"(...)bela viola,..."
Cesar Vanucci
“Não afeta, em hipótese nenhuma a segurança das cinco unidades
prisionais Federais. É um problema localizado a ser superado.” (Ministro Ricardo Lewandowski .)
Estupefação
geral. Tudo muito surreal. Dois detentos de alta periculosidade escapuliram da
penitenciaria de “segurança máxima” de Mossoró, Rio Grande do Norte, praticamente
pela “porta da frente”. Por mais incrível que possa parecer, conseguiram abrir buraco
entre parede e teto das celas em que se achavam recolhidos no setor mais
restritivo da unidade. Munidos de um alicate (?!), fizeram um furo na cerca de
alambrado do prédio, depois de circularem livremente pelos corredores e pátios,
ganhando assim a liberdade. A ousada proeza se desenrolou diante de câmeras,
guaritas de vigilância, mas o alarme de fuga só veio a ser acionado muito tempo
depois da evasão.
Até aqui as penitenciárias ditas de “segurança
máxima” eram apontadas como fortificações inalcançáveis pelo “crime organizado”
de dentro pra fora ou de fora pra dentro. Não são mais. As facções ganharam mais
um round de uma série de rounds a serem ainda disputados nos combates travados
com a Segurança Pública. A sensação de desconforto experimentada pela comunidade,
em face de mais essa inverossímel ocorrência, clama por avaliação mais
aprofundada da conjuntura carcerária. As pessoas se perguntam, boquiabertas,
como é possível num presídio de “segurança máxima”, presos isolados na ala
destinada a abrigar indivíduos mais violentos possam fugir sem quaisquer
atropelos, interceptações, de forma tão desembaraçada.
A gente se pergunta, também, como é possível aprovar-se
projeto arquitetônico de penitenciária com o teto devassável. Outra estranheza
a anotar: a ação dos delinquentes, em seu esforço de se sobreporem a eventuais
obstáculos, deveria produzir ruídos que logicamente não passariam despercebidos
a uma vigilância atenta. Fica muito difícil aceitar a tese de que a fuga não
tenha sido fruto de conluio envolvendo outros participantes.
Dolorosa
constatação: não há mais limites para atuação das organizações criminosas. As
cadeias pertencentes a outros sistemas, que não o complexo federal, já haviam
sido, de algum modo, atingidas pelo poder corrosivo e nefasto dessas ativas e
perigosas quadrilhas. O noticiário nosso de cada dia proporciona relatos
frequentes acerca dessa ação sorrateira sumamente danosa. Os registros falam de
rebeliões, recrutamento de
apenados para integrarem as facções, articulações referentes ao Tráfico externo de Drogas, “rede
clandestina de celulares” operando a pleno vapor com o fito de ditar comandos
para comparsas e aplicar golpes contra cidadãos incautos no sossego dos lares.
Ainda agora mesmo, tomamos ciência da fuga, numa cadeia regional superlotada do
Piauí, perto de Mossoró, de 17 presos de uma só vez.
A
fuga de Mossoró forçou o Governo a montar uma mega operação, sem precedentes na
crônica policial brasileira, com vistas à captura dos fugitivos. É provável que
os resultados desejados já hajam sido alcançados à hora em que este comentário
estiver sendo lido. O Ministério da Justiça tornou conhecidas inúmeras medidas
tomadas com propósito de rever protocolos vigentes no sistema prisional.
Anunciou, ao mesmo tempo, obras de reforço na segurança das edificações.
Tudo quanto exposto leva-nos a concluir que se
faz urgente e inadiável uma reflexão
amadurecida e a tomada de decisões vigorosas nesse perturbador capitulo da
Segurança Pública em nosso país. Governo, Justiça, Congresso e setores
responsáveis pelas políticas de segurança precisam dialogar mais intensamente sobre
as estratégias a serem implementadas no enfrentamento, de modo eficaz, das
ofensivas do crime organizado, no centro hoje, das preocupações mais
angustiantes da sociedade brasileira.
Jornalista(cantonius1@yahoo.com.br)
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