quinta-feira, 20 de maio de 2021

 

Negacionista-padrão

 

Cesar Vanucci


“O negacionismo obsedante é refúgio do despreparo intelectual somado à fanatice”.

(Antônio Luiz da Costa, educador)

 

Rozendo Pelópidas do Abaeté, negacionista juramentado, diria o prefeito Odorico Paraguassu. Abastado homem de negócios, chefe político influente e temido na região de Riacho das Roseiras. Gaba-se de ser proprietário de fazenda com mais léguas de comprimento do que o Principado de Andorra. Adepto ardoroso das teses do talebanismo tupiniquim, acompanha freneticamente, nas redes sociais, as postagens divulgadas por robôs, mecânicos ou humanos. Aceita a teoria da “Terra plana”. Acrescenta, convicto, que a “terra plana é quadrada e fixa”, possuindo nas extremidades, “mode que impedir as pessoas caírem num vazio sem fim”, uma cerca invisível formada de “ondas magnéticas provindas do sol, lua e estrelas em seu contínuo giro ao redor de nosso planeta”. Em sua opinião, “essas histórias de racismo e efeito estufa são coisas de ONGs infestadas de subversivos e maricas”.

Acha que a Covid-19 é “uma guerra bacteriológica contra os valores da civilização”. Tem plena certeza de que as estatísticas do consórcio dos meios de comunicação “são falsas e atendem a interesses escusos”. Considera Trump “o maior estadista do mundo”. “Ele foi garfado na eleição”, afirma, esbravejante. Sustenta que “a mídia mundial está a serviço da subversão”. Confessa-se católico praticante, mas se opõe aos “atos e falas desse Papa argentino”. “Ele carece de ler o catecismo”, anota, um tanto irado. “Para o bem geral da Nação, o Congresso e o STF deveriam ser fechados”. “Para fazer isso basta um cabo e um soldado, como já declarou um ilustrado parlamentar” exclama, em tom entre exultante e raivoso. Aplaude “a salutar e oportuna campanha pelo voto impresso”, observando, todavia, que “muito melhor mesmo seria a adoção do voto a bico de pena”. É contrário à reclusão social e à vacinação, lembrando que “existem preparados medicamentosos altamente eficazes pra extirpar a praga”. Entrou em atrito com filho, farmacêutico, e a nora, médica, pelo fato de haverem, sem seu consentimento, tomado vacina. Mandou dizer a ambos que só voltem a pôr os pés em sua residência depois de realizarem “todos os exames de tomografia e raio X que permitam a localização e a retirada dos chips que alteram o comportamento e até fazem brotar nos braços e pernas fibras escamosas”. Rozendo Pelópidas do Abaeté, negacionista juramentado.

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