segunda-feira, 2 de janeiro de 2023

O radicalismo de Trump

                                                                                          

                                                                                              *Cesar Vanucci

 

              “Todo radical tem os pés firmemente plantados no ar”

                                          (Theodore Roosevelt, ex-presidente dos EUA)

 

1) Donald Trump tornou-se, a essa altura, maiúscula referencia no mundo ocidental do arquiconservadorismo radical. Seu posicionamento ideológico representa fonte de inspiração para grotescas imitações de simpatizantes noutras plagas. O contestador dos resultados da eleição presidencial estadunidense, responsável intelectual pela invasão do Capitólio, é flagrado, volta e meia, em procedimentos que traduzem seus pendores para atos que desmerecem os valores democráticos dominantes na vida pública de seu país. Com quase duas dezenas de processos nas costas, por fraudes financeiras e evasões fiscais vultosas, cometidas por décadas em negócios escusos que geraram farta corrupção, o ex-mandatário da Casa Branca é acusado também de haver surripiado documentos secretos que estiveram, quando no exercício do poder, sob sua guarda. Em fala recente numa atitude que soou, perante as lideranças democráticas, como verdadeira blasfêmia cívica, criticou dispositivos da constituição do seu país. De outra parte, atraiu acesa e compreensível condenação pública pelo fato de recepcionar, numa de suas luxuosas mansões, com rapapés e lantejoulas, dirigentes de sinistras organizações racistas. Traçou, nesses conciliábulos envolvendo os “Supremacistas Brancos”, cognome da famigerada KKK (Ku Klux Klan )  e uma outra  notória e virulenta associação  antissemita da América, estratégias de ação com manifesto propósito de levar mais longe odiosos preconceitos e discriminações. É de se imaginar que, contemplando um currículo desses, a altiva opinião pública americana, a começar por adeptos do próprio Partido Republicano, ao qual Trump se acha filiado, adote salvaguardas eficazes, na hora adequada, no sentido de barrar veementemente as intenções do personagem mencionado em concorrer outra vez ao cargo político mais importante do cenário mundial.

 

2) A ONU (Organização das Nações Unidas) foi criada em 24 de outubro de 1945, logo após o termino da 2° Guerra Mundial. As potências vitoriosas com maior protagonismo no sanguinolento conflito valeram-se dessa condição para se outorgar o direito, na composição da instituição, de constituírem em superposição aos demais países membros (193), um colegiado especial. Denominado Conselho de Segurança, o colegiado em questão estabeleceu, para cada integrante, isoladamente, o poder  monocrático de veto a decisões tomadas no âmbito da Assembleia Geral. Estes os países que , em caráter permanente, formam o referido Conselho: Estados Unidos, Rússia, China, Inglaterra e França. De tempos a esta parte, o conselho passou a acolher representações de outros Estados Membros com mandato temporário, não detentores, todavia, da prerrogativa de vetar.  A situação configurada, que perdura ha quase 80 anos, traduz desequilíbrio de forças em definições suscetíveis de afetar interesses respeitáveis da Comunidade das Nações. Deriva daí, compreensivelmente, o inconformismo de numerosos países que não escondem o desejo de alterar a norma regimental vigente, com a eliminação dos privilégios dos vetos. A momentosa questão, abraçada pelo Brasil desde o primeiro mandato presidencial de Lula, volta agora, com seu retorno ao Palácio do Planalto, a ser advogada tanto pelo presidente a ser empossado, quanto pelo seu antigo Chanceler Celso Amorim, que realizou fecundo trabalho durante no período em que esteve à frente do Itamaraty. Não será fácil convencer as grandes potencias a renunciarem a primazia desfrutada. Mas, não persiste dúvida alguma quanto a legitimidade de que a mudança pretendida está acorde com o ideal democrático.

 

Jornalista(cantonius1@yahoo.com.br)

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