Cesar Vanucci *
Escalando as ladeiras da memória, volto às celebrações
do “Dia da Indústria”. Estas comemorações são promovidas em Minas desde 1960.
Entre 61 e 64, a festividade deixou de ser realizada. De 1965 em diante,
acontece no mês de maio, sempre com pompa e brilhantismo, atraindo público
numeroso, convidados de expressão empresarial, política e social.
De 1965 a 1994, período em que estive Superintendente
Geral da FIEMG, função exercida nas gestões de Fábio de Araújo Motta, Nansen
Araujo e José Alencar Gomes da Silva, todos de saudosa memória, à frente de
equipe valorosa participei da coordenação do evento. Em 1976, além da comenda
do “Mérito Industrial”, atribuída tradicionalmente a cidadãos indicados pelos
vários segmentos industriais, a entidade resolveu instituir o título de “Industrial do Ano”.
Hélio Pentagna Guimarães, dirigente da Magnesita, à época vice-Presidente da
Fiemg, foi a primeira personalidade agraciada com a honraria, como mencionado
no comentário passado.
Dois ou três anos transcorridos, outra categoria de homenageados
foi incluída nas festivas celebrações: “Construtores do Progresso”. Personagens
exponenciais de outros setores da comunidade passaram a receber, da FIEMG,
láureas de reconhecimento pela sua contribuição ao desenvolvimento econômico e
social.
Testemunha ocular, por largo período, do intenso trabalho
de organização, das articulações de bastidores que, naturalmente, envolvem
celebração dessa magnitude, acumulei na memória velha de guerra lembranças de
fatos sugestivos, alguns mais, outros menos interessantes, vividos nesses
movimentados momentos ficados pra traz.
Reporto-me, agora, a outro registro, desconhecido até mesmo de
muitos antigos dirigentes da Fiemg. Houve um ano, 1971, em que a festa do “ da
Indústria” esteve, à última hora, sob ameaça. Conto como se deu. Na manhã do
evento, um assessor de Fábio Motta, general Onésimo Becker, cidadão de
invulgares qualidades humanas, foi contatado por elementos ligados ao Ministro
da Justiça Alfredo Buzaid. Eles se faziam portadores de mensagem preocupante.
Buzaid estava na iminência de tornar público o seu não comparecimento à sessão
solene programada, na qual seria homenageado. A alegação, prepotente e
preconceituosa, era de que, entre os demais homenageados, de uma lista de vinte
jornalistas apontados como “colaboradores da indústria”, faziam parte elementos,
considerados desafetos do governo, segundo os critérios ditatoriais dominantes.
Durante horas estressantes, cuidamos de formatar proposta “pessedista” capaz
contornar a questão, sem repercussões que afetassem a festividade da noite.
Emergiu dessas confabulações a ideia, acolhida pelos representantes do
Ministro, de se dividir em dois atos distintos a programação anunciada. A
manifestação de apreço aos homens e órgãos de comunicação ficaria para outro
instante. Os “colaboradores da indústria” foram notificados, a toque de caixa,
da alteração, com a “explicação” de que brotara, de repente, a necessidade de
se alterar a programação, por indisponibilidade de tempo na agenda ministerial.
No evento de horas depois, na Casa da Indústria, foram homenageados o Ministro
e os industriais agraciados com o “Mérito”. O segundo ato, dedicado aos
jornalistas, uma semana depois, consistiu em concorrido jantar no “Automóvel
Clube”.
A informação acerca da belicosidade ministerial tem
complemento: dois empresários da relação
do “Mérito Industrial” foram alcançados, também, pelas incríveis restrições, de
forma um tanto mais branda. Por conta, igualmente, de supostos posicionamentos
políticos pessoais em desacordo com o pensamento doutrinário governamental. Mas
a impertinente ressalva não foi de molde a gerar questionamento radical quanto
à presença de ambos na cerimônia do “Dia da Indústria”.
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