*Cesar Vanucci
“A Democracia pode não ser de todo perfeita, mas a ditadura é imperfeita no todo.”
(Domingos Justino Pinto, educador).
Em
1964, o Brasil desviou-se da trilha democrática e embrenhou-se num trevoso
período autocrático, que perdurou por alongados 21 anos. O regime instaurado,
de predominância militar, trouxe sobressaltos, desventuras e o clima de horror
que toda ditadura descarrega nos lares e ruas dos territórios sob seu férreo
controle. A negação dos direitos fundamentais que conferem dignidade a aventura
humana produziu prisões, torturas, mortes, desaparecimentos, exílios, cassações
de mandatos, censuras e arbitrariedades de toda ordem gerando o medo e
introduzindo no enredo cotidiano a asquerosa figura do “dedo duro”.
Parcela bem minoritária da sociedade não
hesita em proclamar, ainda hoje, vantagens de um regime de exceção no confronto
com o regime democrático. Sustenta que a “ordem” dominante nas tiranias
“contrasta” com a “desordem” imperante nos países regidos pelo Estado de
direito. Analise justa e correta dos fatos projeta uma realidade que reduz a
estilhaços a equivocada comparação. A “ordem” mantida a ferro e fogo,
violentando valores humanísticos e espirituais, impondo asfixiante silêncio não
passa de falácia retórica, que só beneficia os “amigos do rei”. Toda ditadura,
não importa seu matiz ideológico, se de direita ou de esquerda, amordaça a
mente, amargura o coração e vilipendia o espírito. Ambas são farinha do mesmo
saco. Verso e reverso de uma só moeda. Costuma-se dizer que a diferença entre o
regime de força de direita e o regime de força de esquerda é a mesma diferença existente
no sabor de duas apreciadas marcas de refrigerante, a coca e a pepsi.
Está visto, pois, que o sentimento
popular repele as lateralidades ideológicas, sempre incendiárias. Absorve
inteiramente o conceito esposado pelo grande Alceu de Amoroso Lima, o Tristão
de Athayde, de que a solução dos magnos problemas que afligem a humanidade não
virá jamais nem da esquerda, nem tampouco da direita. Só poderá vir mesmo do
Alto.
Ditadura,
nunca mais! No final do ano de 2022 e começo de 2023, quando da intentona
golpista arquitetada nos bastidores do governo que passou, as instituições
democráticas funcionaram de forma admirável, rechaçando com firmeza e altivez a
impatriótica investida. O espírito legalista das Forças Armadas ajudou, como é
de seu dever, a conjurar os perigos que rondaram a pujante Democracia
construída de 1985 para cá. A sólida união dos setores democráticos espantou
espectros saídos das sombras nostálgicas de um passado autocrático que
esperamos nunca mais seja revivido no cenário político da nação. Ditadura,
nunca mais!
Jornalista
(cantonius1@yahoo.com.br)
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