*Cesar
Vanucci
“Ninguém
morre. Parte primeiro” (Camões)
Olavo
Romano, bom, leal e culto companheiro, distanciou-se na caminhada. Perdemo-lo de vista na encruzilhada. Partiu
primeiro, conforme o lírico registro do poeta maior. Na saudade dos parentes e amigos restou a
consoladora certeza do reencontro, mais adiante, noutra ladeira da existência. Possuía
inteligência faiscante. Dela jorrava a verve que adornava falas e escritos de
rico conteúdo. Olavo conhecia de cor e salteado a lida da palavra. Humanista,
titular absoluto do escrete dos intelectuais de peso das Gerais, sabia enfocar
e fotografar pelo verbo, de forma
esplêndida, as emoções simples da gente do povo. Deixou-nos páginas memoráveis na
contação de causos colhidos no colorido cotidiano das ruas. Tornou-se, assim, escritor
aclamado, um retratista de primeira da alma montanhesa.
Numa
camaradagem que varou décadas, reunimo-nos algumas vezes para troca de ideias sobre
a variada, posto que complicada, temática humana. Com frequência, nessas
ocasiões, afloravam historietas singulares em que, por força de circunstâncias inexplicáveis,
vimo-nos envolvidos. À falta de uma melhor definição, vou buscar no capitulo
das percepções extra-sensoriais o termo que possa classificá-las: sincronicidades.
Relato, em seguida, uma delas, bastante sugestiva. Antes de fazê-lo, entretanto,
não resisto à tentação de relembrar que o bom humor e a gargalhada pode se
afirmar feérica de Olavo espichavam sempre o bate-papo.
De certa feita, final dos anos 80, participei
de uma reunião com Olavo na Secretaria da Fazenda, onde ele respondia pela
Chefia de Gabinete do Secretário Paulo Hadadd. Eu estava, então, Superintendente
Geral do Sistema FIEMG, função acumulada com a Presidência da Universidade do
Trabalho de MG. Nesta ultima instituição Olavo havia atuado em cargo executivo,
assessorando o conceituado Professor Agnelo Viana. Entreguei-lhe um estudo da
entidade da indústria para análise da equipe econômica do Governo. Ao por Olavo
a par de que, no dia seguinte, viajaria para o Peru, ele expressou o desejo de
que eu fosse portador de correspondência a uma funcionária graduada do
Ministério da Educação em Lima que fizera estágio em Belo Horizonte, na
Ultramig. A correspondência, no entanto, não foi feita. Uma semana depois eu visitava
Nazca, considerada uma espécie de Cabo Canaveral da pré-história. Acabara de
sobrevoar as famosas linhas geométricas e, já agora, as percorria. Emparelhei-me,
puxando conversa, com uma senhora que fazia o mesmo trajeto. Dela ouvi pergunta
sobre minha nacionalidade, ao saber-me brasileiro, ela confessou gostar muito
de meu país, sobretudo de Belo Horizonte, onde ficou amiga de um famoso
escritor. Ele próprio, Olavo Romano. A mulher deixou-se tomar pelo maior
espanto e júbilo incontido quando lhe revelei, à queima-roupa, que tinha sido incumbido
por Olavo Romano de abraçá-la. O abraço caloroso que lhe dei no deserto de
Nazca, sob sol escaldante arrancou do grupo de turistas vibrantes exclamações. Ao retornar a Belo Horizonte, procurei Olavo
para dar-lhe notícia do assombroso encontro no Peru. Relembramos esta historia
incontável número de vezes.
Na despedida de Olavo, parentes e colegas tomaram
conhecimento de belo e comovente poema escrito por sua irmã, Alcéa Romano. Faço
questão de aqui reproduzi-lo, como homenagem
fraternal à memória deste grande personagem da vida cultural.
"Olavo
contou caso novo, e de novo, inovou / Falou do tio, da mãe, do avô. / Dos
netos e dos filhos do senhor Nonô. / Do tempo, da vida, da graça, da praça, do
povo, da Vila. / E o semblante de todos abrandou./ /As palavras, as letras, a
fala, abraçou, Buscou, perguntou, conversou, se entregou./ Recebeu, agradeceu,
repartiu, ofereceu este dom como prece./ Buscou nas estrelas, o que aqui não
encontrou. / Partiu pra mais longe./ No plano Divino, foi refazer sua
história. / E nós aqui, coração batendo e guardando o Olavo na memória”.
Jornalista(cantonius1@yahoo.co.br)
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