As
calamidades que nos espreitam
Cesar Vanucci
“Colocar a saúde e a justiça social nas discussões.”
(Conclamação da OMS)
Fundamentalistas,
negacionistas, teóricos da “terra plana” consideram o aquecimento global e as
mudanças climáticas questões de somenos importância. Tratam-nas com desdém. “Explicam”
que tudo quanto dito a respeito não passa de “invencionice” de um núcleo de ativistas
da ciência mancomunado com gente que tem parte com o tinhoso, empenhada numa
conspiração contra as leis naturais, moral e bons costumes.
Maluquices à parte, faz-se imperioso anotar que a negação talibanista não é o único óbice e – com certeza - nem representa o entrave mais contundente à formulação de políticas globais consistentes, eficazes, no enfrentamento das ameaças de catástrofes nascidas dos maus tratos e desmazelos com relação à Natureza e biodiversidade.
A ciência denuncia o que está acontecendo. As grandes lideranças ouvem com aparente atenção as advertências e recomendações. Mas a sensação que fica passado o alvoroço das revelações perturbadoras, é que o alarma entra por um ouvido e sai pelo outro, sem desencadear as ações práticas almejadas. Os governantes em condições de intervir no processo de defesa do meio ambiente fazem pronunciamentos vibrantes, anunciam providências urgentes, assinam pactos em torno de medidas preventivas a serem adotadas com prazo determinado. O tempo passa e tudo continua como dantes no quartel de Abrantes...
Mesmo percebendo que seus clamores não encontram a devida receptividade, mas conscientes de que as questões levantadas dizem respeito inexoravelmente aos direitos fundamentais, à própria sobrevivência humana, cientistas, ambientalistas e lideranças dotadas de bom-senso e lucidez de espírito continuam a promover a divulgação de seu SOS sobre as calamidades de ordem social e econômica que nos espreitam.
No
comentário anterior, anotamos a divulgação recente, de dois documentos de rico
conteúdo científico, elaborados pela OMS e por cientistas renomados de todos os
continentes, precedendo à COP26 - Conferência Sobre Mudanças Climáticas da ONU, em
Glasgow, Escócia.
Extraímos
da manifestação da agência da ONU dez prioridades apontadas como relevantes numa
articulação mundial bem fundamentada de estratégias voltada para proteger a
humanidade das ameaças do aquecimento global e mudanças climáticas. Estes os
pontos abordados: 1. comprometimento
com uma recuperação saudável, ecológica e justa da Covid-19; 2. assegurar que a
COP26 seja a 'COP da Saúde', colocando a saúde e a justiça social no centro das
discussões; 3. priorizar as intervenções climáticas com os maiores ganhos de
saúde, sociais e econômicos; 4. construir sistemas de saúde resilientes ao
clima e apoiar a adaptação da saúde em todos os setores; 5. garantir a
transição para energias renováveis, para salvar vidas da poluição do ar; 6. promover
projetos urbanos e sistemas de transporte sustentáveis e saudáveis; 7. proteger
e restaurar a natureza e os ecossistemas; 8. promover cadeias de abastecimento
de alimentos sustentáveis e dietas para resultados climáticos e de saúde; 9. garantir
a transição para uma economia de bem-estar; 10. mobilizar e apoiar a comunidade
de saúde na ação climática.
Do outro documento – “Carta Aberta” dos cientistas – extraímos também conceitos que conclamam todos, a amadurecida reflexão. Aqui estão. “A crise climática é a maior ameaça à saúde que a humanidade enfrenta. Enquanto profissionais de saúde e agentes de saúde, reconhecemos a nossa obrigação ética de falar abertamente sobre esta crise em rápido crescimento, que poderá ser bastante mais catastrófica e duradoura do que a pandemia da Covid-19. Exortamos os governos a assumirem as suas responsabilidades, protegendo os seus cidadãos, vizinhos e gerações futuras contra a crise climática. Onde quer que prestemos cuidados, nos nossos hospitais, clínicas e comunidades de todo mundo, estaremos já a dar uma resposta aos danos para a saúde que as alterações climáticas provocam.”
Como já dito, é preciso atentar para os recados da Natureza.
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