quarta-feira, 21 de fevereiro de 2024

A Fuga de Mossoró

                                 "(...)bela viola,..."


Cesar Vanucci

“Não afeta, em hipótese nenhuma a segurança das cinco unidades prisionais Federais. É um problema localizado a ser superado.” (Ministro Ricardo Lewandowski .)

 

Estupefação geral. Tudo muito surreal. Dois detentos de alta periculosidade escapuliram da penitenciaria de “segurança máxima” de Mossoró, Rio Grande do Norte, praticamente pela “porta da frente”. Por mais incrível que possa parecer, conseguiram abrir buraco entre parede e teto das celas em que se achavam recolhidos no setor mais restritivo da unidade. Munidos de um alicate (?!), fizeram um furo na cerca de alambrado do prédio, depois de circularem livremente pelos corredores e pátios, ganhando assim a liberdade. A ousada proeza se desenrolou diante de câmeras, guaritas de vigilância, mas o alarme de fuga só veio a ser acionado muito tempo depois da evasão.

 Até aqui as penitenciárias ditas de “segurança máxima” eram apontadas como fortificações inalcançáveis pelo “crime organizado” de dentro pra fora ou de fora pra dentro. Não são mais. As facções ganharam mais um round de uma série de rounds a serem ainda disputados nos combates travados com a Segurança Pública. A sensação de desconforto experimentada pela comunidade, em face de mais essa inverossímel ocorrência, clama por avaliação mais aprofundada da conjuntura carcerária. As pessoas se perguntam, boquiabertas, como é possível num presídio de “segurança máxima”, presos isolados na ala destinada a abrigar indivíduos mais violentos possam fugir sem quaisquer atropelos, interceptações, de forma tão desembaraçada.

 A gente se pergunta, também, como é possível aprovar-se projeto arquitetônico de penitenciária com o teto devassável. Outra estranheza a anotar: a ação dos delinquentes, em seu esforço de se sobreporem a eventuais obstáculos, deveria produzir ruídos que logicamente não passariam despercebidos a uma vigilância atenta. Fica muito difícil aceitar a tese de que a fuga não tenha sido fruto de conluio envolvendo outros participantes.

Dolorosa constatação: não há mais limites para atuação das organizações criminosas. As cadeias pertencentes a outros sistemas, que não o complexo federal, já haviam sido, de algum modo, atingidas pelo poder corrosivo e nefasto dessas ativas e perigosas quadrilhas. O noticiário nosso de cada dia proporciona relatos frequentes acerca dessa ação sorrateira sumamente danosa. Os registros falam de rebeliões, recrutamento de apenados para integrarem as facções, articulações referentes ao Tráfico externo de Drogas, “rede clandestina de celulares” operando a pleno vapor com o fito de ditar comandos para comparsas e aplicar golpes contra cidadãos incautos no sossego dos lares. Ainda agora mesmo, tomamos ciência da fuga, numa cadeia regional superlotada do Piauí, perto de Mossoró, de 17 presos de uma só vez.

A fuga de Mossoró forçou o Governo a montar uma mega operação, sem precedentes na crônica policial brasileira, com vistas à captura dos fugitivos. É provável que os resultados desejados já hajam sido alcançados à hora em que este comentário estiver sendo lido. O Ministério da Justiça tornou conhecidas inúmeras medidas tomadas com propósito de rever protocolos vigentes no sistema prisional. Anunciou, ao mesmo tempo, obras de reforço na segurança das edificações.  

 Tudo quanto exposto leva-nos a concluir que se faz urgente e inadiável  uma reflexão amadurecida e a tomada de decisões vigorosas nesse perturbador capitulo da Segurança Pública em nosso país. Governo, Justiça, Congresso e setores responsáveis pelas políticas de segurança precisam dialogar mais intensamente sobre as estratégias a serem implementadas no enfrentamento, de modo eficaz, das ofensivas do crime organizado, no centro hoje, das preocupações mais angustiantes da sociedade brasileira.

 

Jornalista(cantonius1@yahoo.com.br)

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