sexta-feira, 13 de agosto de 2021

 

Um livro escrito por corações amorosos

 

Cesar Vanucci *

 

«Erigir o Ser como meta»

(Klinger Sobreira de Almeida)

 

«Radicalismo faz gerar rancores»

(Sílvia Araújo Motta)


Acaba de sair do prelo, como era de costume dizer-se em tempos de outrora, o livro “Rastreando a verdade (crônicas, sonetos e acrósticos)”, de autoria de Klinger Sobreira de Almeida e Silvia Araujo Motta. O prefácio que redigi para a publicação é reproduzido, na sequência.

 

“Um livro escrito por corações amorosos. Essas pessoas valorosas que fazem parte do mundo invejável dos corações amorosos! Quão fecunda é sua contribuição para a edificante causa da construção humana!

Com seus ditos e feitos bebem inspirações nas fontes da sabedoria humanística. Ajudam a conservar acesas a fé e a esperança em tempos melhores para todos. E quando, então, além de tudo isto - como no exemplo de Klinger e Sílvia -, resolvem estampar em livro crenças e vivências enriquecedoras, é que melhor e com maior nitidez se delineia sua benfazeja condição de semeadores de bons frutos. Frutos que permanecem, consoante a fala evangélica.

O livro «Rastreando a verdade - crônicas, sonetos, acrósticos» escrito a quatro mãos entrelaçadas de amorosidades por Klinger Sobreira de Almeida e Sílvia Araújo Motta, é uma proclamação de confiança no destino superior do ser humano. Enfeixa, numa prosa escorreita e agradável e versos impregnados de lirismo, reflexões substanciosas sobre a aventura humana.  No caso desta publicação, o trepidante jogo da vida, com os atributos e imperfeições, falácias e criações inerentes aos indivíduos e grupos comunitários, é visto sob enfoque harmonizado com saberes de linha filosófica transcendente. Ou seja, conhecimentos de origem espiritual, remontando às nascentes límpidas e cristalinas da jornada existencial. Fica bem visível, para os leitores identificados com os valores humanísticos e espirituais, que os autores se esmeram em oferecer orientação e sinalizar rumo para várias candentes questões de nosso inquietante cotidiano. São impulsionados, na lida desenvolta da palavra, à explicar com recomendações de caráter propositivo o significado da vida. Percebe-se sintonia fina entre aquilo que magistralmente verbalizam com uma impecável manifestação de Raul de Leoni. Aquela em que o poeta nos brinda com esta definição: «o sentido da vida e o seu arcano é a aspiração de ser divino no supremo prazer de ser humano». A variedade dos assuntos abordados, em narrativas que ganham às vezes feição de fábulas, revelando dos autores estilo primoroso de contação de história, coloca-nos diante de um painel de revelações atualizadas sobre os desafios, padecimentos, angústias confrontados pela sociedade nesta etapa perturbadora da marcha civilizatória. Para cada problema anotado, nos diferentes capítulos da obra, lá está primeiro em prosa, depois em verso, uma considera.ção, uma ponderação, um aconselhamento, calcados em lições hauridas em plano consciencial elevado.

A posição dos autores pode sugerir, num que outro momento, um propósito doutrinário. Laborará, todavia, em ledo engano quem disso inferir tratar-se de exposição de ideias ancoradas em dogmatismo rançoso. Na vibração dos esplêndidos conceitos expendidos, nas afirmativas peremptórias, revestidas de generosidade e espírito solidário e cordial, avultam dois perfis contrapostos ao imobilismo social, ao radicalismo ideológico, e que se exprimem num idioma ecumênico.

 

O prosador e a poeta sabem muito bem, trazendo da teoria para a prática o soberbo pensamento de Bergier e Pauwels, que o espírito humano é que nem o paraquedas, só funciona aberto.


O livro de Klinger e Sílvia é repleto de rutilantes conceitos. Os aparelhos de percepção pessoal do leitor mais atento se incumbem, em dados momentos de levá-lo a captar sons - diríamos – melodiosos entre o que é propagado em prosa e repicado em versos.

Aqui estão amostras bem expressivas.  

 “Reportando-se ao «Caminho do meio», recomendado nas prédicas dos Mestres, os autores assim se pronunciam, em prosa e verso:

«O caminho do Meio implica em desapego. Ter sem escravizar-se; erigir o Ser como meta. Se o poder, a glória e a riqueza lhe acontecem, atentar que estes não o acompanham ao final da travessia fugaz. Assim, não se inebrie; caso contemplado com as benesses do mundo, administre-as como posseiro de Deus, visando ao bem comum. Alcançado o pico da trajetória humana, cabe-lhe erradicar o egoísmo e o orgulho, e cultivar os valores da humildade e gratidão. Sim, gratidão a Deus e ao próximo». (...) 

«O Caminho do Meio - senda da felicidade - está sempre aberto ao viajor terrestre. Seu acesso é factível à proporção que nos elevemos consciencialmente». Já o soneto interpretativo diz o seguinte: 

«Caminho do Meio –A senda da Felicidade 

Há uma Verdade nesta Lei Regente/do Criador na Luz, sem trevas/dores:/

A Mão de Deus aberta em nossa mente/é generosa ao mundo, tem valores./

Nada de extremos, pois a Mão luzente/sábia se fecha ao Mal dos seus «senhores»/não há ascensão do Ser na trilha e sente:/

Radicalismo faz gerar rancores. /

Errar, cair, sofrer, subir ao monte/

da evolução que ao homem faz crescer! /Trilha do MEIO, livre-arbítrio traz. /

Em Cristo, Buda, Okawa... bela Fonte:/

A Fé no túnel faz Amor nascer. / Felicidade é senda para a Paz.»

Mais dois, entre outros, sugestivos conceitos: “Humildade - defluente do Amor - é estágio de acentuada elevação consciencial.

...Todos que, na travessia terrena, chegaram à plenitude do êxito, quaisquer que tenham sido seus campos de atuação, caracterizaram-se pela humildade. Foram fortes moralmente e respeitados, mostraram sabedoria e exerceram liderança». .

«Perseverança – Estrela Guia do ÊXITO. A assimilação da perseverança, como valor de caráter, deve compor o espectro educacional do indivíduo a partir da infância. Se assim for feito, estamos forjando cidadãos para a vida. Seres humanos úteis na construção de uma humanidade de elevado nível consciencial. Seres que, tendo por estrela-guia o êxito, não fogem, não fracassam, nem se corrompem».

Em página que toca fundo a emoção, Klinger faz registro enternecido à memória de sua mãe Nelsina, «supermulher, sustentáculo do lar», descendente da etnia Puri.

Sobre os autores importa salientar ainda ser ele, Klinger, militar aposentado no posto de Coronel da respeitada Polícia Militar de Minas Gerais, com irrepreensível folha de serviços no exercício de relevantes funções de comando; membro e ex-presidente da Academia João Guimarães Rosa da PMMG; conferencista renomado, autor de obras técnicas, vinculadas à formação profissional, e de trabalhos literários bastante apreciados; em suma, um intelectual de presença refulgente no cenário mineiro.

Sílvia, sua esposa, educadora é figura de realce nos meios culturais graças à sua condição de romancista, poeta, poliglota, artista plástica, compositora, com atuação em trabalhos sociais.  É aclamada como autora de mais de dez mil poemas-acrósticos e de quarenta e sete livros.

É fácil depreender, pelo enunciado, que a história de vida dos escritores e o conteúdo de sua obra comportam referências enaltecedoras de maior amplitude, sem qualquer vislumbre de dúvida. Acontece, porém, que o prefácio de um livro não deve passar tão somente de simples «tira-gosto» ou «aperitivo» antecedendo – como sucede agora - lauto e apetitoso banquete de ideias. Pelo que, vou parando por aqui. Ocorre-me tomar emprestada recomendação de Santo Agostinho sobre um livro de sua especial apreciação: «Tolle, lege»

Concluo, então, o prefácio do livro de Klinger e Sílvia, dizendo: 

Pegue-o e cuide de lê-lo.”

 

 

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