Segundo turno
*Cesar Vanucci
“Politica não é
coisa para amador”
(Domingos
Justino Pinto, educador).
O cidadão comum espanta-se, muitas vezes, com
as trilhas sinuosas percorridas pelos políticos. Acontece que a política, numa
parodia relativa aos versos de melodia
popular bastante conhecida, “tem razões que a própria razão desconhece; faz
juras de amor e depois esquece.” E não apenas isso. Esquece também os agravos,
as desavenças, os desentendimentos, as discordâncias, os entrechoques do
passado, tidos nalgum momento, erroneamente, como insanáveis e definitivos.
Aí estão como palpitante evidência desse
estado de coisas predominante, não é de hoje nos arraiais políticos, os novos
arranjos, os pactos, as negociações, as alianças firmadas com vistas ao segundo
turno, numerosas delas inimagináveis até outro dia.
O “presidenciável”
Luiz Inácio Lula da Silva, empenhado na composição de uma “frente ampla” que
possa garantir-lhe, tal qual ocorreu no primeiro turno, ganho de votos na
rodada final da sucessão, tem agora como aliados Fernando Henrique Cardoso,
Geraldo Alckimin, José Serra, Simone Tebet, Ciro Gomes, ferrenhos adversários
em inflamadas campanhas eleitorais, em diferentes épocas. Os Ministros Joaquim
Barbosa e Celso de Melo, ex-presidentes do Supremo Tribunal Federal (STF),
críticos em dias não muito remotos da gestão lulista; Marina Silva
ex-pretendente à chefia de governo em oposição a Dilma Rousseff, Pérsio Arida,
André Lara Resende, Armínio Fraga, Henrique Meirelles, economistas que em dado instante
adotaram posição contraria às diretrizes econômicas petistas são personagens que
agora identificam em Lula o candidato que melhor encarna o sentimento
democrático da Nação.
Vejamos, em seguida, o que anda rolando no
pedaço contrário. No rol dos apoiadores, para segundo turno, do candidato Jair
Messias Bolsonaro, figuram, pela mesma forma nomes que, ainda outro dia se
contrapunham, enfaticamente, à sua atuação. Caso frisante envolve o ex-Juiz Federal
e ex-Ministro Sérgio Moro. Eleito Senador pelo Paraná, saiu no ano passado do Ministério
Da Justiça em conflito aberto com o chefe do Executivo, acusando Bolsonaro de
interferências desabridas na Policia Federal. Sua atitude motivou a abertura de
um inquérito, ainda em curso na Alta Corte, para apuração de responsabilidades.
Moro anunciou oficialmente sua adesão à campanha em prol da reeleição do
Presidente. Em momento não muito recuado, o chamado “centrão” era apontado por
Bolsonaro e companheiros de sigla como uma excrescência na vida política. E não
é que a base de sustentação no plano parlamentar do atual ocupante do Palácio
do Planalto está hoje confiada, justamente, ao “execrável” agrupamento?
Assim, a política. Travessa, desconcertante,
astuciosa, incoerente, atividade repleta de ardis e irreverência, que não se
presta decididamente a manejos de amador. Mas, de qualquer forma, um
instrumento valioso no debate das ideias e propostas que alicerçam o processo
democrático.
Essas composições de forças promovidas pelos
contendores fazem parte de um jogo complexo que exerce certo fascínio no
espírito popular. Subsidiam o eleitor com informações preciosas para a tomada
de decisão em seu próximo retorno às urnas eletrônicas. Fica claro que as
adesões obtidas por cada um dos aspirantes à presidência, por mais
representativas que sejam não excluem a necessidade da apresentação de
propostas que contemplem os anseios generosos da sociedade. Mais ainda: que
representem cabalmente os clamores doridos da gente do povo marginalizada no
desfrute de benefícios sociais que as leis, a cartilha de direitos humanos, o
bom senso, a ética humanística estipulam para todos os indivíduos independentemente
de sua crença, raça, sexo ou qualquer diversidade.
Jornalista
(cantonius1@yahoo.com.br)
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