sábado, 2 de abril de 2022

 

110 segundos

 

Cesar Vanucci

 

“A guerra é o fracasso da humanidade”

(Papa Francisco)


Um minuto e quarenta segundos, cento e dez segundos. É o tempo que resta, de acordo com a marcação dos ponteiros do “Relógio do Juízo Final”, para que soem as badaladas fatídicas que nenhum vivente, em sã consciência, deseja jamais escutar. Denominado ainda, por muitos, “Relógio do Apocalipse”, esse dispositivo simbólico foi instituído, em 1947 pelos mais importantes cientistas atômicos, apreensivos com as sandices humanas, como instrumento destinado à medição da temperatura das tensões mundiais.

A movimentação do relógio, avanços e recuos ditados pelas circunstâncias, consideradas as análises de especialistas atentos à evolução dos acontecimentos políticos, sociais, econômicos, militares processados em todos os “frontes” da vida, é feita por um comitê de especialistas da cúpula científica internacional. O dispositivo criado pelos sábios faz uso de uma analogia onde a raça humana é posicionada, num tempo imaginário, a poucos minutos da meia noite. A meia noite, no caso, representa o fim do mundo. O primeiro alerta, em 1947, no auge da “Guerra Fria” fixou marco de 7 minutos para as badaladas derradeiras. Dali pra frente os ponteiros avançaram e retrocederam um sem número de vezes, prenunciando a iminência de catástrofes ou um arrefecimento nos impulsos belicistas das lideranças. Os ajustes dos ponteiros são arbitrários, provindos das percepções dos cientistas. Evidente que as alterações são acompanhadas com preocupação, em todo o planeta.

Aqui estão, extraídos de Informe da BBC alguns registros relevantes das oscilações dos ponteiros do “Relógio”. Em 1947, a hora fixada era 11h53m. Em 1949, o relógio vai para 11h57m, pelo fato de haver ocorrido teste nuclear russo.

Em 1953, os EUA e União Soviética testam artefatos termonucleares. O relógio indica 11h58m. Em 60, o “horário” é de 11h53m, como resposta a uma percepção de um aumento da cooperação científica e compreensão pública dos perigos das armas nucleares. Em 1963, os EUA e Rússia, assinam o Tratado de Interdição Parcial de Ensaios Nucleares, limitando testes atmosféricos. O relógio pontua: 11h48m.Em 1968, França e China testam armas nucleares. Paralelamente, eclodem Guerras no Oriente Médio e no Vietnã.

Os ponteiros fatais acusam: 11h53m. A ratificação do “Tratado de não proliferação das armas atômicas”, pelo senado dos EUA, em 1969 altera uma vez mais a pontuação: 11h50m.

No ano de 1972, é firmado o Acordo de Limitação de Armamentos Estratégicos e o Tratado Antimíssil balístico. Os riscos na marcha contra a vida diminuem 2 minutos. Dois anos depois, os riscos voltam a crescer. A Índia testa armas nucleares. Em 1980, o marcador volta para 11h53m forçado por impasses nas conversações entre as grandes potências.

Em 1881, o relógio assinala 11h56m, devido aos conflitos no Afeganistão e África do Sul. No governo Reagan, 1984, aumenta a corrida armamentista e o relógio marca 11h57m.

Esse “vai e vem” do relógio deflui das marchas e contra marchas da conturbada jornada humana. Quantos fatos impactantes transcorreram de1984 até o dia de hoje! Citemos alguns, à guisa de ilustração. Queda do “Muro de Berlin”, desintegração do bloco soviético, atentado das torres gêmeas, guerra no Afeganistão, ingresso da Coréia do Norte no fechado “Clube Atômico”, incremento das repulsivas ações terroristas, conflito sem fim à vista na Síria, corrida armamentista ininterrupta, agressões incessantes ao meio ambiente, conflitos tribais no continente africano e por aí vai... E mais: desigualdades sociais e pobreza extrema, pandemias fora de controle, entre outras mazelas. Agora, em 2022 mais uma guerra na Europa.

Sabe caro leitor, qual a pontuação do relógio neste momento? A mais próxima, desde que o mundo é mundo do Armagedon dos temores globais: 110 segundos. Que Deus nos proteja!

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