sexta-feira, 3 de junho de 2022

 

Ser mãe, ser mestra   

Cesar Vanucci

 

 “Fui mãe universitária e entendo.”

(Kezia_Torres)

 

 “Perdi meu título de mestre, porque virei mãe.” Ambar Soldevila Córdoba, Bióloga, residente em Lavras Novas, distrito de Ouro Preto, postou nas redes sociais uma mensagem que viralizou em curto espaço de tempo. Várias dezenas de manifestações de solidariedade se fizeram ouvir em todas as partes do país, compreendendo divulgação na imprensa e registros nas tribunas parlamentares, além de pronunciamentos de órgãos de direitos humanos. Cuidemos de conhecer agora o que diz:  Meu nome é Ambar (@ambarsol), tenho 29 anos, sou bióloga e mãe do Caetano, de 8 meses. Gostaria de contar minha história com o intuito de pedir apoio e engajamento para uma discussão importante sobre os desafios de uma mulher-mãe-acadêmica. Engravidei do Caetano no meu último ano de mestrado na UFOP (Universidade Federal de Ouro Preto), e trabalhei muito, muito mesmo pra esse mestrado. Um trabalho árduo, com muitas noites sem dormir, antes e durante a gravidez. Apresentei minha dissertação com 36 semanas de gestação - porque foi negado meu pedido de licença maternidade, já que meu filho nasceria fora do período de regência da bolsa da CAPES, fui aprovada pela banca, e após exatamente 19 dias da apresentação, meu filho nasceu. Eu estava passando por um dos momentos mais desafiadores da minha vida, não tive rede de apoio, eu e meu companheiro estávamos com dificuldades financeiras, com uma dívida enorme (...)”.  E, mais adiante: “Eu só conseguia pensar em descansar, cuidar do meu filho e atender minhas necessidades básicas.
Quando estava grávida entrei em contato com o programa perguntando sobre a possibilidade de estender o prazo da dissertação (...). A resposta foi muito clara: eu não tinha direito a licença maternidade, e deveria trabalhar com o tempo que tinha. No manual do aluno (...) está em caixa alta “PRAZO IMPRORROGÁVEL” para a entrega da versão definitiva da dissertação. Como regras do PPG, se você não entrega sua versão definitiva e a submissão do artigo, você não tem direito ao título de mestre.
É claro (...) que, não consegui entregar a dissertação a tempo. Depois que o prazo havia expirado, recebi um e-mail dizendo que iria perder o título (...)”

“Gostaria de destacar a falha nas resoluções sobre a maternidade na pós-graduação. A recente resolução (CEPE 8039) não protege as mulheres que têm filhos depois da defesa da dissertação, e necessitamos mudar essa legislação. Foi apenas em 2010 que a CAPES regulamentou o direito à licença maternidade às pós-graduandas... Sendo que o período de licença maternidade não computa no prazo máximo para a defesa e deveria ser no prazo máximo para obtenção do grau acadêmico. (...) Enviei justificativa, alegando todas as dificuldades da maternidade e financeiras, já que não pude terceirizar os cuidados com meu filho e com a casa. Pedi, portanto, novamente, a extensão do prazo de entrega. O colegiado do PPG primeiramente negou meu pedido, mas como não sabia qual resolução CEPE regia o meu caso, eles consultaram o jurídico para saber se deveria enviar as justificativas para o colegiado ou para instância superior. Posteriormente o jurídico respondeu que regia era o CEPE novo 8039, então quem julgaria minha justificativa deveria ser o colegiado. (...) Corri atrás e entreguei a versão definitiva da dissertação e submeti o artigo, antes da reunião do colegiado. Mesmo fora do prazo, entreguei o que faltava. Mas mesmo assim me foi negado o título. O motivo MATERNIDADE não é suficiente. Alegam que fui negligente, mas negligente foi a UFOP por não ter me dado amparo no momento em que eu mais precisei (...). Meu direito ao resguardo pós-parto foi completamente ignorado. Minha maternidade foi silenciada. Não existe igualdade de gênero na pós-graduação. Você acabou de ter um filho? Se vire e trabalhe com o tempo que você tem! Mas não vou me calar frente a essa injustiça, pois quero meu título de volta! Espero que meu caso sirva para que a universidade repense as resoluções e garanta direitos mínimos para as mulheres-mães-acadêmicas. (...)”

 

     Ambar levanta uma bandeira de luta em prol dos direitos da mulher merece todo apoio.

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