“avanços obtidos em décadas estão evaporando diante de nossos olhos"
( António Guterres, Secretário-Geral da ONU)
A ONU não deixa por menos. “No ritmo atual, serão necessários 300 anos para
alcançar a igualdade entre homens e mulheres”. Asseverou às vésperas do Dia
Internacional da Mulher, celebrado em 08 de março, o Secretário-Geral das
Nações Unidas, António Guterres. O prognóstico, comportando pitada de exagero, soa ainda assim com o fragor de uma
sonora bofetada que deixa impressos indelevelmente as marcas dos dedos na cara
ruborizada da sociedade.
No ver de Guterres, "avanços obtidos em
décadas estão evaporando diante de nossos olhos". Lembrou que em alguns
países, como no caso do Afeganistão, mulheres
e meninas têm sido "apagadas da vida pública". Afirmou também que os
direitos reprodutivos e sexuais da mulher estão "em retrocesso", sem
contar os riscos de sequestros e ataques a que se acha submetida em diferentes partes do mundo.
Em outro incisivo trecho de suas declarações,
o Secretário Geral da ONU argumenta que a desinformação misógina e as mentiras
nas redes sociais têm o objetivo de silenciar as mulheres e obrigá-las a sair
da vida pública.
O Dia Internacional da Mulher é
comemorado em 8 março, sendo uma das mais importantes datas do calendário
global. Evoca as lutas pelos direitos das mulheres por condições igualitárias,
em todas as camadas da sociedade. A efeméride foi instituída em 1917, mas só em
1975 adquiriu ressonância universal. No ano em questão foi oficializada pela
ONU. Ao contrário de muitas datas comemorativas,
essa é uma das poucas não surgidas por
iniciativas do comércio. A ideia de se definir uma data para exaltar o empenho das
mulheres em estabelecer paridade de direitos com relação aos homens nas
atividades comunitárias tem várias origens. A teoria mais aceita é a de que
tudo se originou numa conferência realizada na Dinamarca em 1910. Foi consolidada
por fatídico incêndio na fábrica Triangle Shirtwaist Company, Nova York, em 1911,
onde pereceram tragicamente muitas
operárias.
Com o passar dos anos a luta pela igualdade de direitos
ganhou constante amplitude. O direito a
participação da mulher em eleições representou um marco na marcha
civilizatória. Em 1932, as brasileiras votaram pela primeira vez. Um ano após
as mulheres haverem conquistado o direito de votar, Carlota
Pereira de Queirós foi eleita primeira deputada federal brasileira. No ano seguinte, em 1934, Antonieta de Barros,
filha de escrava liberta, foi eleita deputada em Santa Catarina. Tornou-se a
primeira parlamentar negra no país.
Na atualidade, as brasileiras constituem 52%
do eleitorado nacional, segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral. Mesmo
assim, são minoria na política. Apenas 12% das prefeituras brasileiras são
comandadas por mulheres. Nos governos dos Estados e Parlamentos a representação
feminina revela-se bastante abaixo da masculina. A desproporção observada na política
prevalece também nas designações para cargos públicos, em todas as esferas.
Enfileiramos na sequencia algumas conquistas
apontadas como significativas por movimentos feministas brasileiros em sua
incansável lutam pela igualdade de direitos:
·
1827 – Meninas são liberadas para frequentarem a
escola; 1852: Primeiro jornal feminino; 1879 – Mulheres conquistam o direito de
acesso às faculdades; 1910 – O primeiro partido político feminino é criado;
1932 – Mulheres conquistam o direito de voto; 1962 – Criação do Estatuto da
Mulher Casada; 1977 – aprovada a Lei do Divórcio; 1979 – Direito à prática do
futebol; 1988 - Primeiro encontro nacional de mulheres negras; 2006 – Lei Maria
da Penha; 2015 – É sancionada a Lei do Feminicídio; 2018 – A importunação
sexual feminina passou a ser considerada crime.
No panorama mundial são por demais impactantes as agressões aos direitos
sagrados da mulher. Falaremos disso a diante.
Jornalista (cantonius1@yahoo.com.br)
Um comentário:
César, meu caro.
"Bofetada na cara" é pouco para explicitar - e analisar mais profundamente - o que acontece nos dias de hoje no verdadeiro massacre que é praticado diariamente contra as mulheres.
O pior, César, é que tenho uns dois ou três amigos (amigos, não; conhecidos, pois não merecem a minha amizade), todos com curso superior, em diferentes áreas, que acham normal (um deles diz: "quase normal") todas as barbaridades de que temos notícia a cada dia.
Ainda bem que, com o PNC (o tradicional pé-na-cova), estou próximo de ficar liberto dessas barbaridades todas...
Um abraço.
Amaury.
PS - E dona Adi?
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