Pra
falar verdade, ninguém foi totalmente pego de surpresa com a identificação dos autores
da intentona golpista. Afinal de contas, as digitais dos implicados no atentado
antidemocrático estavam profusamente espalhadas por tudo quanto é canto
investigado. As provas arrasadoras, meticulosamente colhidas e sistematicamente
liberadas pela Polícia Federal e divulgadas pela mídia sinalizavam, desde o
começo, o que estava por vir na hora fatal da designação dos nomes, sobrenomes,
endereços e CPFs da patota sediciosa.
A
delação premiada do Tenente Coronel Mauro Cid, ajudante de ordens do
ex-presidente, Jair Messias Bolsonaro, abriu as comportas das revelações
incriminatórias. A ela juntaram-se adiante, entre muitos outros indícios, os
impressionantes depoimentos de dois militares de alta graduação, reputação e credibilidade irretorquíveis,
ambos integrantes do ministério de um governante que se empenhava, obsedantemente,em golpear de morte
as instituições democráticas. O ex-ministro do Exército, Marco Antonio Freire
Gomes e o ex-ministro da Aeronáutica, Carlos de Almeida Baptista Jr., ouvidos
como testemunhas pela PF, relataram com riqueza de detalhes, o que ocorreu nos
bastidores do Palácio do Planalto na urdidura da conspiração. Foi um desfile de
informações estarrecedoras. Deixou muita gente de queixo caído. Como é possível, a essa altura de nossa
evolução democrática, algo assim, ser engendrado, em desafio tão insolente à
consciência cívica da nação? Durante as oitivas o General e o Brigadeiro mencionaram
as pressões e constrangimentos vividos nos contatos com a antiga cúpula
governamental. Registraram sua enfática recusa em participar da conjura. Condenaram a atitude de Bolsonaro, chegando a
dizer-lhe, em certo momento, ser ele passível de prisão em razão das ilicitudes
praticadas. Confirmaram que todas as avaliações feitas por organismos altamente
qualificados, inclusive as Forças Armadas, atestaram, peremptoriamente, a
lisura das eleições e a fidedignidade dos dados extraídos das urnas
eletrônicas, ao contrário do que foi propalado pelos interessados na quebra dos
dispositivos democráticos.
A
ruptura institucional com a implantação de um regime de exceção objetivada na
trama colocada em andamento pelo ex-presidente com o conluio de outros
personagens destacados na vida pública, não se concretizou em plenitude por
diversos alvissareiros fatores. O primeiro deles foi a amadurecida consciência da
sociedade brasileira. Mantendo presentes
na memória lances trevosos do passado, a
opinião pública repele toda e qualquer tentativa extremista de violação dos
preceitos democráticos. Outro fator digno de nota foi a incontinenti reação dos
Poderes Constituídos às manobras golpistas. Pesou também e muito na resistência
à ação desagregadora dos plantonistas da ditadura o posicionamento legalista
das Forças Armadas, como exemplificado na conduta dos dois chefes militares
citados.
Esta
impactante e nefasta investida antidemocrática, abortada, nos efeitos mais
danosos almejados pelos conspiradores, caminha na direção dos indiciamentos e
julgamentos de seus autores. Paralelamente
aos fatos relacionados ao golpe propriamente dito, aproximam-se também do
desfecho investigações sobre outras cabulosas façanhas envolvendo os mesmos manjados
personagens.
A
novela golpista chega a seus últimos capítulos. A esperança de todos é de que
as cenas vividas jamais voltem a ser exibidas.
2 comentários:
Avaliação criteriosa e sustentada pelos fatos. Muito firme!
A verdade sempre aparece, mesmo que tardia.
E, às vezes, dói.
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