Cesar Vanucci
“Olho por olho, e o mundo acabará cego” (Mahatma
Gandhi)
A
atuação magistral do Ministério das Relações exteriores do Brasil na ONU e
demais plenários onde se debate o horrendo conflito do Oriente Médio, somada à
impecável performance da nossa FAB e dos nossos diplomatas no repatriamento de
compatriotas nas zonas conflagradas estão sendo objeto de compreensível
louvação por parte da comunidade internacional. O tom pacifista das
intervenções, a disposição solidária para com as partes alvejadas, o resoluto
propósito de alcançar com eficácia os alvos pretendidos, evidenciados nas ações
promovidas por esses nossos denodados patrícios, projetam admiravelmente a
índole e o sentimento humanitário que povoam a alma nacional.
Todas as circunstâncias apontadas arrancam da
memória velha de guerra deste escriba uma emblemática citação feita, há tempos,
pelo famoso sociólogo italiano Domenico de Mais, recentemente falecido. Com efeito,
falando de seu encantamento pela vocação humanista de nossa gente, ele assim se
expressou: “Ninguém bombardearia as Torres Gêmeas, se elas estivessem
localizadas no Brasil”.
Voltemos. Agora, o foco das atenções para o
horror da guerra ainda sem perspectivas de acabar, à hora em que redigimos esse
texto. Deploravelmente o clamor humano e os apelos sensatos dos homens e
mulheres de boa vontade nos mais diferentes rincões deste planeta azul para que
cessem imediatamente a abominável porfia bélica não têm encontrado a acolhida
almejada por parte dos contendores. O coro de vozes proclamando a necessidade
da paz, a possibilidade de “pausas humanitárias”, a criação de corredores por
onde possam chegar às multidões sitiadas artigos de subsistência básica,
inclusive combustível para geradores dos hospitais colapsados, não conseguem
sensibilizar “os senhores da guerra”. Como não conseguem igualmente convencer
os setores engalfinhados no morticínio e destruição, da urgência da libertação
de inocentes reféns e da interrupção dos disparos de mísseis. O extremismos
radicais recusam-se a por fim na violência, não importa a dimensão da catástrofe
humanitária que se desdobra diante dos olhares perplexos de todos. A retórica
exaltando a excelência da paz tem sido intensa, mas nenhuma atitude decisiva
foi ainda tomada, passando-se da teoria para a prática. Minorias belicosas
fazem prevalecer, sobre maiorias bem intencionadas e com lúcida compreensão da
geopolítica concebida pelos amantes da paz, posições intolerantes,
negacionistas, de primitivismo ideológico assustador. Tais minorias, de um lado
negam a existência legitima do Estado do Israel. De outro lado, fazem de tudo
para que o Estado da Palestina não seja implantado. Desafiam, despudoradamente,
abertamente, a ONU, o entendimento consensual das Nações. Por tão execrável motivo os horripilantes
dramas da guerra a que estamos assistindo, impotentes e angustiados, continuam,
maleficamente para a condição humana, a se sobreporem às discussões acaloradas das
mesas de negociações diplomáticas. É aí que as diferenças, pendências, tensões,
divergências, deverão ser lançadas de maneira a se encontrar porta ampla de
saída para a crise política e a tragédia humanitária que assolam uma parte do
mundo sob o olhar permanente de todos os viventes, não importa sua
nacionalidade, sua etnia, sua crença.
Por derradeiro, uma palavra sugestiva do Papa
Francisco: “O terror e a guerra só causam morte e destruição.”
Jornalista(cantonius1@yahoo.com.br)
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