Artigo do Acadêmico Antônio Pereira Silva
O TELEFONE CHEGA A
UBERABINHA
Um dos pioneiros da telefonia no Triângulo foi o nosso admirável Fernando
Alexandre Vilela de Andrade que construiu uma linha particular de sua fazenda
até a fazenda de Joaquim Carvalho, interligando-as com sua residência na cidade
de São José do Tijuco (Ituiutaba). Isso em 1903 ou 4. E foi valiosa essa
iniciativa porque, pelo telefone, ele soube que um grupo de jagunços, vindo de
Mato Grosso (distrito de Tupaciguara), pretendia atacá-lo por vingança, pelo
fato de ele ter deposto em juízo contra um dos membros da quadrilha que
assassinara um joalheiro. Vilela deixou a fazenda e avisou a cidade que enviou
três praças armados e mais uma turma de amigos para proteger-lhe a propriedade.
Não deu em nada. Antes de chegarem ao Tijuco, os bandidos foram desbaratados
pelo cel. João Chaves.
Mais tarde, em 1916, Fernando Vilela estendeu fios telefônicos ao longo de suas
estradas e inaugurou a primeira linha de 112 quilômetros ligando diversas
cidades servidas por suas estradas de rodagem além de colocá-las em tráfego
mútuo com a companhia telefônica daqui ligando aquelas comunidades a
Uberabinha, Araguari, Santa Maria, Prata, Bom Jardim e Sobradinho.
Bom, mas e aqui, como é que foi?
No dia 11 de janeiro de 1909, Manuel Caldeira e outros entraram com
requerimento na Câmara Municipal solicitando concessão para o estabelecimento
de uma linha telefônica no Município. A Comissão de Obras Públicas analisou o
pedido e despachou favoravelmente. No dia 15, a Câmara aprovou, mas quem não
apareceu para fazer as instalações foi o requerente. E essa oportunidade que a
cidade teve para começar a fazer comunicações rápidas, pelo menos dentro do
Município, foi por água abaixo.
Quem, enfim, começou a instalar telefones na cidade foi Lázaro Ferreira, a
partir de 1911. Não consegui saber se ele comprou a concessão dada ao Manuel Caldeira
ou se fez outro pedido.
O fato é que ele começou a fincar pelas ruas uns postesinhos miúdos,
raquíticos, tortos que o jornal da época chamou de “infantis, ridículos e bons
para o fogo.” Noutras notas dizia que os fios passavam tão baixos que serviriam
para as lavadeiras pendurarem suas roupas pra secar. Mas aí, pelo menos, o povo
já começou a conversar à distância.
A inauguração dos serviços telefônicos foi no dia 2 de julho de 1911. O povo
aglomerou-se em algum lugar, certamente em frente à sede da empresa. Houve
muito discurso e muita música pela Banda União Operária. Por certo, alguém fez
o uso inaugural de um aparelho assistido pelo povo estupefato. Infelizmente não
há pormenores da inauguração.
Acho que o Lázaro não se deu bem com o negócio, tanto que em setembro do mesmo
1911, passou a concessão para Oliveira & Cia. Essa firma era de Araguari,
de modo que as duas cidades já começaram a se falar por telefone. Foi o
Oliveira quem comunicou ao povo de Uberabinha, pelo jornal, que a novidade da
união telefônica entre as duas cidades se daria dentro de pouco tempo. Informou
também que o centro telefônico atenderia das 6 às 21 horas, todos os dias, e
durante a noite, só por motivo de forma maior, como chamar médico ou farmácia.
O negócio, à época, não parecia muito bom, tanto que o jornal “O Paranahyba”,
de novembro de 1914, publicou que alguns dos seus leitores pediam-lhe que
chamasse a atenção do co-proprietário Francisco Coelho para o mau estado em que
se encontravam as linhas.
Segundo Tito Teixeira, em 1917 entra outro empresário “na linha”: o português
José Monteiro da Silva, industrial do algodão, que também não resistiu muito
tempo repassando a empresa para o Tito Teixeira e Arlindo Teixeira Jr. por
trinta contos de réis. A essa altura, já passados alguns anos de sua instalação
em Uberabinha, a empresa só possuía cinquenta assinantes.
Mas o Tito e o Arlindo aguentaram alguns anos juntos. Enfim, em 1932, o Arlindo Teixeira Costa (que tinha mudado o seu nome para manter a razão social de uma outra empresa sua, atacadista de secos e molhados), passou sua parte para o Tito e surgiu a conhecida “Empresa Telefônica Teixeirinha” que se manteve em atividade até 1954, quando a CTBC assumiu o seu controle acionário. Daí para cá é o que todo mundo já conhece. (Fontes: jornais da época, Atas da Câmara Municipal, Tito Teixeira).
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Poema da Acadêmica Célia Laborne Tavares
NOITE CLARA
Rondas noturnas velam pela paz.
Dorme comigo o cheiro das estradas
e o brilho das estrelas se impregna de vida.
Um espectro adeja sobre as águas
e procura romper a santidade desta noite,
mas há luz no coração e há paz na emoção.
Poema do Acadêmico João Bosco de
Castro
Farpas de um Natal!
Um dia, tanto pecado
Deste Mundo tão boçal
Fez nascer um Menininho
̶ Assinzinho, qual
mindinho ̶ ,
Nas estivas dum curral,
Muito frio e emborrascado!
Nasceu, ali, entre reses,
Longe de plumas e painas,
E deu asilo aos pastores,
Amáveis contempladores,
E reanimou-lhes as fainas
Diárias, com bons jaezes!
Era, uma vez, um Menino!...
Era, uma vez, um minúsc’lo!...
Era, uma vez, um Divino
Que, sempre, será Maiúsc’lo!...
Enfrentou grandes torpezas,
Cultivou dotes gentis,
Não adulou as riquezas,
Mas perdoou gentes vis!
Coisou de cabras montesas,
Engalanou bem-te-vis,
Fez prodígios de proezas:
Amou verdugos hostis!
Ensinou a reis minazes,
Com seus verbos muito amáveis,
E enxotou ladrões vorazes,
Com chibatadas placáveis
̶
Pra que, na Paz, haja pazes
E momentos memoráveis!... ̶ ,
Em favor da Inteligência,
Contra qualquer violência!
Mas não pregou a discórdia,
Nem sustentou a injustiça,
Nem adotou a incúria,
Sequer a falácia e a injúria!
Não fez a mentira nem a preguiça,
Mas semeou a rosa da concórdia,
Da tolerância e do amor:
Da autodoação desinteressada!
Refutou hosanas e pilatarias,
Améns e quaisquer vilanias.
Não inventou a ganância
E a discriminação materialistas
E lucristas deste Natal faraônico,
Enganoso e antiCristo,
Que não Lhe pode ser a Festa
De Sua Santa Nascença,
Por injusta e por funesta,
Porque nos traz a descrença
E porque mutila a alegria
De milhões e milhões de criancinhas
Pobres e abandonadas,
A se mirrarem... Vexame!... :
“Eli! Eli! Lamma Sabactani!”,
Travos de vinagre e fel
Que espinham o coração e a vontade
Recôndita do mísero proletário,
Contra o vinho e o fino mel,
Que mais assanham ao onzenário
A cupidez marginalizadora
E esgorjante do poder econômico!
Um dia, todo o pecado
Desta Terra tão boçal
Fez nascer um Menininho
̶
Assinzinho, qual mindinho ̶ ,
Em borrascas, num curral,
Que tentou curar o Mundo,
Pestiloso, podre e imundo,
Mas não criou o Natal!
Belo Horizonte-MG, 10 de dezembro de 1987
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Poema de
Ubirajara Franco
VENDINHA
DA ESTRADA
Já não sou
advogado,
isto é
assunto encerrado!
Sou agora
o proprietário,
sem ser
latifundiário,
da
vendinha lá da estrada,
que só me
traz alegria,
e por mim
arrematada
em concorrido
leilão.
Não falo de rodovia
porque a estrada é de chão,
margeada pelos dois lados,
por arbustos de capim,
onde cobras serpenteiam,
saracuras gorjeiam,
e há lagartos assustado,
em disparada sem fim...
E onde
passam cavaleiros,
(eu não
disse cavalheiros)
pedestres
e carroceiros,
e também
carros-de-bois,
sem
pressa de chegar,
pois se
nada atrapalhar,
vão
chegar muito depois...
Para lá estou mudando,
e para sempre ficando
longe do computador
que me causa pavor.
Da música estridente
do meu vizinho de frente,
que é a razão dos meus ais!
Das etiquetas sociais,
da lâmpada fluorescente,
do meu cliente que enguiça
pelo atraso da justiça,
Daquele falso sorriso
que me dão quando é preciso
favores solicitar...
- O
que? Tudo abandonar?
(diz a
minha secretária)
E aquela
ação temerária,
com data
já marcada?
E a
audiência trabalhista
para
amanhã designada?
Qual audiência, qual nada!
E o Dr. Juiz está ciente
que não pedirei mais vista
dos autos de nenhum cliente!
E desse FORUM a escada,
com minha pasta pesada,
nunca mais hei de subir,
disposto para até mentir,
com testemunhas compradas,
já de mim envergonhadas!
Não mais
o meu parecer
para o
Juiz convencer
que a
verdade do meu cliente
é a
verdade verdadeira,
porque a
SUPREMA VERDADE,
está
naquela vendinha,
a casa
toda branquinha,
bem ao
lado da paineira,
onde em
preguiçosa tarde,
a
patativa anuncia
a hora da
AVE-MARIA.
E os
homens da freguesia,
suas mãos
cheias de calos,
ficam
pitando... assuntando...
enquanto
os seus cavalos
com seus
rabos afugentam
os
mosquitos que os atentam!...
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