quinta-feira, 8 de setembro de 2022

 

O Manifesto dos Bispos

*Cesar Vanucci

 

“Nossas alegrias e esperanças, tristezas e angústias são as mesmas de cada brasileiro”.

 (Bispos da Igreja Católica)

 

O manifesto recente dos Bispos à nação chega numa hora bastante oportuna e se mescla admiravelmente, com o poderoso simbolismo da celebração de nossa magna data cívica. O que é proclamado no substancioso documento está em rigorosa consonância com os sentimentos das ruas e dos lares. Com efeito, eles asseveram, com sabedoria apostólica e inconteste autoridade moral: “Nossas alegrias e esperanças, tristezas e angústias  são as mesmas de cada brasileira e brasileiro. Com esta mensagem, queremos falar ao coração de todos”. “(...)” “nossa fé comporta exigências éticas que se traduzem em compaixão e solidariedade concretas. O compromisso com a promoção, o cuidado e a defesa da vida, desde a concepção até o seu término natural, bem como, da família, da ecologia integral e do estado democrático de direito estão intrinsecamente vinculados à nossa missão apostólica.”

No lúcido manifesto eclesiástico que conta com a assinatura dos 292 Bispos da igreja católica, é acentuado que em todas as ocasiões que os compromissos são abalados, “não nos furtamos em levantar nossa voz”. Os pastores reconhecem o tempo difícil pelo qual o povo brasileiro e o país atravessam.  Registram, a propósito: “Nosso País está envolto numa complexa e sistêmica crise, que escancara a desigualdade estrutural, historicamente enraizada na sociedade brasileira. Constatamos os alarmantes descuidos com a Terra, a violência latente, explícita e crescente, potencializada pela flexibilização da posse e porte de armas que ameaçam o convívio humano harmonioso e pacífico na sociedade. Entre outros aspectos destes tempos estão o desemprego e a falta de acesso à educação de qualidade para todos”.

A fome pontuam ainda os Bispos, é o mais cruel e contundente problema enfrentado pela sociedade. “A alimentação – argumentam - é um direito inalienável (cf. Papa Francisco, Fratelli Tutti, 189)”. O que e dito pelos Bispos reforça os dados do relatório da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura, onde se aponta que a quantidade de brasileiros que enfrentam algum tipo de insegurança alimentar ultrapassou a marca de 60 milhões.

As instituições democráticas brasileiras são defendidas, na proclamação, com bastante ênfase. “Como se não bastassem todos os desafios estruturais e conjunturais a serem enfrentados, urge reafirmar o óbvio: “Nossa jovem democracia precisa ser protegida, por meio de amplo pacto nacional. Isso não significa somente ‘um respeito formal de regras, mas é o fruto da convicta aceitação dos valores que inspiram os procedimentos democráticos […] se não há um consenso sobre tais valores, se perde o significado da democracia e se compromete a sua estabilidade’”

Os bispos expressaram ainda preocupação com a manipulação religiosa e  disseminação de fake News que têm o poder de desestruturar a harmonia entre pessoas, povos e culturas, colocando em risco a democracia. Disseram: “A manipulação religiosa, protagonizada por políticos e religiosos, desvirtua os valores do Evangelho e tira o foco dos reais problemas que necessitam ser debatidos e enfrentados em nosso Brasil. É fundamental um compromisso autêntico com o Evangelho e com a verdade”.

Há no documento um alerta acerca dos riscos que corremos diante de tentativas, veladas ou ostensivas, de ruptura da ordem institucional. Estas tentativas colocam em xeque – reconhecem os Prelados - a lisura desse processo, bem como, a conquista irrevogável do voto.  Afiançam categoricamente: “Pelo seu exercício responsável e consciente, a população tem a capacidade de refazer caminhos, corrigir equívocos e reafirmar valores. Reiteramos nosso apoio incondicional às instituições da República, responsáveis pela legitimação do processo e dos resultados das eleições”.

 

 

Jornalista(cantonius1@yahoo.com.br)

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