sexta-feira, 8 de outubro de 2021

 Desmatamento e aquecimento, mistura explosiva

 

Cesar Vanucci

 

“O regime de chuvas entrará em colapso.”

(Paulo Nobre, pesquisador do Inpe)

 

Nada disso. Não se trata de informação distorcida. Tampouco de suposição sem fundamento, formulada com maléfico intuito de comprometer a imagem do país no panorama internacional. A verdade nua e crua, vastamente documentada, justificando o clamor que se ouve, aqui dentro e lá fora, chama a atenção permanentemente para atos de predação e devastação praticados impunemente por aventureiros de toda espécie, que colocam sob graves riscos o fabuloso bioma amazônico.

Ambientalistas, cientistas, vozes exponenciais das lideranças engajadas em causas humanitárias alertam para o perigo. Mas essas manifestações de lucidez e bom-senso parecem não sensibilizar as autoridades competentes, que se furtam ao dever de articular um projeto de desenvolvimento de grande envergadura para o colossal território amazônico, de modo a estabelecer as salvaguardas necessárias de proteção de suas incomparáveis riquezas.

A ameaça de destruição do bioma leva a uma outra ameaça, mais sinistra ainda. É representada pela inocultável cobiça estrangeira, que projeta olhar guloso em áreas reconhecidamente valiosas da exuberante região. Fica claro que esses interesses nebulosos, rechaçados pela consciência nacional, dão eco aos justos protestos que se erguem em prol da preservação da maior floresta do mundo, dadivoso patrimônio confiado, no Projeto da Criação, à guarda soberana do Brasil. É imperioso que em sua missão institucional, a direção do país cuide zelosamente do bioma amazônico. Desenvolva na chamada Amazônia legal projetos de desenvolvimento social rigorosamente afinados com os conceitos ecológicos, enfrentando com rigor toda e qualquer tentativa de agressão a esses sagrados valores. Enquanto isso não sucede, para contrariedade e desassossego de todos nós, para inconformismo de cientistas, ambientalistas, de gente engajada nas empreitadas humanísticas, que visam conquistas de melhores níveis de bem-estar para o ser humano; enquanto não acontece a ardentemente almejada movimentação dos poderes governamentais no sentido de acordarem para suas indeclináveis responsabilidades quanto ao assunto, as manchetes continuarão a divulgar situações perturbadoras, como as alinhadas na sequência.

Desmatamento e aquecimento global: eis aqui uma mistura explosiva que coloca em imenso perigo a Natureza, a economia e a vida humana na Amazônia. Atordoante anúncio acaba de ser trazido em estudo, divulgado na revista “Nature”, pela Fundação Oswaldo Cruz, Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais e Universidade de São Paulo. A temperatura na Amazônia poderá elevar-se proximamente em até 11,5 graus, o que implica em riscos extremos à sobrevivência. As simulações procedidas, com base em dados alusivos às tendências climáticas, apontam a possibilidade catastrófica de transformação da Amazônia de floresta tropical úmida para cerrado, com elevação da temperatura média, na sombra, em até mais 5 graus, numa perspectiva menos negativa. Noutras avaliações, assinala o estudo, o aumento da temperatura pode ir de 7,5 graus a 11,5 graus. Aumento de temperatura nesses patamares, assinalam os pesquisadores, tem efeito extremamente danoso na saúde humana.

 “O estresse causado pelo calor excessivo é muitíssimo perigoso para humanos, incluído o aumento do risco de condições intoleráveis para atividades na sombra e risco intenso de doenças causadas pelo calor”, assegura o estudo. Para além dos riscos para a saúde, que diminuiriam a capacidade de trabalho e de sobrevivência de uma população, que, em muitos casos, já tem dificuldades para viver, uma mudança desse nível tem impactos diretos na capacidade econômica da região. Lembra o estudo ainda que a própria atividade que hoje se beneficia da destruição das florestas seria fatalmente atingida. O regime de chuvas entrará em colapso. Chegará a uma redução de 80% no centro da Amazônia e a uma redução de 50% no centro-oeste do território, de acordo com estimativa de Paulo Nobre, pesquisador do Inpe, um dos autores do estudo.

 

Um comentário:

Um olhar na India disse...

E o que conseguimos dizer diante de tanta estupideze e ignorância humana? Onde em nome do "deus dinheiro", o "homem economicus" fala imperativamente ditando as regras da sobrevivência humana....Oh pobres mortais somos, Vanucci. Mas aprendemos a resistir ....

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