*Cesar Vanucci
“Democracia não é o paraíso, mas ela consegue garantir que a gente não
chegue ao inferno.”
(Leandro Karnal, historiador e filósofo)
Não
é apenas por estas nossas bandas que andam despontando, na hora presente, ataques
frontais à Democracia, promovidos por grupos extremados minoritários. Uma
olhada d'olhos pelo cenário mundial contemporâneo coloca-nos diante de várias ameaças
à ordem institucional vigente em países onde a Democracia airosamente viceja. Tomemos,
pra começo de conversa, o que aconteceu nos Estados Unidos da América.
Joe
Biden do partido democrata, ex-vice de Barack Obama venceu expressivamente as últimas
eleições presidenciais. Seu rancoroso opositor, Donald Trump, que vem se
comportando como líder mundial de agrupamentos ultraconservadores, deixando à
mostra visível propensão ao acatamento de ditames nazifascistas, contestou os
resultados do pleito alegando que o mesmo havia sido fraudado. Abra-se um
parêntese para lembrar que argumento semelhante foi ouvido, da boca de outro
mau perdedor, em disputa presidencial recente ocorrida noutro colosso territorial
situado ao sul do Equador. Voltando a Trump, ele foi o fomentador da inimaginável
invasão do Capitólio, considerada o maior atentado à Democracia já registrado no
mais poderoso país do planeta. Réu em numerosos processos na justiça, o ex-mandatário
da Casa Branca continua tenazmente empenhado em promover atos deletérios
alvejando o Estado de Direito Democrático. O distinto tem sido fonte de
inspiração para imitadores ao redor do mundo.
Passemos
a outro exemplo próximo. Teve como palco a maior potência econômica Europeia. A
Alemanha de hoje escorada em alicerces democráticos bastante sólidos, que
renega com horror seu facinoroso anteontem nazista, viu-se compelida a usar
todo aparato de segurança institucional disponível para desbaratar, no final do
ano passado, complô concebido por falange neonazista. Já em 2020, no mês de
agosto, o governo de Berlim havia frustrado uma tentativa de tomada do poder
perpetrada por saudosistas do III Reich. Na última conjura detectada pelo
serviço de inteligência os radicais programaram a invasão do Parlamento. Foram
presos antes de consumarem o plano golpista. Somavam nos dois episódios, o de
2020 e o de 2022, centenas de indivíduos, entre articuladores e encarregados
das práticas destrutivas. Interessante anotar
a semelhança no modo de proceder dos fanáticos de diferentes latitudes. Eles
miram sempre, em primeiro lugar, o Parlamento, nas investidas contra o sistema estabelecido.
No
final do ano passado ainda, fragilizado há bom pedaço de tempo por uma sucessão
de crises, o Peru foi abalado por nova tentativa de golpe de estado. O próprio presidente
do país, Pedro
Castillo convocou rede nacional de comunicação para anunciar que acabara
de assinar decreto fechando o Congresso, intervindo na justiça e outorgando-se
poderes absolutos para conduzir os destinos do país. O Congresso e o Judiciário
reagiram. Castillo foi destituído das funções e recolido à prisão. Sua vice
Dina Boluarte ascendeu à presidência em meio a distúrbios de rua que já
produziram quase meia centena de vítimas fatais. Grupos políticos de várias
tendências defendem causas distintas em uma confusão generalizada. O país entrou
estado de emergência.
Pela
amostragem da pra perceber que a Democracia vive sob ameaça em boa parte do
mundo. É bom nunca perder de vista o dito famoso de Winston Churchill ao
proclamar que a democracia é um regime cheio de imperfeições, mas infinitamente
melhor do que qualquer outro já inventado.
Por
derradeiro é alentador constatar que, no Brasil de todos nós os mecanismos de
defesa face às ofensivas radicais funcionam a contento, como projeção
esplêndida da índole humanista de nossa brava gente.
Jornalista(cantonius1@yahoo.com.br)
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