domingo, 22 de outubro de 2023

Canto ecológico de Tom Jobim

 


                                                                                                 *Cesar Vanucci

Deixe o mato crescer, deixe o índio viver” (Refrão de uma melodia de Tom Jobim)

 

Ainda bem que o livre território da internet não é percorrido tão somente por indivíduos e grupos inescrupulosos, especializados em disseminar o ódio e espalhar sandices de toda ordem.

 Em trechos e clareiras dominados por lições de vida edificantes e por criatividade artística rica em conteúdo humanístico, os internautas podem se defrontar, em muitos momentos com criações que enlevam o espírito. Tal qual aconteceu, dia desses, quando o neto predileto de vovó Carlota - que outra pessoa não é se não o desajeitado escriba dessas mal traçadas  – acionou no computador um aplicativo dedicado a espetáculos musicais. O que veio projetado na telinha foi uma soberba audição em praça pública dos anos 90, comemorativa do aniversário da cidade de São Paulo, levada ao ar pela TV Cultura, tendo como protagonista ninguém mais, ninguém menos do que o genial  e saudoso Antônio Carlos Jobim. Acompanhado de musicistas e interpretes vocais da melhor categoria, o compositor da antológica “Águas de março”, valendo-se de seu magistral repertório, produziu uma ode de suma beleza à Natureza, debaixo de aplausos prolongados e ensurdecedores da multidão presente ao evento.

As peças lindamente executadas por exímios instrumentistas e cantadas por um coral harmonioso, integrado em boa parte por jovens com sobrenome Caymi e Jobim, eletrizaram o ambiente. As vocalizações de Tom e convidados, Chico Buarque de Holanda e Milton Nascimento criaram atmosfera, pode se dizer, de puro êxtase.

Depois de assistir ao espetáculo por duas vezes consecutivas, recomendo singelamente ao pessoal responsável pelas políticas publicas de conscientização ambiental que procurem se inspirar em sugestivas passagens desse show de Tom Jobim e companheiros, na elaboração de suas campanhas educativas.

As musicas apresentadas clamam por respeito permanente à floresta, à biodiversidade. Apelam para que se deixe o “mato crescer” e o “índio sobreviver...”

Achei oportuno reproduzir abaixo a letra de uma das canções (“Borzeguim”) pelo conteúdo ecológico .

Borzeguim, deixa as fraldas ao vento / E vem dançar / E vem dançar / Hoje é sexta-feira de manhã / Hoje é sexta-feira / Deixa o mato crescer em paz /
Deixa o mato crescer /Deixa o mato / Não quero fogo, quero água /(deixa o mato crescer em paz) / Não quero fogo, quero água / (deixa o mato crescer)
Hoje é sexta-feira da paixão sexta-feira santa / Todo dia é dia de perdão
Todo dia é dia santo /Todo santo dia /Ah, e vem João e vem Maria
Todo dia é dia de folia / Ah, e vem João e vem Maria / Todo dia é dia
O chão no chão / O pé na pedra /O pé no céu / Deixa o tatu-bola no lugar
Deixa a capivara atravessar /Deixa a anta cruzar o ribeirão / Deixa o índio vivo no sertão / Deixa o índio vivo nu / Deixa o índio vivo / Deixa o índio / Deixa, deixa / Escuta o mato crescendo em paz / Escuta o mato crescendo
Escuta o mato/ Escuta /Escuta o vento cantando no arvoredo /Passarim passarão no passaredo /Deixa a índia criar seu curumim
Vá embora daqui coisa ruim / Some logo/Vá embora
Em nome de Deus é fruta do mato/ Borzeguim deixa as fraldas ao vento
E vem dançar/ E vem dançar /O jacú já tá velho na fruteira /O lagarto teiú tá na soleira /Uirassu foi rever a cordilheira /Gavião grande é bicho sem fronteira/Cutucurim / Gavião-zão /Gavião-ão /Caapora do mato é capitão /Ele é dono da mata e do sertão/ Caapora do mato é guardião / É vigia da mata e do sertão /(Yauaretê, Jaguaretê) / Deixa a onça viva na floresta /Deixa o peixe n'água que é uma festa /Deixa o índio vivo / Deixa o índio /Deixa /Deixa /Dizem que o sertão vai virar mar /Diz que o mar vai virar sertão / Deixa o índio /Dizem que o mar vai virar sertão /Diz que o sertão vai virar mar /Deixa o índio/ Deixa/Deixa

 

 Jornalista(cantonius1@yahoo.com.br)

 

Um comentário:

Anônimo disse...

Querido Cesar, excelente texto, como sempre, abraço saudoso, Humberto Mota

A SAGA LANDELL MOURA

O natal é dos corações fervorosos

                                                                                        Cesar Vanucci*     "Natal. Apagam-se as l...