*Cesar
Vanucci
“A solução da crise só será
duradoura com a criação de um Estado palestino, reconhecido como membro pleno da
ONU”. (Presidente Lula)
A
comparação do conflito em Gaza com o Holocausto, feita pelo Presidente Lula, ganhou
compreensivelmente repercussão negativa. Mas, outra fala de Lula, ainda na Etiópia, pouco antes
da malfadada e duramente criticada entrevista, produziu efeito diametralmente
oposto.
Reportando-se à guerra que
galvaniza as atenções, o Presidente fez correta avaliação de múltiplos aspectos
do litígio, refletindo o modo de ver de parcelas majoritárias da opinião pública
universal. O pronunciamento, numa conferência com chefes de Estado africanos,
pode ser assim sintetizado: 1) Ser humanista, nestes tempos conturbados, é
condenar com veemência o ato terrorista do Hamas em território Israelense,
matando inocentes e sequestrando civis; 2) ser humanista, nestes tempos belicosos,
é rechaçar igualmente a resposta desproporcional do Estado de Israel, que já
vitimou 30 mil palestinos na maioria mulheres e crianças; 3) ser humanista, nos
tempos de hoje, é clamar pela libertação dos reféns e pela trégua humanitária;
4) ser humanista, nestes tempos tumultuados, é admitir sem titubeios que a
solução para a crise só será duradoura com a criação do Estado da Palestina.
Estas considerações devem ser acrescidas, para
melhor entendimento do assunto, de informações relevantes. Os conceitos expendidos
pelo Presidente do Brasil no pronunciamento estão em sintonia com manifestações
da quase totalidade dos países da ONU. Fazem parte de numerosas resoluções
acolhidas por votação maciça em plenário, embora não conseguissem prosperar devido
a vetos isolados.
É oportuno enfatizar, ainda,
que a Assembleia da ONU definiu, já em 1948, a criação dos Estados de Israel e
Palestina, nutrindo mais do que um desejo, uma inquebrantável esperança de que
as duas pátrias pudessem conviver para sempre em harmonia. Israel tornou-se potência
de primeira grandeza política e econômica. Mas, a Palestina, transcorridos mais
de 70 anos, não ganhou o espaço prometido, tão almejado, no atlas geográfico,
pelo menos até agora. O processo de implantação definitivo da Palestina com
limites geográficos bem precisos, identidade própria e tudo mais que sirva para
assegurar legitimidade a uma Nação no concerto mundial, esbarra em ferrenhos
obstáculos. Decorre daí a lentidão, pode-se dizer mesmo, o andamento acovardado,
com que são conduzidas, nas altas esferas decisórias mundiais, as articulações com
vistas a tornar realidade o sonho ardente de milhões de palestinos. Uma gente
espezinhada que perambula pelos descampados da vida, sem eira nem beira,
recolhidos, boa parte deles, nos campos de refugiados de terras alheias.
Por mais estranho que seja, entre
os que se opõe tenazmente à existência da
Palestina aparecem com destaque os próprios contendores deste conflito feroz que
ensanguenta o Oriente Médio. Hamas, Hezbollah e outros grupos terroristas
engajadas no conflito não aceitam o Estado da Palestina. Sua iracunda obsessão
é a completa destruição do Estado de Israel. Por sua vez os governantes de
Israel já deixaram manifesta em várias ocasiões radical oposição à ideia da estruturação,
nos termos previstos pela ONU, do Estado da Palestina. Os contínuos
assentamentos de colonos na Cisjordânia, em desafio aberto à ONU e comunidade
das Nações, representão prova contundente desta censurável postura.
Pelo que se vê o itinerário
a ser percorrido na busca de solução ideal para se interromper o interminável
ciclo de contendas naquele cenário - o mais Sagrado da historia da civilização
-, compreende, infalivelmente as etapas seguintes: cessação das hostilidades, devolução
aos Palestinos das áreas indevidamente entregues a colonos israelitas,
negociações com muito diálogo e participação das lideranças globais, aceitação
e reconhecimento amplo, geral e irrestrito da Palestina como Estado.
Jornalista (cantonius1@yahoo.com.br)
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