Tudo
isso acontecendo
Cesar Vanucci
“Além da majoração da tarifa, pode vir racionamento.”
(Agência Nacional de
Energia Elétrica)
Flagelo pandêmico com
tétricas estatísticas. Estagnação econômica com inquietantes desdobramentos.
Crise hídrica preocupante. Elevação contundente dos índices de desigualdade.
Aumento alarmante da pobreza absoluta. Custo de vida em cumes everestianos. Inflação
fora de controle. Revelações chocantes da CPI do Senado. Quase duas dezenas de
milhões de desempregados. Multidão em “situação de rua”. Agressões ao meio
ambiente em proporções descomunais. Tudo isso explodindo a um só tempo num país
dotado de incomparável potencial de riquezas, mas insensatamente desprovido de
projetos de desenvolvimento econômico e social, de planos de ação para
enfrentamento adequado dos problemas tormentosos que o afligem, enquanto o
Governo insiste em manter, obsedantemente, suas atenções e esforços fixados, na
contramão da história, no objetivo de
substituir o modelar sistema eleitoral vigente pelo anacronimo esquema do voto
impresso. Muita gente sustenta, com convicção, que toda essa frenética agitação
política, eivada de intimidações e ameaças antidemocráticas, esteja sendo
desencadeada como “cortina de fumaça” para desviar os olhares da sociedade dos
clamorosos despreparo, omissões e insuficiências, detectados na gestão pública
com relação às magnas questões que entravam o crescimento nacional. Agora que
colocada pra escanteio, vez por todas – é o que se espera –, a proposta
retrocessiva de mudança no modo de votar, essas mesmas pessoas se perguntam o
que estará ainda por vir, como novo fator de perturbação no desatinado enredo político
e administrativo.
Já começam a ser
percebidos, com desassossego, os efeitos práticos dos alertas dos porta-vozes
da Aneel referentes às alterações da assim chamada “bandeira tarifária”. Por
causa da crise hídrica as contas de luz devem subir cerca de vinte por cento,
talvez um pouco mais, até 2022. Os setores técnicos anunciam campanhas que
possam estimular o uso racional de energia e, também, da água tratada. Comentam
também até a possibilidade de adoção futura de medidas de racionamento, face à
redução dos níveis nos reservatórios, como as ocorridas em 2001. A Aneel
explica que estamos atravessando a mais aguda seca dos últimos 9 anos nas
regiões em que se acham localizadas as principais hidrelétricas do país,
sudeste e centro-oeste. Os sistemas em questão respondem por mais da metade da
capacidade de geração de energia. Os custos operacionais das termoelétricas, que deverão atingir até o final deste
ano o valor de R$ 9 bilhões, influem significativamente na adoção da “bandeira
vermelha”. “Nós temos condições de atender o consumidor com energia.
Entretanto, essa energia está mais cara pelo fato de estar sendo gerada pelas
termoelétricas. E como finalizamos o
período úmido e ele foi o pior da história, então nós não temos praticamente
água para usar com vistas a atender a geração no país até novembro”. Foi o que
asseverou, recentemente, o diretor da Aneel André Pepitone, numa audiência
promovida pela Câmara dos Deputados. Ele acrescentou que o Inpe (Instituto
Nacional de Pesquisas Espaciais) assegurou que a chuva necessária para
abastecer os reservatórios é aguardada para a segunda quinzena de outubro. Em
assim sendo, perdurará até lá o esquema montado com o uso intensivo das
termoelétricas, o que se traduz fatalmente em encarecimento tarifário.
Tudo
isso anotado equivale a dizer que, para o chefe de família e a dona de casa,
atordoados com elevações sucessivas de preços em todas as áreas de consumo,
acabará sobrando, além das majorações nas contas de luz, o risco provável de
agregação do racionamento à sua interminável lista de preocupações cotidianas.
Tá danado!
* Jornalista (cantonius1@yahoo.com.br)
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