O sentimento das ruas
“O que todos desejam é paz
para o trabalho, retomada
do desenvolvimento e respeito
às instituições democráticas”.
(Antônio
Luiz da Costa, educador)
Despautérios incessantes. São de tal monta que acabam
colocando todo mundo em desassossego. Muita “gente equilibrada”, que prefere
manter-se equidistante do alvoroço político, chega a duvidar da veracidade dos
fatos narrados. Custa-lhe crer que as palavras merecedoras de crítica no seio
da opinião pública hajam sido mesmo pronunciadas. Muito menos pelo personagem
apontado como autor, dada a relevância da função que exerce.
Mas, eis que de repente essas pessoas se convencem, estupefatas, de que tudo é doloridamente real. Não se trata, não, de informação falsa. De “intriga da oposição” articulada com perverso intuito de abalar a reputação do adversário. Aí, então, os viventes não afeiçoados a embates políticos, acabam lançando no ar, mais do que pergunta, um brado de lamento. Evidentemente, sem preocupação com resposta: - “Mas o que vem a ser esse diacho de coisas, santo Deus?” Lastimavelmente, “esse diacho de coisas” não para. Quase todo dia rende notícia. Nos jornais de 29 de agosto, S.Exa., o presidente que elegemos por larga maioria de votos, sem mais essa nem aquela, joga mais lenha na fogueira com outra enigmática mensagem: “Há três alternativas para o meu futuro. Ser preso, ser morto ou ter a vitória”. Criticando decisões do Judiciário, reclama de “medidas arbitrárias” adotadas por “uma pessoa ou duas”, acrescentando que “jamais será preso”. Horas antes havia montado extravagante charada com as expressões “fuzil” e “feijão”, objeto de “edificante diálogo” nas redes sociais.
A instabilidade política, percebida até pelo “mundo mineral” – como diria Mino Carta -, coloca em polvorosa, naturalmente, o mundo dos negócios. A situação econômica e social vai de mal a pior. Os indícios acham-se estampados nos semblantes tensos dos chefes de família, dos empregadores e empregados, da multidão dos despossuídos sociais, enfim, dos cidadãos de todas as categorias sociais, tendências políticas e religiosas que compõem a paisagem populacional do Brasil. O bom-senso reclama mudanças urgentes. A imagem do país lá fora afeta o agronegócio e outras atividades de importância vital, engajadas no esforço de exportação e no suprimento das necessidades do consumo interno. Enquanto as discussões estéreis se alongam, provocando generalizado mal-estar, temas essenciais às ações estratégicas que levam ao crescimento econômico com seus benfazejos efeitos sociais são deixados à deriva. Até para problemas de menor complexidade revelam-se escassas a criatividade gerencial, as iniciativas burocráticas de rotina.
Crise sanitária, crise econômica, crise social, crise energética, crise que não acaba mais em tudo quanto é canto. Entrementes, espalhando dardejante desconforto, aí estão as ameaças às instituições democráticas. Frases soltas de inequívoco sentido, vez por outra de dubio significado, atitudes belicosas explícitas colocam a descoberto chocante propósito de retrocesso político. Afortunadamente, jubiloso registrar, tais atitudes são repelidas com veemência pela consciência cívica da Nação.
Em razão do inquietante cenário, lideranças altamente representativas da vida empresarial, classista, intelectual, política, cultural, estão trazendo a público, continuamente, manifestações resolutas, em que propõem o desarmamento dos espíritos, serenidade e competência no manejo dos negócios públicos, diálogo propositivo em torno das magnas questões que dizem respeito aos sagrados interesses coletivos. Tais pronunciamentos exprimem com fidelidade o sentimento das ruas.
Este sentimento projeta ardente esperança: que a busca das soluções para as angustiantes questões que nos atormentam se processe em clima de divergência civilizada e pacífica, segundo os saudáveis ditames democráticos. Essa a maneira sensata de aproveitar os pródigos recursos de que é o país detentor para cumprir sua vocação de grandeza.
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