A magia
da palavra de Guima
Cesar Vanucci
“Se
todo animal inspira ternura,
o
que houve, então, com os homens?”
Na fascinante obra de
Guimarães Rosa as palavras jorram com fragor de cachoeira. O genial escritor,
com seu arrebatante lirismo, arranca da vida e cenários da natureza definições
coloridas e aromáticas que tocam fundo a sensibilidade e deixam a alma
extasiada.
Vejam se temos ou não razão em
ousar dizer esse tanto de coisas lendo a sequência de frases rosianas abaixo
alinhadas, colhidas no site “O Pensador”:
O correr da vida embrulha tudo. A vida é assim: esquenta e esfria,
aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é
coragem. /Felicidade se acha é em horinhas de descuido. /O mais importante e
bonito do mundo é isso: que as pessoas não estão sempre iguais, mas que elas
vão sempre mudando. /É preciso sofrer depois de ter sofrido, e amar, e mais
amar, depois de ter amado. /Entre as folhas de um livro-de-reza um
amor-perfeito cai. /Deus nos dá pessoas e coisas, para aprendermos a alegria.
Depois, retoma coisas e pessoas para ver se já somos capazes da alegria
sozinhos... Essa... a alegria que ele quer. /Infelicidade é uma questão de
prefixo. /O mundo é mágico. As pessoas não morrem, ficam encantadas. /Sorte é
isto. Merecer e ter. /Digo: o real não está na saída nem na chegada: ele se
dispõe para a gente é no meio da travessia. /Mestre não é quem sempre ensina,
mas quem de repente aprende. /Tem horas antigas que ficaram muito mais perto da
gente do que outras, de recente data. / Mas eu gostava dele, dia mais dia, mais
gostava. Digo o senhor: como um feitiço? Isso. Feito coisa-feita. Era ele estar
perto de mim, e nada me faltava. Era ele fechar a cara e estar tristonho, e eu
perdia meu sossego. /Qualquer amor já é um pouquinho de saúde, um descanso na
loucura. /O rio não quer chegar, mas ficar largo e profundo. / No mais, mesmo,
da mesmice, sempre vem a novidade. /A culpa minha, maior, é meu costume de
curiosidade de coração. Isso de estimar os outros, muito ligeiro, defeito esse
que me entorpece. /Amigo, para mim, é só isto: é a pessoa com quem a gente
gosta de conversar, do igual o igual, desarmado. Ou - amigo - é que a gente
seja, mas sem precisar de saber o porquê é que é. /Viver é uma questão de
rasgar-se e remendar-se. /Sertão é onde o pensamento da gente se forma mais
forte do que o lugar. Viver é muito perigoso. /A gente cresce sempre, sem
saber para onde. /Quando eu morrer, que me enterrem na beira do chapadão, contente com
minha terra, cansado de tanta guerra, crescido de coração. /Chegando na
encruziada tive que me arrezolver... prá esquerda fui contigo... Coração soube
escolher. /Por esses longes todos eu passei, com pessoa minha no meu lado, a
gente se querendo bem. O senhor sabe? Já tenteou sofrido o ar que é saudade?
Diz-se que tem saudade de ideia e saudade de coração. / Há qualquer coisa no ar
além dos aviões da Panair. /Significa que posso não ter muito conhecimento e/ou
experiência, porém desconfio de como as coisas sucedem já que possuo
imaginação. / O amor não precisa de memória, não arredonda, não floreia: faz
forte estilo. E fim. /É e não é. O senhor ache e não ache. Tudo é e não é.
/Sempre que se começa a ter amor a alguém, no ramerrão, o amor pega e cresce é
porque, de certo jeito, a gente quer que isso seja, e vai, na ideia, querendo e
ajudando, mas quando é destino dado, maior que o miúdo, a gente ama inteiriço
fatal, carecendo de querer, e é um só facear com as surpresas. Amor desse,
cresce primeiro; brota é depois. / Penso que
chega um momento na vida da gente, em que o único dever é lutar ferozmente por
introduzir, no tempo de cada dia, o máximo de "eternidade”.
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