sábado, 17 de julho de 2021

 Pandemia, desemprego, Copa

 

Cesar Vanucci

 

“Programa oficializa corte de salários e jornadas.”

(Noticiário dos jornais)

 

• Oferecemos abaixo uma resenha fidedigna dos traumatizantes acontecimentos vividos pela Nação em consequência da pandemia. Algo fadado a ser uma dolorida tragédia, com considerável número de vítimas, acabou se tornando uma catástrofe de medonhas proporções, com inimaginável volume de vidas ceifadas, sendo que parte delas, segundo avaliações de acatados cientistas, poderia, perfeitamente, ter sido poupada. E tudo isso - minha Nossa! - por conta de erros crassos, verdadeira lambança cometidos pelos setores competentes na esfera oficial. Na lida da questão faltou liderança, faltou coordenação, faltou planejamento. Sobrou despreparo gerencial. Sobraram ações e omissões clamorosas. O combate ao flagelo, notoriamente deficiente, revelador de despreparo gerencial, começou tarde demais. A vacinação, vagarosa, também começou muito depois da hora recomendada. O negacionismo científico levou a estripulias sem conta nas decisões relevantes no combate ao mal. A ausência de bom senso e as interpretações equivocadas de fatos sociais e políticos, por parte de grupos ideológicos de feição radical, com influência descabida nas definições sobre as diretrizes a serem seguidas, representam outros sinais perturbadores identificados na condução do processo de combate ao coronavírus. A CPI do Senado está trazendo a lume estarrecedoras revelações. Até mesmo indícios chocantes de corrupção na compra de vacinas.

Enquanto tudo isso se desenrola, milhares de famílias pranteiam seus mortos queridos e assistem com cuidados especiais seus enfermos sequelados. Tudo isso brada aos céus!

 

O IBGE aponta um novo (indesejável) recorde brasileiro: o desemprego chegou a quase 15 por cento da população ativa. Empregando expressão repleta de significados no linguajar das ruas, nutro temores de que o buraco seja ainda mais embaixo... O atordoante índice contempla pessoal que deixou de fazer jus, como comumente se diz, a “carteira assinada”. A esse expressivo contingente há que se agregar a multidão dos que atuavam, até bem pouco tempo, na informalidade e que perderam, nesta hora sombria, sua capacidade aquisitiva. Tem mais: e a rapaziada que, deixando os estudos básicos, emerge para o mercado de trabalho e que experimenta malogro na conquista do primeiro emprego? A dramaticidade da situação social, vigorante neste país das oportunidades desperdiçadas, toma extensão ainda mais avultada quando se tem em mira a injustificável ausência de projetos de desenvolvimento capazes de absorver parcelas significantes da mão de obra disponível. E, além do mais, pra piorar as coisas, quando surge desassossegante anúncio acerca da disposição governamental em tornar definitiva a política de redução de salários e de jornada. E o que não dizer, dentro dessa mesma linha de raciocínio, das aflições geradas nos lares pela incessante (e incontrolável) alta dos preços de produtos de consumo, processada debaixo da indiferença glacial dos órgãos oficiais reguladores?

 

• A história é tão intrigante que merece ser novamente comentada. Entre as manifestações populares de desagrado com relação ao estado de coisas caótico reinante no país, chama atenção, por sua singularidade, o deliberado desinteresse dos cidadãos pela Copa América, torneio, ao que consta, em curso nos gramados de algumas capitais. Ninguém comenta partida ou lance algum dos jogos, que reúnem seleções da América do Sul, três delas detentoras de títulos mundiais. Imaginar que algo desse gênero pudesse algum dia ocorrer num país onde a paixão pelo futebol começa, por assim dizer, com “embaixadinhas” dos bebês nos ventres maternos, é de um surrealismo desnorteante. A propósito, o leitor aí, apaixonado pelo esporte das multidões, sabe dizer qual foi mesmo o resultado do último jogo da seleção canarinho?    

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