*Cesar Vanucci
“O PCC já se equipara a Máfia” (Lincoln Gakiya, Promotor de Justiça de SP).
As investigações levadas a cabo pela Justiça
e Ministério Público de São Paulo com a colaboração da Receita Federal, tendo
como alvo o sistema de transporte coletivo urbano da capital bandeirante,
revela de forma exuberante a avantajada infiltração do crime organizado nos
escalões administrativos do Estado. Pelo que já veio à tona, trazido pelos
promotores, o PCC, grupo mafioso de alta periculosidade, apoderou-se de parte
substancial das linhas de ônibus que circulam na maior cidade do país,
controlando duas ou mais empresas responsáveis pelo deslocamento diário de
calculadamente 600 mil passageiros. O esquema que está sendo agora desmontado
pelas autoridades vem beneficiando, há anos a lavagem de dinheiro ligada ao
trafico de drogas, de armas e outras atividades ilícitas. Ficou apurado que a “gestão
empresarial” era exercida por elementos indicados pelo Primeiro Comando da Capital
(PCC). Contra eles expediram-se ordens de prisão. Algumas já foram cumpridas,
estando a polícia no encalço de elementos foragidos. A justiça ordenou o
sequestro de bens, o que levou à constatação de que os “fora da lei” são
detentores de mansões e veículos luxuosos, além de outros ativos de custo
elevado. Os promotores estão convencidos de que as investigações em curso,
dessa operação emblematicamente denominada “Fim de linha”, desembocarão
fatalmente na descoberta de outras frentes de atuação do banditismo em esferas
governamentais. No foco das atenções da força tarefa incumbida das
desconcertantes apurações figuram, também, alguns setores que provavelmente
estariam sendo alcançados pelos tentáculos da facção. Já teria sido
identificada a participação de “empresários do crime” em negócios de revenda de
veículos de luxo, hotelaria, serviços hospitalares e de limpeza. A prefeitura
de São Paulo promoveu, com base em decisão judicial, a reestatização das linhas
operadas pelas concessionárias assumidas pelo pessoal do PCC. A eventual
implicação de agentes políticos e de funcionários públicos na maracutaia vem
sendo objeto de averiguação. Tem-se por certo que das diligências aflorarão
novidades ainda mais chocantes. Esta bem
sucedida empreitada Judicial e policial significa, sem dúvida, outro “round” vencido
pelo Poder Público no combate à criminalidade. Oxalá seja o “Fim da linha” para
uma parcela significativa dos inimigos da lei.
A história do “crime organizado” tem sua
origem em articulações deflagradas no recesso sistema penitenciário dos anos
70. A busca de melhoria de alojamento em presídios superlotados conduziu detentos
a formarem grupos na defesa de interesses comuns. Com o correr do tempo esses
agrupamentos passaram a atuar além dos muros dos presídios, utilizando
estratégias nos moldes da máfia universal. Criaram nas relações entre seus membros uma sensação de “pertencimento”
voltada para a acolhida do delinquente e seus familiares, disseminando um aparente
sentimento de confiança. A estrutura dessas facções abrange hierarquia,
planejamento “empresarial”, uso de meios tecnológicos, formação de quadros e definição
de atribuições. A demarcação de território é parte da logística. A “lei do
silencio” (ou seja, a “omertá” do implacável código da máfia matricial) imposta
aos integrantes é seguida à risca. O narcotráfico, o contrabando de armas, o
roubo de cargas e carros, os sequestros, os assassinatos de encomenda são,
entre outras ilicitudes as ações desenvolvidas com fitos rendosos. A bandidagem
vale-se da intimidação e corrupção para cooptar políticos e servidores
inescrupulosos. Segundo estimativas de estudiosos das questões da criminalidade, acham-se
em atividade no território nacional entre grandes, médias e pequenas 88
facções. Algumas delas com ramificações internacionais.
Jornalista (cantonius1@yahoo.com.br)
Um comentário:
No caso de Sampa, será preciso realizar as perigosas investigações...e concluí-las com as consequências cabíveis, mesmo que se chegue a alguma cabeça de ovo e seu padrinho, ex.
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