Controvérsia
em torno de um texto
Cesar Vanucci
“Morre lentamente (...) quem não encontra graça em si
mesmo”
(Dizeres atribuídos ao
poeta Pablo Neruda)
Desfazendo-me,
indoutrodia, de guardados impressos acumulados durante décadas, deparei-me com
um envelope branco, amarelecido pelo tempo, contendo um texto atribuído a Pablo
Neruda. Fixei-me no propósito de passá-lo adiante, neste “minifúndio de papel”
(como diria o saudoso Roberto Drummond), levando em conta seus sugestivos
conceitos. Surpreendeu-me a revelação de minha prestimosa secretária, Clelia,
de que na manhã do mesmo dia, coincidentemente, havia lido na internet o mesmo
texto, com comentários controversos no tocante à autoria. Os dizeres que
chamaram atenção não seriam do poeta chileno, mas sim de Martha Medeiros,
escritora brasileira, tendo sido divulgados em 2009. A indicação do ano
deixou-me mais intrigado ainda, face à circunstancia de que o impresso retirado
da gaveta do armário, posso garantir, é anterior em muito ao ano citado.
Inteirei-me, depois, que nas redes sociais existem versões diferenciadas da
composição literária em causa.
De
qualquer forma, tomei a deliberação de divulgar o texto, alimentando a
expectativa de que algum leitor possa juntar esclarecimento ao caso. Cá está o
texto.
"Morre lentamente quem não viaja/ quem não lê/ quem não
ouve música/ quem não encontra graça em si mesmo./ Morre lentamente quem
destrói seu amor próprio,/ quem não se deixa ajudar.../ Morre lentamente quem
se transforma em escravo do hábito,/ repetindo todos os dias os mesmos trajetos,/
quem não muda de marca,/ não se arrisca vestir uma nova cor/ ou não conversa
com quem não conhece./ Morre lentamente quem faz da televisão o seu guru./ Morre lentamente quem evita uma
paixão,/ quem prefere o negro sobre o
branco no trajar/ e os pontos sobre os “is”, em detrimento de um redemoinho de
emoções,/ justamente as que resgatem o brilho dos olhos, sorriso dos bocejos,
corações aos tropeços e sentimentos./ Morre lentamente quem não vira a mesa quando
está infeliz com o seu trabalho,/ quem não se permite, pelo menos uma vez na
vida, fugir dos conselhos sensatos./ Morre lentamente quem passa os dias
queixando-se da sua má sorte/ ou da chuva incessante./ Morre lentamente quem
abandona um projeto antes de iniciá-lo,/ não pergunta sobre um assunto que
desconhece,/ ou não responde quando lhe indagam sobre algo que sabe./ Evitemos
a morte em doses suaves, / recordando que estar vivo exige um esforço muito
maior que o simples fato de respirar...”
E aí?
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