*Cesar Vanucci
"O
mapa mente!"
(Eduardo
Galeano, escritor uruguaio)
Mas o mais adequado nas circunstâncias é deixar a
palavra escorrer pela boca do próprio escritor: "O mapa-múndi que nos
ensinaram dá dois terços para o norte e um terço para o sul. (...) A Europa é
mais extensa do que a América Latina, embora, na verdade, a América Latina
tenha o dobro da superfície da Europa. A Índia parece menor do que a
Escandinávia, embora seja três vezes maior.
Os Estados Unidos e o Canadá, no mapa, ocupam mais
espaço do que a África, embora correspondam apenas a duas terças partes do território
africano.”
Adotando-se a mesma perspectiva da análise de
Galeano, dá pra ver que a configuração do Brasil, detentor da quarta ou quinta
maior extensão territorial entre os demais países, está igualmente
desproporcional no atlas.
Isso posto, qual a razão dessa desconcertante
distorção da geografia e da história, há tantos anos ignorada ou tolerada?
Galeano não deixa por menos: "O mapa mente! A geografia tradicional rouba
o espaço, assim como a economia imperial rouba a riqueza, a história oficial
rouba a memória e a cultura formal rouba a palavra.". Ele está a falar de
um processo espoliativo incessante que tem como alvo os países do hemisfério
sul. Um processo, como sabido e notório, inclemente do ponto de vista econômico
e social com relação ao chamado mundo subdesenvolvido, vez por outra apelidado
de terceiro mundo, onde se costuma aplicar também a classificação de
"emergentes", a critério dos "donos do planeta", a um que
outro país provido de potencialidades impossíveis de passarem, o tempo todo,
despercebidas aos olhares mundiais.
Essa cabulosa história do atlas mundial mutilado
deixa-nos com aquela mesma sensação de insuportável desconforto trazida, tempos
atrás, pela revelação de que alguns livros didáticos em escolas de ensino
fundamental nos Estados Unidos mostram a Amazônia brasileira como região sob
controle internacional. Uma coisa parece ter tudo a ver com a outra coisa. O
inacreditável, imoral e ilegal redimensionamento cartográfico há que ser visto
como um instrumento a mais de irradiação de mensagens subliminares insistentes
com propósitos que deixam sob ameaça, em seus direitos, sua cultura, soberania
e integridade, os países da banda de cá do equador. Essa a leitura a extrair
dos fatos. Melhor dizendo, dos mapas.
jornalista (cantonius1@yahoo.com.br)
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