*Cesar Vanucci
“Deixe
o mato crescer, deixe o índio viver” (Refrão de uma melodia de Tom Jobim)
Ainda
bem que o livre território da internet não é percorrido tão somente por
indivíduos e grupos inescrupulosos, especializados em disseminar o ódio e espalhar
sandices de toda ordem.
Em trechos e clareiras dominados por lições de
vida edificantes e por criatividade artística rica em conteúdo humanístico, os
internautas podem se defrontar, em muitos momentos com criações que enlevam o
espírito. Tal qual aconteceu, dia desses, quando o neto predileto de vovó
Carlota - que outra pessoa não é se não o desajeitado escriba dessas mal
traçadas – acionou no computador um
aplicativo dedicado a espetáculos musicais. O que veio projetado na telinha foi
uma soberba audição em praça pública dos anos 90, comemorativa do aniversário
da cidade de São Paulo, levada ao ar pela TV Cultura, tendo como protagonista
ninguém mais, ninguém menos do que o genial e saudoso Antônio Carlos Jobim. Acompanhado de
musicistas e interpretes vocais da melhor categoria, o compositor da antológica
“Águas de março”, valendo-se de seu magistral repertório, produziu uma ode de
suma beleza à Natureza, debaixo de aplausos prolongados e ensurdecedores da multidão
presente ao evento.
As
peças lindamente executadas por exímios instrumentistas e cantadas por um coral
harmonioso, integrado em boa parte por jovens com sobrenome Caymi e Jobim, eletrizaram
o ambiente. As vocalizações de Tom e convidados, Chico Buarque de Holanda e Milton
Nascimento criaram atmosfera, pode se dizer, de puro êxtase.
Depois
de assistir ao espetáculo por duas vezes consecutivas, recomendo singelamente
ao pessoal responsável pelas políticas publicas de conscientização ambiental que
procurem se inspirar em sugestivas passagens desse show de Tom Jobim e companheiros,
na elaboração de suas campanhas educativas.
As
musicas apresentadas clamam por respeito permanente à floresta, à
biodiversidade. Apelam para que se deixe o “mato crescer” e o “índio sobreviver...”
Achei
oportuno reproduzir abaixo a letra de uma das canções (“Borzeguim”) pelo
conteúdo ecológico .
Borzeguim,
deixa as fraldas ao vento / E vem dançar / E vem dançar / Hoje é sexta-feira de
manhã / Hoje é sexta-feira / Deixa o mato crescer em paz /
Deixa o mato crescer /Deixa o mato / Não quero fogo, quero água /(deixa o mato
crescer em paz) / Não quero fogo, quero água / (deixa o mato crescer)
Hoje é sexta-feira da paixão sexta-feira santa / Todo dia é dia de perdão
Todo dia é dia santo /Todo santo dia /Ah, e vem João e vem Maria
Todo dia é dia de folia / Ah, e vem João e vem Maria / Todo dia é dia
O chão no chão / O pé na pedra /O pé no céu / Deixa o tatu-bola no lugar
Deixa a capivara atravessar /Deixa a anta cruzar o ribeirão / Deixa o índio
vivo no sertão / Deixa o índio vivo nu / Deixa o índio vivo / Deixa o índio / Deixa,
deixa / Escuta o mato crescendo em paz / Escuta o mato crescendo
Escuta o mato/ Escuta /Escuta o vento cantando no arvoredo /Passarim passarão
no passaredo /Deixa a índia criar seu curumim
Vá embora daqui coisa ruim / Some logo/Vá embora
Em nome de Deus é fruta do mato/ Borzeguim deixa as fraldas ao vento
E vem dançar/ E vem dançar /O jacú já tá velho na fruteira /O lagarto teiú tá
na soleira /Uirassu foi rever a cordilheira /Gavião grande é bicho sem
fronteira/Cutucurim / Gavião-zão /Gavião-ão /Caapora do mato é capitão /Ele é
dono da mata e do sertão/ Caapora do mato é guardião / É vigia da mata e do
sertão /(Yauaretê, Jaguaretê) / Deixa a onça viva na floresta /Deixa o peixe
n'água que é uma festa /Deixa o índio vivo / Deixa o índio /Deixa /Deixa /Dizem
que o sertão vai virar mar /Diz que o mar vai virar sertão / Deixa o índio /Dizem
que o mar vai virar sertão /Diz que o sertão vai virar mar /Deixa o índio/ Deixa/Deixa
Jornalista(cantonius1@yahoo.com.br)
Um comentário:
Querido Cesar, excelente texto, como sempre, abraço saudoso, Humberto Mota
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