Cesar Vanucci
“Juscelino substituiu o vício da dor pela pedagogia
do prazer.” (Cacá Diegues, cineasta)
Damos continuidade à série de comentários
sobre a vida e obra do saudoso Jk, ao ensejo do transcurso dos 120 anos de seu
nascimento. Na Presidência e, depois, na dolorida jornada do exílio, Nonô
estabeleceu ligações com personalidades de todos os continentes. Nas palestras
realizadas no exterior nunca deixou de proferir palavra otimista a respeito da
pátria.
O
carismático Nonô foi sempre generoso e conciliador. Converteu em amigos
inimigos rancorosos. O caso mais famoso envolve Carlos Lacerda, que veio a ser
seu companheiro na “Frente Ampla”, uma tentativa das lideranças de expressão,
banidas do jogo político pela ditadura de 64, de devolverem a democracia ao
Brasil. Estas palavras, retrato perfeito, sem retoque, de JK, pertencem a
Lacerda: “Esse homem de paz era um combatente. Porque era um verdadeiro
renovador, era também generoso. No horror à vingança, à mesquinharia, à
mediocridade, fundou sua atitude diante da vida”.
Faz bem ao espírito e ao coração relembrar JK.
Recordar os tempos em que ele gerenciava os negócios públicos em nosso país.
Tempos bastante diferentes dos de hoje. O Brasil tem andado triste. De tempos a
essa parte não tem conseguido retomar por ausência de iniciativas e projetos, o
almejado desenvolvimento econômico com seus benfazejos desdobramentos sociais a
que faz por merecer. Na era jusceliniana, havia esperança, alegria, otimismo.
Em todos os cantos eram avistados canteiros de obras anunciando o progresso,
trazendo empregos à mancheia.
Outro episodio que marca bem a personalidade
invulgar de JK é descrito por seu biografo Claudio Bojunga. Foi quando Foster Dulles,
expoente da chamada “linha dura” veio ao Brasil. O Secretário de Estado
americano tinha dificuldades para entender os latinos e direcionava
obsessivamente seu trabalho no combate ao “comunismo ateu”. Nos encontros com
Juscelino Dulles já havia proposto nove fórmulas, todas recusadas pelo
Presidente, para uma declaração conjunta. Insistia num documento que utilizasse
surrados jargões da “guerra fria”. JK considerou as ponderações fora de
propósito. O documento, insistia, deveria conter essencialmente um compromisso
com o desenvolvimento e a prosperidade social. A nota final não incluiu as
propostas do Secretário. JK reagiu ainda à arrogância de Dulles, que queria
assinar a declaração, mesmo sendo funcionário de escalão inferior, juntamente
com o Presidente do Brasil. A conduta altiva não desestimulou Dulles de
reconhecer que “o Presidente do Brasil trata o desenvolvimento com a fé dos
místicos.”
Desfrutando
de enorme simpatia popular, JK foi pressionado politicamente a promover reforma constitucional que lhe
garantisse novo mandato. Desfez, de forma categórica, a possibilidade.
Sua eleição para outros mandatos era tida como
líquida e certa. Os acontecimentos posteriores, retirando o Brasil dos trilhos
da democracia, alvejaram-no inclementemente. Teve o mandato cassado quando
representava Goiás no Senado. O último discurso como parlamentar é uma obra
prima de afirmação democrática e de crença nos valores nacionais.
Injuriaram-no, impuseram-lhe humilhações. Fizeram de um tudo para calar-lhe a
voz, numa tentativa de diminuir a importância de seu incomparável papel no
teatro da história. Tudo embalde. “De todos nós, é o nome dele que vai durar
mil anos. Juscelino estará na memória das gerações porque sua aventura vital
foi extraordinária!” Palavras de um adversário em tempos idos, Afonso Arinos.
Jornalista(cantonius1@yahoo.com.br)
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