(Domenico de
Masi, sociólogo)
Domenico de Masi, sociólogo italiano de
renome universal, falecido no ultimo dia 9 de setembro, aos 85 anos, nutria
encantamento pelo Brasil. Deixou isso documentado em livros e depoimentos
numerosos. Numa declaração de anos atrás, Masi explica a tese relativa ao
Brasil sustentada em seu livro “O futuro chegou – modelos de vida para uma
sociedade desorientada”.
E do que mesmo nos fala o pensador? Em
meticulosa análise de 800 páginas alude aos sistemas de convivência que mais
marcaram a história civilizatória, Domenico focaliza 15 modelos socioeconômicos
e religiosos testados pela humanidade. Batiza-os com títulos que enfatizam
traços peculiares da essência de cada um.
Estes os modelos apontados: 1. Indiano –
Humanismo espiritual; 2. Chinês –
Grandeza composta; 3. Japonês – refinamento do guerreiro; 4. Clássico –
Equilíbrio e beleza; 5. Hebraico – O
povo de Deus; 6.Católico – A felicidade não é desta terra; 7. Muçulmano – Fé e
conquista; 8. Protestante – Graça e rigor; 9. Iluminista – Razão e progresso;
10. Liberal – Mão invisível e sem preconceito; 11. Industrial capitalista –
Produzir para consumir; 12. Industrial
socialista – Reformismo, cooperação, felicidade: 13. Industrial comunista –
Revolução, coletivismo, terror; 14. Pós-industrial – Sociedade programada e
virtual; 15. Brasileiro – O futuro
chegou.
O estudo discorre sobre virtudes e
equívocos dos modelos globais já experimentados, desembocando na conclusão de
que o progresso civilizatório só pode ser medido pela qualidade de vida das
pessoas. E que isso só é mesmo alcançado
na plenitude com práticas de relacionamento humano ancoradas no ócio criativo,
na meditação, no lazer, na contemplação da beleza, na amizade, na solidariedade
e na convivência fraternal. O Brasil, por força de estupendas virtudes encaixa-se
num modelo ideal que a humanidade carece adotar visando a própria
sobrevivência. Melhor dizendo, projeta esplendidamente esse modelo nas coisas
que faz.
“Não obstante o traço colonizador da
Europa e Estados Unidos, o Brasil permanece o Brasil e os aspectos originais e
melhores da brasilidade continuam a prevalecer sobre os importados e negativos”,
assevera o pensador. Admite que tais conceitos constituem a suma de estudos
aprofundados da realidade. Masi ressalta
que o juízo de valores assimilado derivou da contribuição haurida em obras de
intelectuais brasileiros, reconhecidos como pensadores de vanguarda. São
citados, entre outros, Gilberto Freire, Euclides da Cunha, Sérgio Buarque,
Cristovam Buarque, Caio Prado, Fernando Henrique Cardoso. Darcy Ribeiro é alvo
de louvação especial. “Inteligência fulgurante, ajudou-me a conhecer as
entranhas do processo civilizatório brasileiro a partir do caldeamento racial”.
Masi reporta-se ainda a Stefan Zweig autor da frase “O país do futuro”. A
expressão, anota Masi, foi também abundantemente utilizada nos escritos de Jorge
Amado.
Domenico de Masi aposta, esperançoso, no
modelo brasileiro como saída futura para os desafios de uma sociedade
desorientada. Considera, no complexo estudo, que os lances culturais dominantes
na vida brasileira situam-nos, entre todos os países do mundo, como o mais
preparado para definir novas formas de relacionamento diante dos conflitos
pós-industriais. Enaltece a circunstância de que o Brasil “nos cinco séculos de
sua história europeizada, exilou seus dois imperadores, substituiu a monarquia
pela República, levou ao poder ditadores e os destituiu, sempre recorrendo a
grandes movimentos de rua, sem degenerar em guerra civil”. Os argumentos
utilizados para fundamentar seu empolgamento com o Brasil contêm poder
contaminador mais que suficiente para induzir-nos, todos nós, a promover
sinceros esforços no sentido de redescobrir as potencialidades e virtualidades
inseridas no DNA da Nação.
*
Jornalista (cantonius1@yahoo.com.br)
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