terça-feira, 24 de janeiro de 2023

Onda extremista mundial.

 

                                                                                    *Cesar Vanucci

    “Democracia não é o paraíso, mas ela consegue garantir que a gente não chegue ao inferno.”

(Leandro Karnal, historiador e filósofo)

 

Não é apenas por estas nossas bandas que andam despontando, na hora presente, ataques frontais à Democracia, promovidos por grupos extremados minoritários. Uma olhada d'olhos pelo cenário mundial contemporâneo coloca-nos diante de várias ameaças à ordem institucional vigente em países onde a Democracia airosamente viceja. Tomemos, pra começo de conversa, o que aconteceu nos Estados Unidos da América.

Joe Biden do partido democrata, ex-vice de Barack Obama venceu expressivamente as últimas eleições presidenciais. Seu rancoroso opositor, Donald Trump, que vem se comportando como líder mundial de agrupamentos ultraconservadores, deixando à mostra visível propensão ao acatamento de ditames nazifascistas, contestou os resultados do pleito alegando que o mesmo havia sido fraudado. Abra-se um parêntese para lembrar que argumento semelhante foi ouvido, da boca de outro mau perdedor, em disputa presidencial recente ocorrida noutro colosso territorial situado ao sul do Equador. Voltando a Trump, ele foi o fomentador da inimaginável invasão do Capitólio, considerada o maior atentado à Democracia já registrado no mais poderoso país do planeta. Réu em numerosos processos na justiça, o ex-mandatário da Casa Branca continua tenazmente empenhado em promover atos deletérios alvejando o Estado de Direito Democrático. O distinto tem sido fonte de inspiração para imitadores ao redor do mundo.

Passemos a outro exemplo próximo. Teve como palco a maior potência econômica Europeia. A Alemanha de hoje escorada em alicerces democráticos bastante sólidos, que renega com horror seu facinoroso anteontem nazista, viu-se compelida a usar todo aparato de segurança institucional disponível para desbaratar, no final do ano passado, complô concebido por falange neonazista. Já em 2020, no mês de agosto, o governo de Berlim havia frustrado uma tentativa de tomada do poder perpetrada por saudosistas do III Reich. Na última conjura detectada pelo serviço de inteligência os radicais programaram a invasão do Parlamento. Foram presos antes de consumarem o plano golpista. Somavam nos dois episódios, o de 2020 e o de 2022, centenas de indivíduos, entre articuladores e encarregados das práticas destrutivas.  Interessante anotar a semelhança no modo de proceder dos fanáticos de diferentes latitudes. Eles miram sempre, em primeiro lugar, o Parlamento, nas investidas contra o sistema estabelecido.

No final do ano passado ainda, fragilizado há bom pedaço de tempo por uma sucessão de crises, o Peru foi abalado por nova tentativa de golpe de estado. O próprio presidente do país, Pedro Castillo convocou rede nacional de comunicação para anunciar que acabara de assinar decreto fechando o Congresso, intervindo na justiça e outorgando-se poderes absolutos para conduzir os destinos do país. O Congresso e o Judiciário reagiram. Castillo foi destituído das funções e recolido à prisão. Sua vice Dina Boluarte ascendeu à presidência em meio a distúrbios de rua que já produziram quase meia centena de vítimas fatais. Grupos políticos de várias tendências defendem causas distintas em uma confusão generalizada. O país entrou estado de emergência. 

Pela amostragem da pra perceber que a Democracia vive sob ameaça em boa parte do mundo. É bom nunca perder de vista o dito famoso de Winston Churchill ao proclamar que a democracia é um regime cheio de imperfeições, mas infinitamente melhor do que qualquer outro já inventado.

Por derradeiro é alentador constatar que, no Brasil de todos nós os mecanismos de defesa face às ofensivas radicais funcionam a contento, como projeção esplêndida da índole humanista de nossa brava gente.

 

Jornalista(cantonius1@yahoo.com.br)

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