quinta-feira, 1 de junho de 2023

Dia da Indústria, 1971.

 

                     

                              Cesar Vanucci *

 “Esta celebração (...)transmite mensagem de poderosa irradiação cívica, social e democrática.”                                                              (Fábio Motta, Ex-presidente FIEMG)

 

Escalando as ladeiras da memória, volto às celebrações do “Dia da Indústria”. Estas comemorações são promovidas em Minas desde 1960. Entre 61 e 64, a festividade deixou de ser realizada. De 1965 em diante, acontece no mês de maio, sempre com pompa e brilhantismo, atraindo público numeroso, convidados de expressão empresarial, política e social.

De 1965 a 1994, período em que estive Superintendente Geral da FIEMG, função exercida nas gestões de Fábio de Araújo Motta, Nansen Araujo e José Alencar Gomes da Silva, todos de saudosa memória, à frente de equipe valorosa participei da coordenação do evento. Em 1976, além da comenda do “Mérito Industrial”, atribuída tradicionalmente a cidadãos indicados pelos vários segmentos industriais, a entidade resolveu  instituir o título de “Industrial do Ano”. Hélio Pentagna Guimarães, dirigente da Magnesita, à época vice-Presidente da Fiemg, foi a primeira personalidade agraciada com a honraria, como mencionado no  comentário passado.

Dois ou três anos transcorridos, outra categoria de homenageados foi incluída nas festivas celebrações: “Construtores do Progresso”. Personagens exponenciais de outros setores da comunidade passaram a receber, da FIEMG, láureas de reconhecimento pela sua contribuição ao desenvolvimento econômico e social.

Testemunha ocular, por largo período, do intenso trabalho de organização, das articulações de bastidores que, naturalmente, envolvem celebração dessa magnitude, acumulei na memória velha de guerra lembranças de fatos sugestivos, alguns mais, outros menos interessantes, vividos nesses movimentados momentos ficados pra traz.

Reporto-me, agora, a  outro registro, desconhecido até mesmo de muitos antigos dirigentes da Fiemg. Houve um ano, 1971, em que a festa do “ da Indústria” esteve, à última hora, sob ameaça. Conto como se deu. Na manhã do evento, um assessor de Fábio Motta, general Onésimo Becker, cidadão de invulgares qualidades humanas, foi contatado por elementos ligados ao Ministro da Justiça Alfredo Buzaid. Eles se faziam portadores de mensagem preocupante. Buzaid estava na iminência de tornar público o seu não comparecimento à sessão solene programada, na qual seria  homenageado. A alegação, prepotente e preconceituosa, era de que, entre os demais homenageados, de uma lista de vinte jornalistas apontados como “colaboradores da indústria”, faziam parte elementos, considerados desafetos do governo, segundo os critérios ditatoriais dominantes. Durante horas estressantes, cuidamos de formatar proposta “pessedista” capaz contornar a questão, sem repercussões que afetassem a festividade da noite. Emergiu dessas confabulações a ideia, acolhida pelos representantes do Ministro, de se dividir em dois atos distintos a programação anunciada. A manifestação de apreço aos homens e órgãos de comunicação ficaria para outro instante. Os “colaboradores da indústria” foram notificados, a toque de caixa, da alteração, com a “explicação” de que brotara, de repente, a necessidade de se alterar a programação, por indisponibilidade de tempo na agenda ministerial. No evento de horas depois, na Casa da Indústria, foram homenageados o Ministro e os industriais agraciados com o “Mérito”. O segundo ato, dedicado aos jornalistas, uma semana depois, consistiu em concorrido jantar no “Automóvel Clube”.

A informação acerca da belicosidade ministerial tem complemento: dois  empresários da relação do “Mérito Industrial” foram alcançados, também, pelas incríveis restrições, de forma um tanto mais branda. Por conta, igualmente, de supostos posicionamentos políticos pessoais em desacordo com o pensamento doutrinário governamental. Mas a impertinente ressalva não foi de molde a gerar questionamento radical quanto à presença de ambos na cerimônia do “Dia da Indústria”.

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