O Presidente Lula saiu do ponto.”
(Senador
Jacques Wagner, líder governamental no Senado)
O Presidente Luiz Inácio Lula da Silva falou
o que não devia e escutou o que não precisava ouvir. Extrapolou, como se diz no jargão diplomático,
a linha vermelha. A comparação da virulenta contraofensiva israelense em Gaza
com a horrenda história do Holocausto foi infeliz em demasia. As atrocidades nazistas alvejando
prioritariamente a comunidade judia e envolvendo outros grupos não encontram
paralelo na história dos crimes cometidos contra pessoas e patrimônios em
nenhum outro momento da idade moderna, que é pontilhada, como sabido, por
atentados frequentes à dignidade humana.
Ato incontinente à retórica desastrada, a
reação oficial do Governo de Netanyahu foi bastante veemente, enveredando,
todavia, por tom descomedido dentro dos padrões diplomáticos que regem as
relações entre países que preservam histórica convivência fraternal. O Ministro
da defesa de Israel, Yoav Gallant, depois
de considerar Lula “persona non grata”, exigindo que se retratasse, mandou
chamar o Embaixador brasileiro em Telavive
para reunião no “Museu do Holocausto”, com o fito de aplicar-lhe uma repreensão
pública sob os holofotes midiáticos. O “pito” foi dado em hebraico, com voz
alterada e sem tradutor por perto, algo pra lá de surreal. Ao Itamaraty não
restou alternativa que não a de trazer de volta o Embaixador brasileiro Frederico Meyer , e convocar o Embaixador de Israel em brasília, Daniel Zonshine para encontro reservado, sem
presença de jornalistas, com o Ministro
das Relações Exteriores, Mauro Vieira, afim de registrar o desconforto causado com
o tratamento dispensado ao nosso país na momentosa questão. Não satisfeito com
as atitudes já tomadas, o Chanceler Yoav, resolveu escalar uma oitava a mais no protesto,
abrindo nova frente de críticas ao Presidente do Brasil pelas redes sociais, o que
está sendo considerado por observadores qualificados em política internacional comportamento
inteiramente fora do compasso diplomático e que só se apresta a acirrar ânimos
e ampliar discórdias.
A impressão, aventada por jornalistas, de que
o Governo Netanyahu esteja empenhado em utilizar a imprópria fala de Lula,
proferida na Etiópia, como instrumento de propaganda política, na tentativa de melhorar
sua desgastada imagem nos planos interno e externo, parece de algum modo,
corroborada por episódios bastante emblemáticos. O Presidente da Turquia, Erdogan
Turkey fez pronunciamentos em dezembro e janeiro extremamente hostis à conduta
das Forças Armadas de Israel em Gaza, falando em “Holocausto” e “genocídio” e comparando
o Primeiro Ministro de Israel com “Fuehrer”, e “Hitler”.
Telavive protestou, mas não desfechou contra o governante de Ancara e seu país a
artilharia pesada verbal agora observada. De outra parte, a expressão “genocídio”,
alusiva à tragédia de Gaza, foi também empregada pelo Governo da África do Sul
ao propor a condenação de Israel e seus dirigentes por “crimes de guerra” na
Corte Internacional de Justiça de Hia. Pela mesma forma, a reação de Israel
ficou adstrita aos protocolos tradicionais da política diplomática.
A opinião pública brasileira acompanha com
notório desagrado o desdobramento do caso em tela. Ancorada nas boas relações que o Brasil
mantém com o Israel desde sua criação, em 1948, quando a presidência da ONU era
ocupada por Oswaldo Aranha, aguarda confiante, que as escaramuças
antidiplomáticas cessem o quanto antes.
Sejam substituídas pelo tom respeitoso e fraternal que a competente
diplomacia brasileira consegue imprimir, como reconhecido universalmente, a
todas as ações em que se vê envolvida.
Enquanto isso em Gaza...
Jornalista(cantonius1@yahoo.com.br)
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