercializada pela AstraZeneca, vai precisar de duas doses. A vacina da
Cynovac, que está sendo testada pelo grupo do Butantã, também vai precisar de
duas doses. Será que a imunidade vai ser suficiente para proteger a gente por
anos? Nós não sabemos. A vacina da gripe, por exemplo, tem de ser tomada todos
os anos. Eu acredito haver uma alternativa para desenvolvimento de uma
substância antiviral. Está claro que não é a cloroquina. Ao contrair uma gripe
comum, você começa o dia com o corpo meio quebrado, meio cansado, no outro dia
você está com febre, que pode ser alta, coriza, dores no corpo. Em 24, 48
horas, desenvolvemos a gripe. Mas com essa doença não. Com essa doença a pessoa
pega o vírus. Qual é o sintoma? Você vai tomar café e não sente o perfume, fica
um pouco enjoado, mas a primeira semana decorre mais ou menos normalmente, nos primeiros
dias, a pessoa tem sintomas gripais muito leves até. Depois do quinto, sexto,
sétimo dia, ela piora, abre-se então uma janela de tratamento. O ideal seria
contar com um antivírus especifico, com alta eficácia, como temos as drogas
para Aids. Diziam que para Aids era impossível conseguir e hoje você pega uma
pessoa HIV positivo, toma a medicação e o paciente vive 20 anos sem manifestar
a doença. Nós temos drogas altamente eficazes de alta potência contra o HIV, então
por que não podem desenvolver outras contra o coronavírus?”
Adiante,
Dráuzio Varela responde assim à pergunta “E que dizer da segunda onda que
ocorre em muitos países?”: “Olha, eu tenho muita dificuldade em aceitar essa
chamada segunda onda como uma entidade separada da primeira. Acho que, na
verdade, os países estão vivendo a mesma onda que começou lá atrás e tem
períodos de calmaria. A partir do momento que as pessoas começam a se movimentar
e a se aglomerar, a doença volta a atacar mais gente. Também acho que há uma
onda única que responde às aglomerações, aumentando o número de casos e
infecções. Se fazem isolamentos, caem os níveis de infecções e de casos
confirmados. O exemplo de Israel é bem típico, lá eles voltaram ao lockdown completo porque os casos estão
aumentando, como estão aumentando também na Espanha e na França. Aquela ideia
de que teríamos um pico e do pico os casos cairiam rapidamente, e pronto,
estaríamos livres. Com a gripe espanhola foi assim, ela chegou dizimando
populações. Em dois meses, no surto de 18, a doença foi embora. Isso porque a
gripe infectou uma massa muito grande e aí passa a ter essa imunidade coletiva
mais depressa. Mas com o coronavírus não vai ser assim, as infecções podem
seguir persistindo.”
A
entrevista é longa e rica em considerações sobre questões de saúde pública.
Dráuzio Varela afiança existirem motivos de sobra para os brasileiros se
sentirem “orgulhosos de nosso Sistema Único de Saúde (SUS)”. Lembra que, no
mundo inteiro, “nenhum país, com mais de 100 milhões de habitantes, ousou
oferecer saúde pública para todos”.
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