Democracia alvejada
*Cesar
Vanucci
“Ato
programado contra a Democracia .”( Fernando Abrucio, jornalista)
Os impactantes acontecimentos protagonizados
pelo ex-parlamentar Roberto Jefferson constituem uma demonstração cabal da
força demolidora do fanatismo em quaisquer de suas variáveis políticas e
religiosas. O desvairado aliado de Jair Bolsonaro, com atuação intensa desde a
primeira hora e na linha de frente na
campanha sucessória, foi arrastado pelos atos afrontosos cometidos a uma
inglória confrontação com as instituições democráticas, legislação penal e
regras civilizatórias. Participando de articulações para tumultuar pra valer,
com fitos antirrepublicanos, o segundo turno das eleições, confirmou sua
condição de terrorista enfronhado em maquinações perversas que agrediram em
cheio a consciência cívica nacional. Nos descaminhos percorridos acabou embarafustando
em beco sem saída.
Numa investigação aprofundada que a opinião pública
exige seja promovida, o talibanista de Comendador Levy Gasparian, se verá, certeiramente, obrigado a explicar, tintim por tintim, a
tresloucada enrascada em que se meteu. Terá que esclarecer se agiu
solitariamente ou solidariamente com extremistas de seu naipe.
Recolido
à residência, em prisão domiciliar ocasionada por alegados problemas de saúde,
Jefferson usou e abusou da prerrogativa que lhe foi concedida. Descumpriu todas
as medidas cautelares estabelecidas. Frequentou febricitantemente as redes
sócias para insultos, sublevações e apelos a copinchas, tão coléricos quanto ele,
para saírem armados às ruas e invadir dependências
do Poder Judiciário. Desferiu, com torpeza inaudita, ataques injuriosos a
Ministros do Supremo e outras personalidades. Deixou-se fotografar empunhando
armas de auto calibre, em manifestações hostis a autoridades e lideranças.
No
domingo 23 de outubro, faltando uma semana para a definição das eleições, ao
ser chamado às falas pela Justiça, reagiu de forma calculada e extrema
ferocidade à ação da policia federal encarregada de conduzi-lo de volta à
prisão. Entrincheirado em sua mansão disparou 50 projeteis com fuzil provido de
mira telescópica e arremessou 3 granadas na direção dos agentes que ali estavam
cumprindo ordem superiores, ferindo dois deles, danificando uma viatura
oficial, por pouco não provocando uma tragédia de proporções mais avultadas.
O que
aconteceu em seguida, gerando atmosfera de filme de suspense, foi bastante
preocupante. O governo anunciou a ida do Ministro da Justiça ao local para
provável e descabida negociação com o ex- parlamentar sedicioso, que postou
mensagem dizendo que não se renderia aos policiais. O contato do Ministro com o
dito cujo, se ocorreu, terá sido apenas por telefone. A polícia Federal teve
comportamento diferenciado e comedido, até que a prisão fosse consumada.
Algumas pessoas de proa da mesma corrente política de Jefferson deram realce
nas redes a sua belicosa conduta, enaltecendo a “façanha”. Chegou-se ao cumulo de convocar simpatizantes para postarem-se
à volta da residência cercada pela lei, com o objetivo de impedir sua detenção.
Jornalistas que cobriam o fato foram intimidados e agredidos. Um irresponsável
deputado federal extrapolou todos os limites, anunciando, espalhafatosa e falsamente
que tropa do exercito seria deslocada para Levy Gasparian, a fim de resguardar
o autor da inominável balbúrdia. Até o autodenominado
padre kelman, personagem sem votos (inclusive sacerdotais, como dito
repetidamente na imprensa) que andou bagunçando debate importante para a vida brasileira, apareceu
diante dos holofotes da tevê posando de negociador.
Chamou a atenção dos observadores a
circunstancia de que no epilogo da trama os apoios da patota de Roberto
Jefferson foram minguando, cedendo lugar a versões surreais e desconexas do
acontecido.
Esse chocante capítulo da historia política
brasileira terá, obviamente muitos desdobramentos. Ficará para sempre
reconhecido como uma tentativa insidiosa de alvejar a Democracia.
Jornalista(cantonius1@yahoo.com.br)
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