Negacionismo Eleitoral
“Quem ataca a eleição semeia a antidemocracia”. (Edson Fachin – Presidente do TSE)
CESAR VANUCCI*
Mais essa, agora: negacionismo eleitoral. Dos arroubos retóricos açodados e impertinentes do Presidente Jair Messias Bolsonaro brota outra perturbadora encrenca política com ressonância fora de nossas fronteiras.
S. Exa. entendeu, de repente, num de seus desconcertantes impulsos de beligerante sem causa, de convidar parte do corpo diplomático acreditado em Brasília, para uma despropositada fala de crítica acerba ao sistema eleitoral do país do qual é dirigente. O inverossímil questionamento deixou a opinião pública brasileira, os círculos políticos e os meios diplomáticos, estarrecidos. Nunca, jamais, em tempo algum, alguém deu notícia de algo desse gênero!
Tomados de indignação e inconformismo, os setores democráticos reagiram à insólita manifestação, que abrangeu também ataques a ilustres integrantes do Supremo Tribunal Federal. O Ministro Presidente do TSE, Edson Fachin, em lúcido pronunciamento lançou no ar a expressão “populismo autoritário” ao exprimir repulsa pelo ocorrido. Assinalou, com todas as letras, pontos e virgulas: “Mais uma vez, a Justiça Eleitoral e seus representantes máximos, são atacados com acusações de fraude, ou seja, uso de má fé. Ainda mais grave o envolvimento da política internacional e das forças armadas. É hora de dizer basta a desinformação e ao populismo autoritário que coloca em xeque a Constituição de 1988”.
O Presidente do Congresso Nacional, Senador Rodrigo Pacheco, reafirmou, por sua vez de forma peremptória que as urnas eletrônicas constituem um instrumento confiável e legítimo das práticas democráticas em vigor. Nesse mesmo tom, houve uma sequência vasta de declarações formuladas por lideranças políticas e de outros segmentos participativos da vida econômica e social brasileira. Até mesmo partidários do Presidente Jair Bolsonaro demonstraram, de forma bastante visível, constrangimento com relação aos fatos. Tem-se como certo, por sinal, que algumas vozes mais moderadas dos redutos governistas vêm insistindo com Bolsonaro para que adote procedimentos mais brandos ao externar suas ideias, deixando de lado essa questão do voto eletrônico, acatado como sabido e notório pela maioria da sociedade.
Dias antes dessa última tentativa presidencial de desmoralização do processo eleitoral que, por sinal, possibilitou, sem tropeços, sua ascensão ao poder em 2018, na Catedral da Sé, em São Paulo, num culto ecumênico em memória do indigenista Bruno Pereira e do jornalista Don Phillips, assassinados na Amazônia, autoridades religiosas de
diferentes crenças lamentaram o posicionamento assumido por Bolsonaro e seus adeptos nesse desconcertante capítulo do processo de votação.
Diplomatas estrangeiros, ouvidos por jornalistas brasileiros, foram unânimes em registrar seu espanto diante do acontecimento. Muitos deles, como já havia sido feito, algum tempo atrás, pelo Presidente Joe Biden dos EUA emitiram a opinião de que o sistema da votação eletrônica, empregado com sucesso no Brasil, não comporta esse tipo de questionamento que vem sendo trazido a público.
Uma coisa, a essa altura revela-se bem nítida no sentimento nacional: o negacionismo eleitoral está causando fadiga e stress à sociedade brasileira. Já está passando a hora de se pôr um basta nesta arenga eleitoreira descabida e antidemocrática. O que o Brasil mais deseja é que as eleições se efetivem na forma preconizada e apontem resultados que traduzam a soberana vontade popular, qualquer que seja ela, como estipula um saudável jogo democrático.
*Jornalista (cantonius1@yahoo.com.br)
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