domingo, 24 de setembro de 2023

O Brasil, segundo Domenico de Masi

   


 “O Brasil permanece o Brasil.”

(Domenico de Masi, sociólogo)

 



Domenico de Masi, sociólogo italiano de renome universal, falecido no ultimo dia 9 de setembro, aos 85 anos, nutria encantamento pelo Brasil. Deixou isso documentado em livros e depoimentos numerosos. Numa declaração de anos atrás, Masi explica a tese relativa ao Brasil sustentada em seu livro “O futuro chegou – modelos de vida para uma sociedade desorientada”.

 

E do que mesmo nos fala o pensador? Em meticulosa análise de 800 páginas alude aos sistemas de convivência que mais marcaram a história civilizatória, Domenico focaliza 15 modelos socioeconômicos e religiosos testados pela humanidade. Batiza-os com títulos que enfatizam traços peculiares da essência de cada um.

 

Estes os modelos apontados: 1. Indiano – Humanismo espiritual; 2.  Chinês – Grandeza composta; 3. Japonês – refinamento do guerreiro; 4. Clássico – Equilíbrio e beleza; 5.  Hebraico – O povo de Deus; 6.Católico – A felicidade não é desta terra; 7. Muçulmano – Fé e conquista; 8. Protestante – Graça e rigor; 9. Iluminista – Razão e progresso; 10. Liberal – Mão invisível e sem preconceito; 11. Industrial capitalista – Produzir para consumir; 12.  Industrial socialista – Reformismo, cooperação, felicidade: 13. Industrial comunista – Revolução, coletivismo, terror; 14. Pós-industrial – Sociedade programada e virtual; 15.  Brasileiro – O futuro chegou.

 

O estudo discorre sobre virtudes e equívocos dos modelos globais já experimentados, desembocando na conclusão de que o progresso civilizatório só pode ser medido pela qualidade de vida das pessoas.  E que isso só é mesmo alcançado na plenitude com práticas de relacionamento humano ancoradas no ócio criativo, na meditação, no lazer, na contemplação da beleza, na amizade, na solidariedade e na convivência fraternal. O Brasil, por força de estupendas virtudes encaixa-se num modelo ideal que a humanidade carece adotar visando a própria sobrevivência. Melhor dizendo, projeta esplendidamente esse modelo nas coisas que faz.

 

“Não obstante o traço colonizador da Europa e Estados Unidos, o Brasil permanece o Brasil e os aspectos originais e melhores da brasilidade continuam a prevalecer sobre os importados e negativos”, assevera o pensador. Admite que tais conceitos constituem a suma de estudos aprofundados  da realidade. Masi ressalta que o juízo de valores assimilado derivou da contribuição haurida em obras de intelectuais brasileiros, reconhecidos como pensadores de vanguarda. São citados, entre outros, Gilberto Freire, Euclides da Cunha, Sérgio Buarque, Cristovam Buarque, Caio Prado, Fernando Henrique Cardoso. Darcy Ribeiro é alvo de louvação especial. “Inteligência fulgurante, ajudou-me a conhecer as entranhas do processo civilizatório brasileiro a partir do caldeamento racial”. Masi reporta-se ainda a Stefan Zweig autor da frase “O país do futuro”. A expressão, anota Masi, foi também abundantemente utilizada nos escritos de Jorge Amado.

 

Domenico de Masi aposta, esperançoso, no modelo brasileiro como saída futura para os desafios de uma sociedade desorientada. Considera, no complexo estudo, que os lances culturais dominantes na vida brasileira situam-nos, entre todos os países do mundo, como o mais preparado para definir novas formas de relacionamento diante dos conflitos pós-industriais. Enaltece a circunstância de que o Brasil “nos cinco séculos de sua história europeizada, exilou seus dois imperadores, substituiu a monarquia pela República, levou ao poder ditadores e os destituiu, sempre recorrendo a grandes movimentos de rua, sem degenerar em guerra civil”. Os argumentos utilizados para fundamentar seu empolgamento com o Brasil contêm poder contaminador mais que suficiente para induzir-nos, todos nós, a promover sinceros esforços no sentido de redescobrir as potencialidades e virtualidades inseridas no DNA da Nação.

 

 

*   Jornalista (cantonius1@yahoo.com.br)

Nenhum comentário:

A SAGA LANDELL MOURA

O natal é dos corações fervorosos

                                                                                        Cesar Vanucci*     "Natal. Apagam-se as l...