O
Manifesto dos Bispos
*Cesar Vanucci
“Nossas alegrias e esperanças, tristezas e angústias são as mesmas de cada brasileiro”.
(Bispos da
Igreja Católica)
O manifesto recente dos Bispos à nação chega numa hora
bastante oportuna e se mescla admiravelmente, com o poderoso simbolismo da
celebração de nossa magna data cívica. O que é proclamado no substancioso
documento está em rigorosa consonância com os sentimentos das ruas e dos lares.
Com efeito, eles asseveram, com sabedoria apostólica e inconteste autoridade
moral: “Nossas alegrias e esperanças, tristezas e angústias são as mesmas de cada brasileira e
brasileiro. Com esta mensagem, queremos falar ao coração de todos”. “(...)” “nossa
fé comporta exigências éticas que se traduzem em compaixão e solidariedade
concretas. O compromisso com a promoção, o cuidado e a defesa da vida, desde a
concepção até o seu término natural, bem como, da família, da ecologia integral
e do estado democrático de direito estão intrinsecamente vinculados à nossa
missão apostólica.”
No lúcido manifesto eclesiástico que conta com a
assinatura dos 292 Bispos da igreja católica, é acentuado que em todas as ocasiões
que os compromissos são abalados, “não nos furtamos em levantar nossa voz”. Os pastores
reconhecem o tempo difícil pelo qual o povo brasileiro e o país atravessam. Registram, a propósito: “Nosso País está
envolto numa complexa e sistêmica crise, que escancara a desigualdade
estrutural, historicamente enraizada na sociedade brasileira. Constatamos os
alarmantes descuidos com a Terra, a violência latente, explícita e crescente,
potencializada pela flexibilização da posse e porte de armas que ameaçam o
convívio humano harmonioso e pacífico na sociedade. Entre outros aspectos destes
tempos estão o desemprego e a falta de acesso à educação de qualidade para
todos”.
A fome pontuam ainda os Bispos, é o mais cruel e contundente
problema enfrentado pela sociedade. “A alimentação – argumentam - é um direito
inalienável (cf. Papa Francisco, Fratelli Tutti, 189)”. O que e dito pelos
Bispos reforça os dados do relatório da Organização das Nações Unidas para a
Alimentação e a Agricultura, onde se aponta que a quantidade de brasileiros que
enfrentam algum tipo de insegurança alimentar ultrapassou a marca de 60
milhões.
As instituições democráticas brasileiras são defendidas,
na proclamação, com bastante ênfase. “Como se não bastassem todos os desafios
estruturais e conjunturais a serem enfrentados, urge reafirmar o óbvio: “Nossa
jovem democracia precisa ser protegida, por meio de amplo pacto nacional. Isso
não significa somente ‘um respeito formal de regras, mas é o fruto da convicta
aceitação dos valores que inspiram os procedimentos democráticos […] se não há
um consenso sobre tais valores, se perde o significado da democracia e se compromete
a sua estabilidade’”
Os bispos expressaram ainda preocupação com a
manipulação religiosa e disseminação de
fake News que têm o poder de desestruturar a harmonia entre pessoas, povos e
culturas, colocando em risco a democracia. Disseram: “A manipulação religiosa,
protagonizada por políticos e religiosos, desvirtua os valores do Evangelho e
tira o foco dos reais problemas que necessitam ser debatidos e enfrentados em
nosso Brasil. É fundamental um compromisso autêntico com o Evangelho e com a
verdade”.
Há no documento um alerta acerca dos riscos que
corremos diante de tentativas, veladas ou ostensivas, de ruptura da ordem
institucional. Estas tentativas colocam em xeque – reconhecem os Prelados - a
lisura desse processo, bem como, a conquista irrevogável do voto. Afiançam
categoricamente: “Pelo seu exercício responsável e consciente, a população tem
a capacidade de refazer caminhos, corrigir equívocos e reafirmar valores.
Reiteramos nosso apoio incondicional às instituições da República, responsáveis
pela legitimação do processo e dos resultados das eleições”.
Jornalista(cantonius1@yahoo.com.br)
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