Luis Giffoni |
O inglês Charles Dickens, nascido há
pouco mais de dois séculos, é o nome que me vem à cabeça. Foi o Paulo Coelho da
época. Seus livros vendiam – e vendem – mais que batata em supermercado. Com
frequência melodramático, inverossímil e moralista, Dickens é o rei dos natais
tradicionais em família, com os deserdados da Inglaterra vitoriana do lado de
fora das janelas, mortos de fome e frio, a observar o conforto e as guloseimas
do lado de dentro dos lares dos ricos. É de partir o coração.
Dickens era um contestador, uma voz
dissonante do império inglês em seu auge de triunfalismo, embora fosse muito
bem aceito no país. Criticava a miséria e a exploração das pessoas, ou melhor,
defendia os que não se beneficiaram da Revolução Industrial. Entre outras,
exemplo disso é sua novela “Um Cântico de Natal”, o famoso “A Christmas Carol”,
de 1843, tantas vezes filmado e adaptado, protagonizado pelo avarento Ebenezer
Scrooge, que economizava até a luz, pois a escuridão é mais barata.
Scrooge, pai do tio Patinhas do Walt
Disney, detestava natais e ajudar as pessoas. Após ser assombrado por almas
penadas e vislumbrar um terrível futuro, sofre a transformação que o leva a
celebrar cada Natal e a tomar conta do pequeno Tim, garoto pobre com problema
nas pernas. Haja lágrimas. Haja bom propósito de ajudar o próximo.
Até hoje, quando o vinte e cinco de
dezembro se aproxima, muita gente acredita na transformação permanente do
coração e da mente das pessoas. Nós não mudamos há milênios, continuamos
egoístas e centrados em nós mesmos, mas vivemos a esperança de dias mais justos
e mais solidários. O grande artífice dessa crença foi Charles Dickens,
espalhada mundo afora pelo poder de que a Inglaterra então dispunha.
Livros mudam o mundo. Talvez não
mudem nossa humanidade.
Leia os livros de Dickens, encha-se do contraste que ainda persiste em
nossa sociedade e tenha um Natal temperado pela solidariedade. Vai durar pouco
tempo, mas que seja infinita enquanto dure.
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