Daniel Antunes Jr.
Membro do Instituto Histórico e Geográfico MG, Academia Municipalista de Letras de MG e da Academia Mineira de Leonismo. Completou recentemente 100 anos de fecunda existência
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Viajei, certa vez, com o então Senador Benedito Valadares, sentados,
lado a lado, no avião. Fui distinguido com sua amizade e consideração, num
bate-papo prolongado, no curso do qual ele me contou lances importantes de sua
vida pública. Pouca gente sabe que o Esperidião, personagem estereotipado de
seu livro, tratado com fina ironia, foi o Melo Vianna, seu adversário político.
Numa alegoria sutil, assim o definiu, indiretamente: ”A política mineira faz
lembrar uma colcha de retalhos. Tecida pelas mãos hábeis das avós, os retalhos
que mais sobressaem não são de linho nem de seda, mas de algodão grosso de cor
berrante. É justo que assim seja. O algodão é planta da casa, acostumado ao
clima inconstante e à terra sem adubo. Dá até no alto do morro, no meio das
pedras, castigado pelo sol“. Vejam que a estátua imponente, que se ergue na
praça, frente à estação ferroviária, devia simbolizar a pacificação da política
mineira, com o coronel Timóteo cumprimentando o bacharel Esperidião (Melo Vianna).
Mas, como está relatado no interessante livro de Benedito Valadares, por falta
de recursos, o Prefeito decidiu perante o escultor italiano, encarregado da
obra: “Nem o bacharel nem o coronel. Vamos substituir tudo pelo mineiro nu. O
mineiro nu é que deve simbolizar Minas, na sua pureza de intenções, agitando o
turíbulo do voto secreto no altar da liberdade. O mineiro nu, envolto, apenas,
na bandeira nacional.” E assim foi feito.
- PARENTE, O ACENDEDOR DE LAMPIÕES.
Quando a gente vinha a pé da fazenda da Jurema, já na boquinha da noite, avistávamos ao longe o casario iluminado com os lampiões de querosene. Com a inauguração da luz elétrica, promovida pelo Prefeito Cangussú, o acendedor de lampiões, nosso amigo Parente, assim chamado o Gasparino (que tinha o nariz pontudo, lembrando o Pinóquio), foi “arquivado”. Perdeu a função, mas deixou a saudade dos velhos tempos em que Lençóis do Rio Verde mal despontava na sua vocação progressista. Parente foi uma figura quase lendária. Pouco tempo depois das trindades, (toque das ave-marias), lá vinha ele conduzindo ao ombro pequena escada para subir ao poste do lampião, enquanto o filho Dodô, (pai do Didi) seu auxiliar, trazia o material necessário para ativar o candeeiro propriamente dito, no qual adicionava o querosene estritamente necessário, para manter a iluminação até a meia-noite, quando a chama apagava...Contava Dinha Nena, minha mãe, que o pasquim manuscrito, de autor desconhecido, com as fofocas do dia, envolvendo casais na berlinda, eram deixados misteriosamente nos lampiões, altas horas da noite, causando pasmo... Consta que alguém passou a noite escondido entre os galhos de uma árvore ao lado, mas não conseguiu desmascarar o autor da brincadeira.
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