O segundo americano provou o gosto do
espaço. Comeu nuvens e bebeu imponderabilidade, rompeu barreiras num pegador
estratosférico capaz de desafiar qualquer perseguidor e ganhar um pique entre
as estrelas. O apetite astral aumenta.
Não se pode evitar uma sensação de
vertigem ao situar-se os astronautas na escuridão de um cosmo sem vida ou
aeroporto aparente. Não se pode evitar um tremor de expectativa.
E cada vez eles sobem mais. E, cada
vez mais, abraçam um céu sem medida e sem portos: vazio, preto, indefinido.
A humanidade sente que por mais que o
medo de alguns cresça ante as portas do infinito, jamais forçadas, outros
estarão a postos, rompendo fronteiras a caminho da Lua, de Marte, sabe Deus
onde ainda.
Quanto mais eles sobem, mais nos
curvamos sobre esta Terra, hoje papável grão de areia nesse universo de
estrelas.
Sobem russos e sobem americanos.
Trazem filmes, ruídos, medidas e condições atmosféricas. Só não trouxeram
ainda o que está acima, abaixo e em todas as rotas por onde têm
andado. A presença daquele que vai dentro e fora dos foguetes; a
verdade, a mansidão e a paz que flutuam além de todas as metas humanas.
Um passeio à Lua não devia ser um
escotismo celeste ou uma viagem de turismo, mas o caminho de meditação e
compreensão de uma grandeza maior do que as atômicas descobertas; um sentimento
de humanidade mais proveitoso e profundo do que tratados feitos e desfeitos,
uma fonte de amor mais intensa do que a propalada boa-vontade das grandes nações.
Afinal, se o homem resolveu dessecar
o universo, que seja esta, ao menos, uma operação de AMOR.
(Texto extraído do livro de crônicas
de Célia Laborne, LUZ SOBRE O MAR, editado em 1969)
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