Ucrânia, impasse
amedrontador
*Cesar Vanucci
“Invoco o
principio da autodeterminação dos povos para meu país” (Volodymyr
Zelensky, Presidente ucraniano).
Este nosso mundo velho de guerra sem porteira vai
de mal a pior. O conflito na Ucrânia é amostra contundente desse estado de
coisas perturbador. A insânia belicista que
levou as tropas russas a se apoderarem de uma fatia considerável do território
vizinho acena, em curto prazo, com perspectivas que podem se tornar de repente catastróficas.
O façanhudo Vladimir Putin mantém o mundo em
sobressalto com ameaças aterrorizantes. Depois de anunciar a convocação de 300
mil reservistas como reforço para as frentes de batalha, trombeteou, com a
arrogância que lhe é peculiar, que a Rússia está pronta para utilizar armas
nucleares na defesa das posições conquistadas. A estes anúncios estapafúrdios
seguiu-se outro comunicado desconcertante. As populações das regiões sob controle
dos invasores estão sendo convocadas a participar de “referendos” sobre a
anexação dos lugares em que vivem à “pátria mãe”, ou seja, a Rússia imperial. Não
é muito difícil prever os resultados da “consulta”. Esta a “lógica” da situação
maquiavelicamente engendrada: com “maciça adesão popular” à ideia da anexação os
territórios ocupados colocam-se sob jurisdição de Moscou. Qualquer tentativa
ucraniana, ou de prováveis aliados, de recuperá-los será vista como agressão a
Rússia. O revide será com emprego de armamento nuclear.
O representante do kremlin no Conselho de
Segurança da ONU deixou claro esse raciocínio perverso. A respeito do surreal plebiscito,
já em curso, é interessante dizer que o questionário a ser preenchido pelos
votantes é no idioma Russo e que o monitoramento do processo é feito,
“obviamente, com lisura e isenção”, por comitês russos. Palavra de ordem nos
veículos de comunicação, fachas e cartazes em profusão fazem conclamações desse
gênero: “A
Rússia é o futuro”! “Estamos unidos por uma história de 1.000 anos”; “Durante
séculos, fomos parte do mesmo grande país. A desintegração do Estado foi um
enorme desastre político. É hora de restaurar a justiça histórica.” Não constituirá
surpresa alguma se a apuração apontar, “150% de aprovação”...
A descomunal farsa vem sendo objeto da
condenação universal.
Dias atrás, o presidente da Ucrânia Volodymyr Zelensky,
fez na Assembleia Geral das Nações Unidas, escudado no principio da autodeterminação
dos povos, um apelo dramático no sentido
de que a soberania da Ucrânia venha a ser restaurada. A permissão para que
usasse a tribuna por meio de vídeo conferencia foi assegurada pela grande
maioria dos países membros da instituição. Algumas poucas representações opuseram-se
a sua manifestação. Outras poucas, incluído, inexplicavelmente o Brasil, se
abstiveram. Em fala comovente ele reportou-se às atrocidades da guerra, à
destruição das cidades, ao drama dos refugiados, à resistência heroica aos
invasores, pedindo a punição da Rússia pelos atos praticados. Usando também a
tribuna da ONU, o Presidente dos EUA, Joe Biden, criticou, com veemência, a
atitude de Putin, lembrando que numa guerra nuclear não há lugar para
vencedores. Afirmou textualmente: “Se as
nações podem perseguir suas ambições imperiais sem consequências, então pomos
em risco tudo o que essa instituição (ONU) representa." Segundo ele, a
guerra acontece para "extinguir o direito da Ucrânia de existir.” Analistas
de política internacional admitem que os posicionamentos inflexíveis hoje
dominantes a começar pela prepotência dos russos, geram impasses, à primeira
vista, intransponíveis. Isso dificulta saídas diplomáticas para contenda,
aumentando os temores de que um descuido qualquer nas ações desencadeadas pelas
partes possa acender o apavorante “alerta vermelho”.
Jornalista(cantonius1@yahoo.com.br)
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