Um livro escrito por corações amorosos
Cesar
Vanucci *
«Erigir o Ser como
meta»
(Klinger
Sobreira de Almeida)
«Radicalismo
faz gerar rancores»
(Sílvia Araújo Motta)
Acaba de sair do prelo, como era de costume dizer-se em tempos de outrora, o livro “Rastreando a verdade (crônicas, sonetos e acrósticos)”, de autoria de Klinger Sobreira de Almeida e Silvia Araujo Motta. O prefácio que redigi para a publicação é reproduzido, na sequência.
“Um livro escrito por corações
amorosos. Essas pessoas valorosas que fazem parte do mundo invejável dos
corações amorosos! Quão fecunda é sua contribuição para a edificante causa da
construção humana!
Com seus ditos e feitos bebem inspirações nas fontes da sabedoria humanística. Ajudam a conservar acesas a fé e a esperança em tempos melhores para todos. E quando, então, além de tudo isto - como no exemplo de Klinger e Sílvia -, resolvem estampar em livro crenças e vivências enriquecedoras, é que melhor e com maior nitidez se delineia sua benfazeja condição de semeadores de bons frutos. Frutos que permanecem, consoante a fala evangélica.
O livro «Rastreando a verdade - crônicas, sonetos, acrósticos» escrito a quatro mãos entrelaçadas de amorosidades por Klinger Sobreira de Almeida e Sílvia Araújo Motta, é uma proclamação de confiança no destino superior do ser humano. Enfeixa, numa prosa escorreita e agradável e versos impregnados de lirismo, reflexões substanciosas sobre a aventura humana. No caso desta publicação, o trepidante jogo da vida, com os atributos e imperfeições, falácias e criações inerentes aos indivíduos e grupos comunitários, é visto sob enfoque harmonizado com saberes de linha filosófica transcendente. Ou seja, conhecimentos de origem espiritual, remontando às nascentes límpidas e cristalinas da jornada existencial. Fica bem visível, para os leitores identificados com os valores humanísticos e espirituais, que os autores se esmeram em oferecer orientação e sinalizar rumo para várias candentes questões de nosso inquietante cotidiano. São impulsionados, na lida desenvolta da palavra, à explicar com recomendações de caráter propositivo o significado da vida. Percebe-se sintonia fina entre aquilo que magistralmente verbalizam com uma impecável manifestação de Raul de Leoni. Aquela em que o poeta nos brinda com esta definição: «o sentido da vida e o seu arcano é a aspiração de ser divino no supremo prazer de ser humano». A variedade dos assuntos abordados, em narrativas que ganham às vezes feição de fábulas, revelando dos autores estilo primoroso de contação de história, coloca-nos diante de um painel de revelações atualizadas sobre os desafios, padecimentos, angústias confrontados pela sociedade nesta etapa perturbadora da marcha civilizatória. Para cada problema anotado, nos diferentes capítulos da obra, lá está primeiro em prosa, depois em verso, uma considera.ção, uma ponderação, um aconselhamento, calcados em lições hauridas em plano consciencial elevado.
A posição dos autores pode sugerir, num que outro momento, um propósito doutrinário. Laborará, todavia, em ledo engano quem disso inferir tratar-se de exposição de ideias ancoradas em dogmatismo rançoso. Na vibração dos esplêndidos conceitos expendidos, nas afirmativas peremptórias, revestidas de generosidade e espírito solidário e cordial, avultam dois perfis contrapostos ao imobilismo social, ao radicalismo ideológico, e que se exprimem num idioma ecumênico.
O prosador e a poeta sabem muito bem, trazendo da teoria
para a prática o soberbo pensamento de Bergier e Pauwels, que o espírito humano
é que nem o paraquedas, só funciona aberto.
O livro de Klinger e Sílvia
é repleto de rutilantes conceitos. Os aparelhos de
percepção pessoal do leitor mais atento se incumbem, em dados momentos de
levá-lo a captar sons - diríamos – melodiosos entre
o que é propagado em prosa e repicado
em versos.
Aqui estão amostras bem
expressivas.
“Reportando-se
ao «Caminho do meio», recomendado nas prédicas dos Mestres, os autores assim se
pronunciam, em prosa e verso:
«O caminho do Meio implica em desapego. Ter sem escravizar-se; erigir o Ser como meta. Se o poder, a glória e a riqueza lhe acontecem, atentar que estes não o acompanham ao final da travessia fugaz. Assim, não se inebrie; caso contemplado com as benesses do mundo, administre-as como posseiro de Deus, visando ao bem comum. Alcançado o pico da trajetória humana, cabe-lhe erradicar o egoísmo e o orgulho, e cultivar os valores da humildade e gratidão. Sim, gratidão a Deus e ao próximo». (...)
«O Caminho do Meio - senda da felicidade - está sempre aberto ao viajor terrestre. Seu acesso é factível à proporção que nos elevemos consciencialmente». Já o soneto interpretativo diz o seguinte:
«Caminho do Meio –A senda da Felicidade
Há uma Verdade nesta
Lei Regente/do Criador na Luz, sem trevas/dores:/
A Mão de Deus aberta em
nossa mente/é generosa ao mundo, tem valores./
Nada de extremos, pois
a Mão luzente/sábia se fecha ao Mal dos seus «senhores»/não há ascensão do Ser
na trilha e sente:/
Radicalismo faz gerar
rancores. /
Errar, cair, sofrer,
subir ao monte/
da evolução que ao
homem faz crescer! /Trilha do MEIO, livre-arbítrio traz. /
Em Cristo, Buda,
Okawa... bela Fonte:/
A Fé no túnel faz Amor
nascer. / Felicidade é senda para a Paz.»
Mais
dois, entre outros, sugestivos conceitos: “Humildade - defluente do Amor - é
estágio de acentuada elevação consciencial.
...Todos
que, na travessia terrena, chegaram à plenitude do êxito, quaisquer que tenham
sido seus campos de atuação, caracterizaram-se pela humildade. Foram fortes
moralmente e respeitados, mostraram sabedoria e exerceram liderança». .
«Perseverança
– Estrela Guia do ÊXITO. A assimilação da perseverança, como valor de caráter,
deve compor o espectro educacional do indivíduo a partir da infância. Se assim
for feito, estamos forjando cidadãos para a vida. Seres humanos úteis na
construção de uma humanidade de elevado nível consciencial. Seres que, tendo
por estrela-guia o êxito, não fogem, não fracassam, nem se corrompem».
Em
página que toca fundo a emoção, Klinger faz registro enternecido à memória de
sua mãe Nelsina, «supermulher, sustentáculo do lar», descendente da etnia Puri.
Sobre
os autores importa salientar ainda ser ele, Klinger, militar aposentado no
posto de Coronel da respeitada Polícia Militar de Minas Gerais, com irrepreensível folha de serviços no exercício de
relevantes funções de comando; membro e ex-presidente da Academia João
Guimarães Rosa da PMMG; conferencista renomado, autor de obras técnicas,
vinculadas à formação profissional, e de trabalhos literários bastante
apreciados; em suma, um intelectual de presença refulgente no cenário mineiro.
Sílvia,
sua esposa, educadora é figura de realce nos meios culturais graças à sua
condição de romancista, poeta, poliglota, artista plástica, compositora, com atuação
em trabalhos sociais. É aclamada como
autora de mais de dez mil poemas-acrósticos e de quarenta e sete livros.
É
fácil depreender, pelo enunciado, que a história de vida dos escritores e o
conteúdo de sua obra comportam referências enaltecedoras de maior amplitude,
sem qualquer vislumbre de dúvida. Acontece, porém, que o prefácio de um livro
não deve passar tão somente de simples «tira-gosto» ou «aperitivo» antecedendo
– como sucede agora - lauto e apetitoso banquete de ideias. Pelo que, vou
parando por aqui. Ocorre-me tomar emprestada recomendação de Santo Agostinho
sobre um livro de sua especial apreciação: «Tolle, lege»
Concluo, então, o prefácio do livro de Klinger e Sílvia, dizendo:
Pegue-o e cuide de
lê-lo.”
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