sexta-feira, 25 de dezembro de 2020

 

Natal nas vozes dos trovadores

 (Este artigo, publicado no ano passado nos jornais com os quais colaboro, está sendo reproduzido no “Blog do Vanucci”, não só pela temática abordada, como também em homenagem aos autores dos versos estampados)

 Cesar Vanucci

 “Não tendo Cristo por centro, / torna-se festa banal: /

Quem não renasce por dentro/não comemora o Natal!

(Lacy José Raymundi)


A celebração natalina deste ano na Academia Municipalista de Letras de Minas Gerais correu por conta dos poetas. Em concorrida assembleia, de envolvente conteúdo humanístico, entremeada de belas interpretações musicais, os acadêmicos se revezaram na tribuna narrando sugestivos casos, declamando poemas e trovas, comentando candentes temas da atualidade tomando como mote a mensagem de fraternidade que a data máxima da cristandade inspira.

A programação cumprida, sob a competente coordenação das acadêmicas Maria Armanda Capelão, Maria Inês Chaves de Andrade e Tânia Mara Costa Leite, contou com participação ativa, entre outros, dos acadêmicos Elizabeth Rennó, Luiz Carlos Abritta, Auxiliadora de Carvalho e Lago, João Quintino, Maria Inês Marreco, Marilene Guzzela, José Alberto Barreto, Ângela Togeiro, Andrea Donadon Leal, Benedito Donadon Leal, Francisco Vieira Chagas, Gabriel Bicalho, Lucilia Cândida Sobrinho, Ismaília de Moura Nunes, Almira Guaracy Rebelo, Marzo Sette Torres, Altair Pinho, Sidnéia Nunes Guimarães e Maria de Lourdes Rabelo Villares. Exemplares de publicações contendo poemas e crônicas alusivos ao tema da comemoração, de autoria de associados da Amulmig, foram oferecidos aos presentes na conhecida por Casa de JK.

As trovas natalinas vindas na sequência foram selecionadas por Luiz Carlos Abritta, presidente emérito da instituição, para leitura durante os trabalhos. Reproduzo-as aqui como um brinde aos leitores, ao desejar-lhes um Feliz Natal, cheio de amor e de paz.

- Foi na tal estrebaria, / simples, mas cheia de luz, / que nossa doce Maria / teve seu filho Jesus. (Luiz Carlos Abritta)

- Uma estrela, cintilando, / pára, junto à estrebaria. / Maria reza chorando, / enquanto Jesus sorria. (Maria Natalina Jardim)

- No presépio natalino, / Mãe Maria e São José/contemplam Jesus Menino, / orando plenos de fé. (Conceição Piló)

- Vista o manto que lhe cobre/neste Natal, meu Jesus, / em toda criança pobre/e encha seu mundo de Luz! (Ivone Taglialegna Prado)

- De barro, um presépio lindo: / Maria de Nazaré / e um meigo Jesus dormindo/no colo de São José. (Conceição Almeida)

- Foge de mim a esperança/da estrela que apaga a luz, / ao lembrar que uma criança / tem, no destino, uma cruz! (Maria Dolores Paixão Lopes)

- Ao doce planger do sino, / na alegria triunfal, / recebamos Deus-Menino / nestas festas de Natal. (Felisbino Cassimiro Ribeiro)

- Vendo o mundo se prender/nas teias da insegurança, / o Natal nos vem trazer/o milagre da esperança! (Almira Guaracy Rebêlo)

- Com seu infinito amor, / o grande Deus me proteja. / E que o Natal do Senhor / faça, de mim, Templo e Igreja. (Célia Maria Barbosa Rodrigues)

- Aproxima-se o Natal. / Tocam sinos. Quanta luz! / Em cada lar há sinal/da presença de Jesus! (Edmilson Ferreira Macedo)

- A maior festa do mundo, / de âmbito universal, / tem um sentido profundo/nos festejos de Natal. (Geraldo Tavares Simões)

- Meu Natal não tem presente, / ceia farta, cores, luz.. / Meu Natal é diferente:/meu Natal só tem Jesus. (João Quintino da Silva)

- As coisas simples, modestas, / encerram saber profundo. / Nasceu sem plumas e festas/o maior Homem do mundo. (Lucy Sother Rocha)

- Belo Natal se aproxima, / vem trazendo ao mundo a Luz. / Sigo, olhando para cima, / o Evangelho de Jesus. (Auxiliadora de Carvalho e Lago)

- Surge, ao longo dos meus dias, / Natal em cada segundo, / quando misturo alegrias/na esperança do meu mundo. (Rosa de Souza Soares)

- Que esta data abençoada /- é um desejo verdadeiro -/fique em nossa alma gravada, / seja Natal o ano inteiro! (Thereza Costa Val)

- Se todo o povo, irmanado, / em Cristianismo real, / amasse o irmão desprezado.../Seria sempre Natal! (Conceição Parreiras Abritta)

- Natal! Tantos já partiram, / deixando em silêncio a sala.../Quietos velhinhos suspiram, / só a saudade é quem fala. (Eva Reis)

- Estamos, Maria e eu, / comunicando a vocês:/nosso Menino nasceu. / Nós, agora... somos três. (Lucy Sother Rocha)

- Papai Noel, vê se faz/do Natal um baluarte:/erga a “Bandeira da Paz”, / gravando “AMOR” no estandarte! (Ivone Taglialegna Prado)

- Natal trouxe vida nova/aos homens... novo destino, / a esperança se renova/junto ao berço de um Menino. (Zeni de Barros Lana)

- Diante o presépio, encantado, / vendo Jesus que dormia, / um menino, esfarrapado, / embevecido, sorria. (Conceição Parreiras Abritta)

- Um desejo verdadeiro/haja, entre nós, afinal:/ter no peito, o ano inteiro, / sentimento de Natal! (Thereza Costa Val).

  

Perenidade da mensagem

 

Cesar Vannuci

 

“A tua religião, oh Rabi,

cura as minhas feridas?”

(Verso de um poema de Lauro Fontoura, onde

criança enferma dirige uma pergunta ao Mestre)

 

“Galileia. / O luar põe alegorias brancas nos cabelos do mestre. / A noite desce como uma benção. / Para os lados de Hebron, / sob o céu límpido, / a distância se afuma num fundo bíblico de searas. / Cristo apanha a seus pés uma criança leprosa, /ergue-a à altura da sua fronte / e beija-lhe a boca. / O pequeno, levantando as pálpebras ingênuas / e pousando o olhar triste / na doçura doirada dos olhos divinos / perguntou: - ‘A tua religião, oh Rabi, cura as minhas feridas?’”

 

Estes primorosos versos, trecho introdutório do poema “Hóstias de Luz”, são de Lauro Savastana Fontoura. Um humanista da melhor linhagem. Causídico renomado, primeiro diretor da Faculdade de Direito do Triângulo Mineiro, advogado geral do Estado, desembargador do Tribunal de Justiça MG, personagem político com ativa participação nas lidas públicas, deixou vestígios marcantes de sua passagem pela pátria dos homens.

 

A narrativa poética com que nos brinda fala de temas que abastecem de sublime encantamento a aventura humana. Fala de misericórdia, compaixão, solidariedade, esperança e amor. Expressões que compõem o pujante e terno vocabulário natalino em todas as latitudes, idiomas e hábitos culturais. Mas, bem mais do que isso, sinalizam roteiro ideal, a ser obstinadamente trilhado por mulheres e homens de boa vontade, na caminhada civilizatória que dá sentido à vida.

 

“Sentido da vida”: A expressão reclama a entrada em cena de um outro poeta. Raul de Leoni. Pertencem a Raul de Leoni, em “Luz Mediterrânea”, esses outros magistrais e líricos conceitos: “O sentido da vida / e o seu arcano / é a aspiração de ser divino, / no prazer de ser humano.”

 

Tudo quanto posto concede-nos a esplêndida chance de projetar-nos a patamares superiores no entendimento e verdadeira compreensão de algo transcendental.  Trata-se da mensagem vinda do fundo e do alto dos tempos, sempre com ênfase ampliada na festa maior do calendário universal. Ao recomendar a prática permanente da misericórdia, da compaixão, da solidariedade, da esperança, do amor, esta mensagem, de serena e inteiriça beleza, lembra a impostergável necessidade, de premente urgência – não fica nada demais a pleonástica enfatização -, de nos colocarmos, todos os seres humanos, de modo intenso, a serviço de um projeto social, de cunho humanístico e espiritual, que seja capaz de reconectar o mundo com sua humanidade. Noutras palavras: fazer com que o labor humano concentre ações prioritárias em prol da erradicação das clamorosas desigualdades sociais. Em prol da abolição das guerras “abominadas pelas mães”, como anota Horácio. Em prol da extirpação da pobreza aviltante, dos preconceitos odiosos, em suas múltiplas e atordoantes modalidades. Em prol da eliminação de tudo aquilo que possa alvejar a paz e o bem-estar social, conceitos de vida que fazem parte dos ardentes anseios dos corações fervorosos.

 

A sociedade humana dispõe – visto está - de talento, engenhosidade, criatividade, recursos naturais prodigiosos, tecnologias fabulosas, tudo em superabundância, dependendo de vontade política, sensibilidade social, espírito de justiça, para direcionar tudo isso em favor de empreendimentos que contribuam para estruturação de uma história humana ancorada no bem-estar coletivo e na justiça social, numa civilização fraterna, onde prevaleçam em plenitude condições propicias para cura de todas as feridas abertas que hoje laceram, mundo afora, o tecido social.

 

A mensagem transmitida, há 2020 anos, na Galileia, pelo Ser inigualável, de luminosidade suprema, da devoção universal, descrito nas narrativas sagradas não perdeu nem tampouco perderá jamais sua absoluta perenidade como completo, perfeito e definitivo instrumento de cura para todos os males. Para todas as feridas.

 

Aos caríssimos leitores, os votos de um Feliz Natal!

 

Um comentário:

Unknown disse...

Que maravilha essas trovas iluminadas que lembram, cada uma, uma perspectiva com que se pode ler o mistério do Natal.

Parabéns a todos os trovadores. Que seja sempre uma bênção as reuniões da Amulmig, que tão bem ajudam a desprender-se dos meros caminhos do chão e a alçar voos por regiões de beleza, comunhão e sacralidade.

Aproveito para convidar a todos para visitar na Paróquia Santo Antônio da Contorno a Casa da Luz. Trata-se de uma mostra reunindo paineis sobre os principais fatos relacionados ao mistério da Encarnação de Deus Filho. Permite uma imersão na história desses fatos e, ao mesmo tempo, convida a uma imersão interior, a um movimento de introspecção, que favorece a leitura de nossa própria vida a partir da leitura do Natal.

Será um prazer recebê-los. Nesta terça e quarta-feira, de 8 às 16h30, na casa paroquial ao lado da Igreja Santo Antônio, na Av. do Contorno 6776.

A SAGA LANDELL MOURA

Desigualdade gera fome e pobreza

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