ÁLCOOL → Uso v. Abuso
Klinger Sobreira de Almeida *
Em 07Fev22, no Flow Podcast (Estúdio Flow), o Youtuber Bruno Aiub,popularmente conhecido por Monark, durante um diálogo com os deputados federais Kim Kataguiri e Tabata Amaral, fez a apologia do Nazismo, com uma clareza impressionante, inclusive preconizando a legalização de um Partido Nazista no Brasil. Conduta estarrecedora e inaceitável pelo povo brasileiro!
A postura do Youtuber, à guisa de
liberdade de expressão, acarretou, além de repúdio nacional e internacional,
seu desligamento imediato da entidade de comunicação. Por outro lado, diversos
patrocinadores romperam os contratos de apoio ao Flow Podcast.
A Ideologia Nazista – fundada no
mal, ódio e intolerância – que causou
uma tempestade destruidora no século passado, culminando com uma guerra cruel,
é considerada como fato delinquencial no Brasil e em todo o mundo
civilizado. No entanto, uma
insignificante minoria, de baixíssimo nível consciencial e séria deficiência
mental, costuma levantar loas e propugnar o retorno dessa idiossincrasia moral,
já sepultada na história. Em decorrência, a Procuradoria Geral de Justiça, acionada
por diversas instituições e cumprindo seu dever constitucional, iniciou
investigação criminal, visto que ficara evidenciada, publicamente, a apologia de
crime tenebroso.
O insensato Youtuber, assim que
viu a repercussão negativa de sua conduta e as consequências que lhe poderiam
advir, vem tentando se desculpar (num aparente arrependimento), alegando que se
encontrava sob efeito de excesso de bebida alcóolica (embriaguez). Trata-se de
saída tola, pois a embriaguez, à luz da lei penal, não constitui excludente de
criminalidade e nem mesmo atenuante.
A tola desculpa do infrator
fez-me recordar de um dito popular que, em criança, vi minha genitora enunciar:
“A cachaça é a saca-rolha da verdade.”
Àquela época, a embriaguez alcóolica, nos rincões do interior, era ocasionada
principalmente pela cachaça (a cerveja, rara, e o whisky, inexistente). A
expressão cunhada pela sabedoria popular abria a comporta interior do indivíduo
e constituía uma assertiva inexorável: o
ébrio se torna um falador; costuma exteriorizar opiniões, preferências,
fraquezas morais e segredos que traz escondido no fundo da alma.
Ao longo de minha extensa vida
profissional, a ensinança popular serviu-me de guia: uso controlado e moderado
de bebida alcóolica nos eventos sociais, além de ouvido atento, mormente em
razão da profissão. Com isto, ouvi muitas verdades e segredos que se achavam na
escuridão. Lembro-me dos jantares empresariais, mormente em Brasília, quando o
whisky correndo solto nos permitia assenhorear de mazelas, traições e até mesmo
conluios criminosos na seara da corrupção.
Na linha da sabedoria popular, o
álcool em excesso fez com que o Youtuber Monark, entusiasmado numa sessão de
elevada audiência, extravasasse o que estava acolhido em seu interior, ou seja,
a admiração pela ideologia Nazista. Passado o momento, e à luz das
consequências, ele demonstra arrependimento tardio, que ninguém acredita.
Manifestações de dois ministros
do STF refletem o pensamento geral – (1) Gilmar Mendes: “Qualquer apologia a nazismo é criminosa, execrável e obscena”; (2)
Alexandre Moraes: “O direito fundamental
à liberdade de expressão não autoriza a abominável e criminosa apologia ao
nazismo”.
O episódio, a par de evidenciar o repúdio ao nazismo, deixa uma lição aos descuidados no uso do álcool: cuidado com o abuso; sua língua pode ficar solta e desvendar segredos ocultos!
* Klinger Sobreira de Almeida – Militar Veterano/PMMG
Membro Efetivo-Fundador da Academias de Letras João Guimarães Rosa
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