*Cesar Vanucci
“O mundo estava com saudade do
Brasil” (Celso Amorim)
1) Andaram dizendo que
o mundo sentia saudades do Brasil. De nosso protagonismo nas mesas dos debates
internacionais em torno de questões essenciais vinculadas à construção humana.
Nem uma hora havia se passado do resultado do pleito e um verdadeiro “tsunami” de
felicitações, mensagens de apoio, solidariedade, de convites para encontros
importantes, provindos de todos os cantos do planeta congestionou as vias de
comunicação do local onde se encontravam o Presidente e Vice-Presidente
eleitos. O ex-chanceler Celso Amorim lembrou que, em 60 anos na diplomacia,
nunca viu nada tão retumbante. Adicionem-se a isso o aplauso unanime dos órgãos
internacionais que acompanharam, como qualificados observadores, a lisura da
grande festa cívica do dia 30. Temos aí configurada outra exuberante
demonstração do nível de maturidade democrática atingido, afortunadamente, pelo
nosso país.
2) A secretária
entra no gabinete, espavorida, interrompendo o papo do prócer político
governista com assessores, para coloca-lo a par do bloqueio nas rodovias.
-
“Sabe, chefe, eles colocaram caminhões atravessados nas pistas, impedindo o ir
e vir das pessoas, entrega de alimentos nos supermercados, medicamentos nas
farmácias, oxigênio nos hospitais. Não estão deixando passar ambulâncias com
pacientes de hemodiálise e grávidas na hora de dar a luz...”
Uma
voz de trovão:
-
“Eu sabia que ia acontecer! Já tinha avisado a turma. Esses nossos satânicos
inimigos sempre agem assim, traiçoeiramente, são uns baderneiros, desordeiros,
vândalos, extremistas de uma figa.”
A
secretaria achou por bem intervir.
-“
Pera aí chefe, o pessoal da bagunça é do
nosso time!”
O prócer pigarreou, redarguindo triunfante. –
“ Dona Matilde, a senhora deveria ter explicado isso logo de cara. A coisa
assim muda de figura. Os nossos baderneiros, desordeiros, vândalos, satanistas
, extremistas de uma figa são gente do bem, lutam por causas nobres.
O
prócer nada mais disse, nem foi perguntado.
3) Minoria de
ativistas fanatizados vem tentando com repulsivas manobras, bagunçar o coreto
democrático, contrapondo-se a voz dos lares e das ruas. À ação terrorista de
Roberto Jefferson e arruaças inacreditáveis na porta da Basílica de Aparecida se
juntaram outros incidentes chocantes. Entre eles: a cena de filme policial de
terceira categoria da Parlamentar de arma em punho acompanhada de guarda-costas
armado correndo atrás um jornalista com quem se desentendeu. Aconteceram também: a denuncia sem fundamento
sobre inserções a menos de propagandas em uma dúzia de estações de rádio, uma delas, por sinal,
pertencente a familiares do denunciante; o atentado antidemocrático, economicamente
muito lesivo aos interesses da sociedade, representado pelos bloqueios
rodoviários; as aglomerações de grupos enfezados pedindo a derrubada das
instituições, e fazendo, como se viu em imagens de Santa Catarina, a sinistra
saudação dos “camisas pardas” nazistas.
Essas
pessoas carecem de entender que nas democracias eleição se define em cabine de
votação, não em cabine de caminhão.
4) Mesmo tendo sido
derrotado por Lula no páreo presidencial, Jair Bolsonaro conseguiu amealhar patrimônio político de respeitável proporção.
Afinal de contas, recebeu 58 milhões de votos, e correligionários seus
conquistaram vários cargos executivos nos Estados e muitas cadeiras na Câmara e
Senado. Segundo suas próprias palavras, “a direita surgiu de verdade”. Ele pode
liderar, de forma duradoura, oposição confiável, desde que se disponha a fazer
o jogo democrático dentro das “quatro linhas constitucionais”, sem atitudes ambíguas,
pronunciamentos tardios e desconexos , negacionismo
científico e impulsos raivosos.
Jornalista(cantonius1@yahoo.com.br)
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