Quebra
de patente, voto eletrônico
Cesar
Vanucci
“Biden apoiar quebra de patentes de vacina é
'monumental'”.
(Tedros
Adhanom, diretor-geral da OMS)
Um
disparo verbal impecável. O (em boa hora) sucessor do golpista Donald Trump na
Casa Branca, Joe Biden, acertou em cheio na mosca. O anúncio de sua disposição
em quebrar patentes das vacinas e, obviamente, de algum futuro medicamento que
se revele eficaz contra o coronavírus, deixou visíveis a sensibilidade social e
a sabedoria política de um estadista. Ou seja, um dirigente político de
projeção mundial afinado com as linhas do pensamento mais evoluído do seu
tempo.
Sensibilidade
e sabedoria representam atributos que andam um tanto quanto escassos na
paisagem em que se movimentam as grandes lideranças mundiais contemporâneas,
com suas reiteradas demonstrações de desatenção aos clamores das coletividades.
A quebra de patentes de fórmulas de remédios que proporcionam benefícios aos
seres humanos alvejados por enfermidades pertinazes não responde,
certeiramente, às conveniências mercadológicas da poderosa indústria
farmacêutica. Mas, com toda certeza, atende exemplarmente ao bem comum, ao
bem-estar humano. Essa constatação remete-nos, uma vez mais, a precioso ditame,
de cunho humanístico, crucial na caminhada civilizatória. A economia não é um
fim em si mesma. É, sim, como outros instrumentos relevantes e necessários à
causa do desenvolvimento – exemplificando: a educação e a tecnologia -, um meio
eficiente para se atingir um fim, um fim sempre social. O ser humano é que
importa. É para seu bem-estar que devem convergir todos os recursos advindos do
labor e da inteligência. A quebra de patentes se afigura possível e desejável
quando se está em jogo, como valor supremo inconteste, o interesse popular. Tem
sido utilizada com parcimônia, no modo de ver de humanistas, de analistas e
estudiosos da problemática social que se batem por estruturas de vida mais
justas e consentâneas com os direitos essenciais dos cidadãos.
Com
relação ao momentoso assunto, cabe assinalar que mais de uma centena de
governantes (com o Brasil, estranhavelmente, na contramão da proposta de
Biden), já expressaram apoio à iniciativa. Seja frisado que a primeira
manifestação favorável a se fazer ouvir foi a de Francisco, o Papa providencial
colocado à frente dos destinos da Igreja. Seja também recordado que no governo
Fernando Henrique Cardoso, o Ministério da Saúde, que tinha como titular o
ex-governador de São Paulo José Serra, em ato que arrancou louvores mundiais,
quebrou a patente de remédios apontados como indispensáveis no enfrentamento da
Aids.
A
decisão do presidente dos Estados Unidos será, em breve, auspiciosa realidade.
O bom-senso haverá de prevalecer.
●
O sistema eletrônico de votação e apuração de votos do Brasil é considerado, universalmente
modelar. Isso foi relembrado enfaticamente, na semana passada, diante da
circunstância de estar transcorrendo um quarto de século de sua implantação. Reconhecidamente
invulnerável a qualquer manobra ardilosa que possa macular resultados, ele
traduz com exatidão a vontade popular manifestada nas cabines de votação. Em várias
partes do mundo, a engenhosa experiência brasileira é hoje utilizada, com o
mesmo exitoso resultado. Isto posto, é de molde a causar espanto, bastante
espanto, algumas manifestações soltas na praça, ultimamente, no sentido de se
substituir o sistema eleitoral eletrônico pelo sistema da votação com cédulas,
utilizado com apreensões e ressalvas noutros tempos. Essa extemporânea e esdrúxula
proposta é originária, ao que tudo indica, de minoritários grupos políticos de
configuração fundamentalista, sabe-se lá com que soturnos intuitos. Não é
improvável que, entre os partidários da ideia, haja até quem se disponha a defender
a substituição da votação eletrônica pelo voto a bico de pena...
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