Política da vida
*Cesar Vanucci
"(...) Política é nobilitante e expressa sentido de cidadania.” (Padre Juvenal Arduini, sociólogo e professor)
Criatura admirável, provida de incomum sabedoria,
soube colocar os talentos do espírito a serviço do mundo, das causas sociais,
dos excluídos na partilha dos bens terrenos prodigalizados pela Natureza ou
produzidos pelo labor humano.
Chamava-se Juvenal Arduini. Padre, escritor, sociólogo, professor,
tribuno eletrizante. Desfrutei do privilégio de extensa convivência, muito
fecunda para mim em benefícios, com esse admirável mestre. Em certa ocasião, ao
homenageá-lo, disse-lhe que o considerava o padre Lebret brasileiro. Atualizo o
conceito. Nutro hoje convicção plena - repassando lances do seu trabalho
apostólico e revendo escritos brotados de sua pena refulgente e ensinamentos
transmitidos em sua fala civicamente desassombrada - que faz todo o sentido proclamar
também que o citado padre Lebret, festejado pensador, foi o Juvenal Arduini
francês.
Ao relembrar personagem de tão maiúscula presença na
cena intelectual, aquinhoado de dons humanísticos e espirituais invejáveis,
amigo muito querido, meu compadre, tomo a liberdade de substituir, com notória
vantagem para o leitor, meu comentário nesta fase eleitoral por palavras
extraídas da vasta e valiosa obra deixada pelo mestre. São pensamentos
vigorosos, oportunos e atuais, como se verá adiante.
Vamos lá. Assim falou Juvenal: “Em tempo de eleições
(...) é oportuno refletir sobre a política. Política deriva de “poleteia”, no
grego. “Polis” significa cidade, região habitada. E “polites” é cidadão.
Verifica-se que, originalmente, política é nobilitante e expressa sentido de
cidadania.
Política é fenômeno eminentemente social e promove a
sociedade como todo. Política tem significado de associação, convivência e
aliança. A política existe para reunir pessoas, integrar grupos e povos para
responder aos desafios sociais. A verdadeira política suscita a socialização
substancial e elimina o dilaceramento feroz entre pessoas, organizações e
partidos.
A política está organicamente ligada ao povo. É
destinada a servir o povo e não a subordiná-lo a interesses mesquinhos. A
Constituição brasileira foi ousada e lúcida ao tratar da relação entre poder e
povo. No artigo primeiro, parágrafo 1, a Constituição declara: “Todo poder
emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente,
nos termos desta Constituição”. Aí está proclamação constitucional lapidar que
dignifica Nação moderna. O poder emerge do povo. E também é exercido pelo povo
mediante os eleitores ou diretamente. O poder está no povo,
permanece no povo. O povo pode outorgar funções aos políticos, mas não lhes
transfere o poder. Estritamente, o poder é do povo e não dos governantes. Há
políticos que agem como se fossem donos do poder, que pertence ao povo. Isso é
usurpação do poder popular.
Há muitos tipos de política. A política humanizada,
social, ética e comprometida com a população. A política prostituída, corrupta
e perversa. A política autoritária, tirânica e a política submissa, servil. Há
política séria que responde às necessidades da população e política corrompida
que se apodera dos recursos que pertencem aos pobres.” (...) “A realidade
política, em si, é valor humano, social, cultural e histórico. A política sadia
é necessária à sociedade. Não se trata de abolir a política, mas de limpá-la.
Há que resgatar o potencial político dos povos. É urgente instaurar (...) a
política da justiça e não da miséria. (...) A política da ética (...) A
política da vida e não da morte. A política deve estar comprometida com o
clamor da humanidade sofrida e com a responsabilidade histórica.”
* Jornalista
(cantonius1@yahoo.com.br)
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