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Cesar Vanucci
“Uma obscenidade!”
(Antônio Guterres, Secretário Geral da ONU, comentando a falta de solidariedade mundial em relação a África, nestes tempos de pandemia)
· Frustrante. Decepcionante.
Irreal. Fantasioso. Estas foram as
expressões mais brandas vistas nas manchetes, comentários, análises, charges
publicados, lá fora e aqui dentro do Brasil, pelos veículos de comunicação ao
se referirem ao pronunciamento do presidente Jair Bolsonaro na sessão solene de
abertura dos trabalhos da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas. Como
reza a tradição, ao representante brasileiro é atribuída, todos os anos, a
honrosa tarefa de fazer uso da palavra em primeiro lugar, na cerimônia
inaugural aludida, que reúne chefes de estado de todos os países do mundo.
Anoto,
com convicção, que em décadas de labuta jornalística, sempre atento (a
distância) à fala do representante brasileiro no evento, jamais haver presenciado
reação desfavorável tão compacta, proveniente de fontes tão diversificadas, como
a que, agora, se seguiu às declarações feitas pelo dirigente do Brasil na
tribuna daquela respeitável instituição. As informações, conceitos, os dados e
números apresentados produziram desagrado, pra dizer o mínimo, até em fileiras
simpáticas ao supremo mandatário.
· Obscenidade. A expressão
“obscenidade”, proferida em tom vigoroso, enfatizando cada sílaba, foi utilizada
pelo secretário geral da ONU, o português Antônio Guterres, para classificar a
mais recente “calamidade humanitária’ que se abate sobre a maltratada África,
berço da ancestralidade de boa parte da população brasileira. Ele se referiu,
com compreensível indignação, ao total abandono a que está sendo relegado
aquele continente por parte do resto do mundo, com destaque para as
superpotências, diante da avassaladora pandemia da Covid-19. Funciona assim
desde tempos imemoriais. Esquecida dos homens e dos próprios deuses, a África
maltrapilha sofre nas entranhas permanente dilaceramento provocado pela ação
espoliativa de grandes corporações representativos de uma geopolítica
insensível e cruel. A solidariedade internacional revela-se sempre morosa
quando se trata de acudir o território africano em momentos dramáticos como os
de agora. O auxílio mundial para o combate à Aids, anos atrás, só começou a
ganhar forma depois que a enfermidade adquiriu características pandêmicas. Com
menos de 4% da população africana até aqui vacinada, no caso da Covid, o que
vem ocorrendo naquele continente desprotegido, à mingua de recursos mínimos
para o enfrentamento decente ao flagelo, não passa mesmo – Guterres está
coberto de razão – de uma atordoante obscenidade.
· Indecoroso. E não é que
S.Exa., o ministro da Saúde Marcelo Queiroga deixou-se também contaminar pelo
coronavírus da intolerância que grassa solto nas rodas palacianas! Em Nova
Iorque, onde acompanhou o presidente Bolsonaro na vexatória visita à ONU,
ocasião em que pegou a Covid-19, sendo obrigado a cumprir quarentena, num hotel
de luxo, diante do aturdimento dos repórteres que cobriam o evento, resolveu,
insolentemente, erguer o braço direito com o dedo médio em riste em “resposta”
indecorosa às críticas de um grupo de manifestantes às ações do Governo
Brasileiro. Interpelado a respeito do insólito gesto, assim se “justificou”:
“Quem diz o que quer, ouve o que não quer!” Ora, veja, pois...
Vacina. A mídia internacional
deu destaque à imagem do presidente dos EUA, Joe Biden, arregaçando a manga da
camisa para aplicação no braço da terceira dose, também chamada “dose de
reforço”, contra o coronavírus. A mídia internacional deu destaque à imagem em
que o presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, despojado de máscara, ao lado do
primeiro ministro do Reino Unido (munido de máscara), se jactou de não haver
tomado vacina alguma contra a tal da “gripezinha” ...
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