terça-feira, 24 de janeiro de 2023

Flagelo da fome

                                                 


                         *Cesar Vanucci

O que nos falta é a capacidade de traduzir em proposta aquilo que ilumina a nossa inteligência e mobiliza nossos corações”(Betinho)

A FAO, instituição da ONU dedicada a estudos e pesquisas sobre agricultura e alimentação, assegura que 130 milhões de pessoas padecem, na América Latina e Caribe, das agruras da insegurança alimentar. Insegurança alimentar é uma figuração verbal utilizada eufemisticamente para (não) dizer que alguém não tem o que comer. O registro da FAO pode ser assim interpretado: esse colosso de gente, equivalente em número a duas vezes as populações somadas da Argentina, Uruguai e Peru, são viventes dotados das mesmas características anatômicas, emoções, sentimentos, vontades, aspirações, expectativas, temores, esperanças análogos aos do restante dos seres que não se ressentem de “insegurança alimentar”. Uns e outros habitam o mesmo espaço territorial. Acontece, entre tanto, que os 130 milhões mencionados veem-se às voltas, permanentemente, com os horrores da fome. Anotemos que 50 por cento dessa multidão desamparada são nossos compatriotas. E não era para ser assim.

A produção de alimentos neste nosso mundo do bom Deus, onde o tinhoso costuma plantar traiçoeiros enclaves, produz alimentos mais do que suficientes para erradicar a fome. Os quantitativos extraídos das atividades agrícolas brasileiras são bem elucidativos, algo por volta de 240 milhões de toneladas. Uma conta aritmética simples revela: mais de um milhão de tonelada por habitante. É cabível inferir-se desses dados que dispomos do potencial necessário para conjurar o drama escandaloso da fome.

 Do que andamos, na verdade, carentes é de esforços, vontade política, bom senso, sensibilidade social para buscar uma conexão do mundo com sua humanidade. “O que nos falta é a capacidade de traduzir em proposta aquilo que ilumina a nossa inteligência e mobiliza nossos corações: a construção de um novo mundo”, como enfatizava o saudoso Betinho, em sua cruzada contra a fome e desigualdades sociais.

 Num momento de esplendor tecnológico, como o de agora, a fome há que ser percebida como uma dolorosa bofetada na cara da sociedade. Bofetada que deixa marcas inapagáveis na alma.

 Inadimplência. A Confederação Nacional do Comércio registra que 80 % das famílias brasileiras defrontam-se com problemas de inadimplência. O índice assusta. Na campanha eleitoral recente, o tema foi objeto de preocupação por parte dos candidatos. Lula e Ciro Gomes prometeram, se chegassem à Presidência, coloca-lo em debate na busca de solução harmoniosa. As dificuldades da gente do povo na quitação de dívidas contraídas nos embates cotidianos decorrem, em parte, dos juros “himalaianos” cobrados pelo argentarismo descomedido do mercado financeiro. Como sabido, pelo Banco Central e todos nós, indefesos cidadãos, são os juros mais elevados de toda Via Láctea.  A sociedade brasileira coloca-se na expectativa das medidas prometidas com vistas a aliviar essa carga pesada que carrega nos ombros.

Desmatamento. Órgãos qualificados em matéria de vigilância e fiscalização do que rola nas áreas ambientais desmentem informes propagados pelo governo de Bolsonaro. Nos anos de sua gestão, o Brasil atingiu recordes indecorosos no tocante a destruição de seus biomas florestais, com realce para a Amazônia. O compromisso firmado, em diferentes fóruns, pelo novo Governo, de por freio nessa estúpida agressão às nossas matas explica a acolhida calorosa que o país voltou a encontrar no seio da comunidade internacional.


jornalista ( cantonius1@yahoo.com.br)

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